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16/09 O Barroco: espírito e estilo
Carlos Eduardo da Silva Ferreira

Resumo:
Reflexão: BOSI, A.Ecos do Barroco. In: ____História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix. P.29-52

“Estilo pós- renascentista e, nos países germânicos, pós- reformista.
A Renascença, do principio do século XV, assumiu configurações especiais a medida que penetrava nas nações.
No caso português e espanhol, os descobrimentos marítimos levaram uma concepção triunfalista e messiânica da Coroa e da nobreza. Durante todo o século XVI vincaram a cultura ibérica fortes traços arcaizantes.
É na estufa da nobreza e do clero espanhol, português e romano que se incuba a maneira barroco- jesuítica: trata-se de um mundo já em defensiva, organicamente preso a Contra- Reforma e ao Império filipino, e em luta com as áreas liberais do Protestantismo e do racionalismo crescente na Inglaterra, na Holanda e na França.
O barroco- jesuítico não tem nítidas fronteiras espaciais, mas ideológicas. Floresce tanto na Áustria como na Espanha, no Brasil como no México, mas não na arte da Suécia e da Alemanha cujo “barroco” luterano é infenso a extremos gongóricos da imagem e do som.
Não foi um mero retorno ao medieval, ao gótico, à mente feudal da Euriopa pré- humanística. A atmosfera do Barro está saturada pela experiência do Renascimento e herda suas formas: o classicismo e o maneirismo, triunfando o ultimo.
A negação da arte barroca pela sua “carência de conteúdo” é cega, pois é claro que o alheamento da realidade, a fuga ao senso comum, enfim o descompromisso histórico é também conteúdo.
Quanto à atitude formalista, atribui a priori um valor ao que se tomará por objeto preferencial, os esquemas, herdados pela tradição clássica e apenas transfigurados por força de um complexo ideológico. Em suma, desvalorizar um poema barroco é cometer o pecado de isolar espírito e forma, e não atingir o plano da síntese estética que leva nortear, em última instância, o julgamento de uma obra.
A imaginação estética vai compondo a obra em função de analogias sensoriais da paisagem e dos objetos. Há também os jogos de palavras, nos trocadilhos e enigmas. Há a obsessão do novo: valoriza-se naturalmente o que não se tem.
A poética da novidade tanto no plano das idéias (conceptismo) como no das palavras (cultismo) deságua no efeito retórico-psicológico e na exploração do bizarro.
O rebuscamento em abstrato é sem duvida o lado estéril do Barroco e o seu estiolar-se em barroquismo.
Na acepção estrita de “retórica pela retórica” Benedetto Croce esconjurou o Barroco definindo-o “forma prática e não estética do espírito” (isto é, da vontade e não da intuição)
Esse é um estilo voltado para a alusão (e não para copia) e para a ilusão enquanto fuga da realidade convencional.
Os recursos dessa visão de mundo são, na poesia, as figuras: sonoras (aliteração, assonância, eco, onomatopéia...), sintáticas (elipse, inversão, anacoluto, silepse...) e, sobretudo semânticas (metáfora, metonímia, sinédoque, antítese, clímax)
Há também a imagem barroca da vida como um sonho, como uma comedia, como um labirinto, um jogo de espelhos, uma festa, na lírica de Góngora, de Marino, de Lope. Em suma, entenderemos o triunfo da ilusão. “

O Barroco

“No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano.
É possível distinguir: a) ecos da poesia barroca na vida colonial e b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou realidade cultural quando a exploração das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica e Mariana.
     
A “Prosopopéia” de Bento Teixeira

A imitação de Os Lusíadas é assídua, desde a estrutura até o uso dos chavões da mitologia e dos torneios sintáticos. O que há de não-português (mas não diria: de brasileiro) no poemeto, como a “Descrição do Recife de Pernambuco”, “Olinda Celebrada” e o canto dos feitos de Albuquerque coelho, entra a título de louvação da terra enquanto colônia, parecendo precoce a atribuição de um sentimento nativista a qualquer dos passos citados.

Gregório de Matos

Têm-se acentuado os contrastes da produção literária de Gregório de Matos: a sátira mais irrelevante alterna com a contrição do poeta devoto; a obscenidade do “capadócio” (José Veríssimo) mal se casa com a pose idealista de alguns sonetos petrarquizantes. Conhecem-se as diatribes de Gregório contra algumas autoridades, mas também palavras de desprezo contra mestiços e de cobiça pelas mulatas. A situação de “intelectual” branco não bastante prestigiado pelos maiores da terra ainda mais lhe pungia o amor-próprio e o levava a estiletar às cegas todas as classes da nova sociedade. As suas farpas dirigiam-se de preferência contra fidalgos “caramurus” em que já acusa a presença de sangue índio.
Araripe Junior diz: “nada disso se encontra em Gregório de Matos. Pessimismo objetivo, alma maligna, caráter rancoroso, relaxado por temperamento e costumes, o poeta do ‘marinícolas’ verte fiel em todas as suas sátiras; e, apesar de produto imediato do meio em que viveu, desconhece a sua cumplicidade, pensa reagir enquanto apenas traduz, cuida moralizar quando apenas se enlameia”.
Em toda sua poesia o achincalhe e a denúncia encorpam-se e movem-se à força de jogos sonoros, de rimas burlescas, de uma sintaxe apertada e ardida, de um léxico incisivo, quando não retalhante; tudo o que dá ao estilo de Gregório de matos uma verve não igualada em toda a história da sátira brasileira posterior.”

Botelho de Oliveira

“Mas nada ilustra tão cabalmente a presença do gongorismo entre nós do que a obra de Manuel Botelho de Oliveira (1639-1711), também baiano e bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra. Deu a público em 1705 a coleção dos seus poemas sob o título de Música do Parnaso – dividida em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas e latinas, com seu descante cômico reduzido em duas comédias[...]
O virtuosismo em Botelho de Oliveira apela abertamente para os modelos da época, que ele cita no prólogo chamando-lhes o delicioso Marino, o culto Góngora, o vastíssimo Lope.
Sua obra “[...] reside no princípio da analogia desfrutado em todas as suas possibilidades; graças a ele, qualquer aspecto da realidade será refrangido em imagens tomadas a contextos semânticos diversos.
Os jogos analógicos remetem a uma perspectiva instável e ex-cêntrica do homem no mundo. Tudo se parece, e os extremos que se tocam podem fundir-se por obra da metamorfose, outro princípio iluminador dos processos barrocos.
Costuma-se lembrar de Botelho de Oliveira o poemeto À Ilha da Maré – Termo desta Cidade da Bahia, [...] descreve um recanto da paisagem baiana e alonga-se na exaltação do clima, dos animais, das frutas. O critério nativista privilegiou esses versos (que não raro afloram o ridículo) [...] um traço para afirmar o progresso da nossa consciência literária em detrimento da Metrópole.

Menores

Citação de outros escritores:
Frei Manuel de Santa Maria Itaparica (Bahia, 1704 -?), autor de Descrição da Cidade da Ilha de Itaparica. “Em Itaparica, menos do que uma voz do puro cultismo é mais acertado ver um fraquíssimo imitador de Camões e dos épicos menores do século XVII.
Diogo Grasson Tinoco, paulista. Escreveu um poema sobre o descobrimento das “esmeraldas”.”[...] depreende-se que a obra de Grasson Tinoco seria um documento estimável das bandeiras nos fins dos Seiscentos.
Frei Manuel Calado, autor de Valoroso Lucideno e Templo da Liberdade (1648), em louvor de João Fernandes Vieira, o herói português da resistência.

A prosa. Vieira

A prosa barroca está representada em primeiro plano pela oratória sagrada dos jesuítas. O nome central é o do Padre Antônio Vieira (Lisboa, 1608-Bahia, 1697). Figuras secundárias, [...] Padre Eusébio de Matos (Bahia, 1629-92), [...] Padre Antonio de Sá (Rio, 1620-78).
No fulcro da personalidade do Padre Vieira estava o desejo da ação. A religiosidade, a sólida cultura humanística e a perícia verbal serviam, [...] a projetos grandiosos, [...] todos nascidos da utopia contra-reformista de uma Igreja Triunfante na Terra, sonho medieval que um Império português e missionário tornaria afinal realidade.
Mal chega à Bahia a notícia da restauração, Vieira parte para Lisboa. Começava o compromisso com a tentação jesuíta de dar cobertura ideológica aos projetos do poder, [...]
No seu espírito verdadeiramente barroco fermentavam as ilusões do estabelecimento de um Império luso e católico, respeitado por todo o mundo e servido pelo zelo do rei, da nobreza, do clero.
Advogado dos cristãos-novos (judeus conversos por medo às perseguições), suscita o ódio da Inquisição [...]
De Vieira ficou o testemunho de um arquiteto incansável de sonhos e de um orador complexo e sutil, mais conceptista do que cultista, amante de provar até o sofisma, eloqüente até à retórica, mas assim mesmo, ou por isso mesmo, estupendo artista da palavra”.


Biografia:
Estudante de LETRAS na UNESP em Araraquara. Prof. no Cursinho Pré-Vestibular em Franca na Escola Estadual Torquato Caleiro.
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