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Confraria da Fronteira
Vera Ione Molina

Resumo:
Crônica que fala de reuniões de pessoas provenientes da mesma região quando vão morar na capital do estado.

Agrupar-se com fronteiriços ameniza o impacto da separação da terra natal

Vera Molina*

Faz umas duas semanas, fui convidada para ser amiga, no Orkut, da Confraria da Fronteira. Dei uma passada de olhos e observei que a maioria dos membros era de Uruguaiana, alguns eu não sabia se moravam aqui ou em Porto Alegre, mas a idéia de me reunir sob a bandeira desse nome que exerce tanto fascínio sobre mim foi irresistível. O “amigo orkutiano” assim se define: “A idéia da Confraria da Fronteira surgiu naturalmente, a partir do encontro de pessoas oriundas do interior do estado. Pessoas que vieram para a capital sem abandonar as suas raízes e seus valores. Pessoas que cultivam a hospitalidade, a espontaneidade, a simplicidade das relações afetivas... Queremos reunir esse povo e nada melhor que fazê-lo em torno da boa música. A Confraria da Fronteira não pretende ser uma sociedade fechada. Não nos importa de onde você venha; estamos de braços abertos a todas as pessoas que compartilham desses valores e que têm vontade de encontrar pessoas iguais. A nossa festa de lançamento dia 6 de agosto no Long Play é um grande partidor para essa idéia. Esperamos você lá”.
Eu não estarei nessa festa, porque não será em Uruguaiana e tenho muito trabalho a realizar aqui, mas volto no tempo e lembro que com a idade daqueles que me convidaram, eu morava em Porto Alegre, pensava que nunca voltaria para cá e sentia muitas saudades das ruas, das casas, dos cheiros de infância e até das decepções da juventude. Pensava muito em como minha vida teria sido diferente se eu tivesse feito isso, ou não tivesse feito aquilo, ou tivesse feito isso e aquilo ao mesmo tempo. Afinal, a gente passa grande parte da vida pensando no que poderia ter sido e não foi, até que acaba entendendo que foi como deveria ter sido.
Eles querem lançar a confraria com boa música. Quando fui morar em Porto Alegre, comecei a escutar música nativista, especialmente as da Califórnia da Canção Nativa e isso me despertava uma enorme nostalgia do que vivi e do que não vivi.
Certa vez li que a criação da música regional, dos CTGs e de tudo o que lembrava campo tinha a finalidade de amenizar o impacto do êxodo rural. Eu não era propriamente uma retirante, uma camponesa, era uma professora que cursava pós-graduação em Folclore; mas comecei a entender o quanto eu sentia necessidade de fazer parte de alguma coisa que me fizesse reviver a minha querência.
Foi durante essa época que me disciplinei no hábito da escrita e minhas ambientações giravam em torno desta terra. Minhas histórias infantis eram sobre meninos que viviam no campo, ou os personagens bichos eram galinhas e patos (imagens da minha própria infância) vivos, que eu sou de um tempo em que se via matarem galinha para comer. Ia a bolichos, armazéns, não a supermercados comprar carne congelada. Minhas letras de música eram pensando nos festivais nativistas, meus contos tratavam de personagens rurais e, nas minhas novelas, as personagens estavam sempre entre a Fronteira e Porto Alegre.
Por isso tudo me sinto na Confraria da Fronteira, onde encontrei também pessoas nascidas em Porto Alegre, mas com raízes no interior. Eles devem ter tido mães e pais que escutavam músicas do Grupo Farroupilha, dos bons tempos da Califórnia da Canção Nativa e de tudo que ela inspirou.

*Professora e coordenadora de oficina literária


Biografia:
Vera Ione nasceu em Uruguaiana, onde é presidente da Academia Uruguaianense de Letras. Mudou-se para Porto Alegre nos anos 70 e graduou-se em Letras na PUC. Em 1994, concluiu o curso de pós-graduação em Teoria da Literatura na PUC, RS. É professora de inglês e trabalha com orientação a escritores via Internet, revisão e tradução de textos literários e trabalhos acadêmicos. Teve livros infantis, livros de contos e novelas publicados, além de integrar várias antologias de poesia e contos. Foi finalista do Concurso Nacional de Literatura Infantil João de Barro, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, MG, 1983; Concurso Estadual Escreve Professor, promovido pelo CPERS Sindicato, 1989; Concurso Binacional MOVIARTE 90, da Prefeitura Municipal de Pelotas e Canelones, Uruguai; Prêmio Guimarães Rosa, Rádio France Internationale, Paris, França, 2001 e Concurso Nacional Alpas de Romance, Cruz Alta, RS, 2001.
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Publicações de número 1 até 5 de um total de 5.


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