Pela manhã, Clara saiu de casa rumo ao trabalho no carro que ganhara do marido, quando fizeram cinco anos de casados. Ela estava preocupada com o horário. Conferiu as horas e viu que estava atrasada.
Apressou-se. De repente, se lembrou de que era o dia do aniversário da irmã. Precisava comprar-lhe um presente. Clara nunca deixava o aniversário da irmã passar em branco. Por algumas vezes chegou a perguntá-la o que queria ganhar, mas a irmã nunca sugeria um presente de verdade, deixando sempre para ela decidir. Uma preocupação a mais para aquele dia.
Depois de vencer o engarrafamento do trânsito, finalmente, chegou ao trabalho. Reconciliada, consigo mesmo, sentou-se diante do computador e começou o seu trabalho rotineiro. por um momento, foi tomada pelo pensamento de que não poderia se esquecer do presente da irmã.
No intervalo do almoço aproveitou-se para dar umas voltas pela cidade a procura de algo para a irmã. Passou por muitas lojas. Parou em frente a uma ou outra mais movimentada, observou as vitrinas, entrou em algumas, comparou produtos, mas não encontrou nada que lhe agradasse ou que pudesse agradá-la. Saiu resmun-gando pela rua.
Passavam-se das oito horas da noite quando chegou em casa sem ter comprado nada. Atrasara porque antes estivera em outras lojas, e como da vez anterior nada achou de interessante. Tinha que achar alguma coisa logo, pensou. Mas não sabia como. De súbito, teve a idéia de pegar um dos presentes que ganhou no seu aniversário e que nunca tinha usado e levar. O primeiro que veio a sua mente foi um gato de porcelana que ganhara de alguém no seu ultimo aniversário. Detestou aquele gato e por isso, o abandonou no fundo do guarda roupa, ainda dentro da caixa. Não sabia quem lhe dera aquele presente cafona. Definitivamente, não gostava dele. Levaria o gato de porcelana para a irmã. Com essa decisão sentiu-se aliviada. A irmã iria gostar do presente, ela sempre foi muito chegada nestas coisas cafonas.
Pensando assim entrou no banheiro, apressada. Saiu meia hora depois, cantarolando alguma coisa que ouviu no rádio do carro. Acabara de vestir, quando o marido gritou que estavam atrasados.
Já passavam das dez horas da noite quando finalmente chegaram à casa da irmã. Ela atendia a um telefonema. Ao vê-los, fez sinal para que entrassem. Depois, sorridente veio ao encontro deles para receber os cumprimentos. Primeiro os para-béns, depois os abraços e finalmente o presente com o pedido de não reparar.
Quando a irmã abriu o pacote e viu que o presente que ganhara era o mesmo que dera a Clara no dia do seu aniversário, ficou decepcionada. Procurou disfarçar sorrindo, mas não conseguiu, mesmo sem dizer nada. Não encontrou palavras. Clara entendeu o que tinha acontecido e tentou se explicar. As duas irmãs, diante daquela situação hilária, caíram na gargalhada e deram o caso por encerrado.
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