Palíndromo
Aqui repousam as saudades.
O palíndromo da Maria era doce feito lima. Tomou traseira como já se usou dizer, não só, mas com as duas damas mais um pequeno valete. Vinham lá do Major, o Zé que era, das terras brancas. Do espelho se via seu rosto pleno de manchas, e buscava-se ver mais alguma coisa, porém, sem êxito. A prosa ia boa por ali a fora, ganhou-se o “ Lugar onde o peixe pára “ e de lá rumaram para cidade maior da região, um dos berços da fusão metálica onde Guido Thomas Marliére e outro, despontando praticamente mais o nome do outro, um tal de João que também estudou em França, fizeram fogo e derreteram o que havia para derreter. Lá se entregou a carga. Da prosa ficou sabendo que ela era lá da rua do Governador, que o primeiro nome era homônimo do Santo Preto, acrescido de sobrenome muito conhecido, residindo com seu Zezinho mais a mãe e irmã, já que o irmão na cidade onde deixara a carga morava com uma tia. O número, só você vendo, era meio cento de canas com meia dúzia de limas. Se isso se registrou, melhor foi feito, pois, embora a chuva por aqueles dias e noites desse o que tinha, em uma tarde em que por lá se arriscou a ir, com todas as melhores das intenções, atravessou o patrimônio, volteou ao final da rua defronte à igreja, pintadinha de branco, com portas e janelas azuis, lindinha mesmo, que só vendo, ficando de cara para a saída novamente. Ali inquiriu sobre um indivíduo que levava e trazia o povo em seus mal-cuidados veículos, tendo como resposta, que já sabia, que o mesmo lá não se encontrava. Marcou presença no lugar como alguém que estava à procura do Nonô. Vira então, lá chegando, tratar-se de pequeno povoado, enfeitado por u’a moça à janela da tal moradia. Inquirindo-a soube tratar-se da irmã da dita cuja, e que levava como nome , “ aquela que cumpre a promessa “. Essa saindo pelo pequenino portão de entrada deu mostras de que realmente prometia. Estatura média, pernas e lábios grossos, busto de bom tamanho, cintura fina e traseiro que dava água na boca. Ah, se isso tudo ela prometesse... e realmente cumprisse... a procurada mais tanto não seria. A irmã tão zelosamente procurada não se achava, estava em aula; era professora, mas agora , como aluna, aprendia a tocar flauta. Sabe, durante todo aquele tempo nunca deu mostras de ter muita afinidade com o instrumento...
E o tempo, bem, o tempo não pára mesmo, não é? Foi passando e passando e lá, um belo dia, eis que chega àquelas plagas não tão distantes, missiva cheia de poesias e versos soltos, iniciando-se então um bom bate-papo pelos papéis perfumados, letras bem desenhadas e assuntos de todas as naturezas.
Pelos caminhos da 884 passearam vários em vais e vens através dos tempos e eis que um belo dia surgiu a grande oportunidade de se aventurar em algo mais profundo. Em águas d’antes nunca navegadas. E navegaram e navegaram e jamais se chegava a um porto. Sempre que havia oportunidade navegava-se até fartar; até adormecer placidamente lá pelo Avenida ou outro qualquer tipo Aristarco ou Benito. Que beleza. Que maravilha. Hei, mares d’antes nunca navegados pelo viandante; outro, porém, marinheiro que por ali primeiro aportou, já lograra singrar aquelas águas. Doces águas. Dizem que o importante não é ser o primeiro a provar da grama fresca no piquete, mas, o último, o que fica com ele até se fartar. E se fartaram.
Tem gente que não gosta de se lembrar das coisas tristes. Há, porém, os que gostam, assim como há os que têm indiferença.
Lá pelos dois anos passados havia doce de leite p’ros lados da Estação Rodoviária. Alguém precisava levantar ferros. Precisava partir. Por que partir não era a questão. Era tarde. Precisava de meios para partir. Aquela noite ainda. Ninguém foi lá para dar o apoio necessário. Daí ficou aquele sentimento de perda que nunca mais se recuperou. Ela partiu mesmo e foi naquela noite; como? Não se sabe. Mas que partiu, partiu mesmo; era um palíndromo. Voltou para de onde veio... e continuou sendo ela mesma.
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