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O Manifesto da Arte
Vicente Miranda

A Arte divaga no fim do começo
e vai além. Desvenda no que esconde,
vai às montanhas, entra em cavernas,
sobe nos telhados e a todos diz:
- Eu sou a Arte, não simples parte.

Há Arte na voz que cala
e no silêncio da multidão que fala.
A natureza se despe com Arte.

Vê-se Arte nos teus olhos,
roda de bicicleta sobre a cadeira,
no prédio de vinte andares
e no barraco de madeira.

A Arte não tem medida.
A Arte é atrevida.
Mora no fim do mundo
ou num puteiro imundo.

É a palavra que falta no verso.
É o retrocesso da vã guarda.
AnteArte, Arte, AntiArte.

Arte antítese da Arte.
Com a cabeça enterrada no chão
toca as estrelas e vê o inferno.

Uma letra esquisita,
um pingo na tela
e todas as cores
de uma aquarela.

O teatro de revista
e o cinema novo:
a Arte revela-se ao povo.
A Arte dos andarilhos:
Hermeto, Sivuca, Carrilho.
A Arte de pé em pé:
Maradona, Zico, Pelé.
A Arte como ela é:
Tom Zé, Noel, Noé,
Patativa do Assaré.
A Arte encontra lume
em Manos, Browns e Antunes.

A Arte rouba a cena,
inverte o problema,
ganha o dinheiro que joga no lixo.
A Arte vive, não morre,
não perde o foco.

A Arte do improviso:
Aragão, Golias e Anísio.
A Arte dos palhaços belos:
Oscarito e Otelo.
A Arte pela candura
é Carlitos em suma ternura.

A criança sorri e a entende,
o homem a banaliza,
A Arte é imprecisa
escrava que se escraviza.

Há Arte num prato vazio,
num vaso de flôres,
no adeus tardio e
no fim dos amores.

Vai a festas sem ser convidada,
nas portas é barrada,
alguns a deixam entrar,
pobre de quem a quer rotular.

Há Arte onde não há Arte,
lugar nenhum, em toda parte,
Arte bendita Arte,
no encontro casual,
no Fundo de Quintal,
na roupa no varal,
na conjunção carnal,
é algo visceral.

Coma Arte, beba Arte,
durma Arte, sonhe Arte,
transe com a Arte.

A Arte eleva a mente
e infecta os ossos.
A dúvida do Eco de Cecília,
a Pedra no Caminho de Drummond,
os bons mineiros no Clube da Esquina,
Vinícius, Jobim, João,
a Tropicália deliciosa dos doces Baianos,
Pixinguinha, Bandolim, Jackson e os Gonzagas.
A Arte tardia e tranqüila
de Cartola e Coralina.
O "cinquecento" é brasileiro
Viva Aleijadinho!
Arte se faz com Arte
Salve Portinari!

Lógica hipócrita,
dúvida exótica,
desleixada e emproada,
mãe e puta,
santa e bruxa.
A Arte é louca,
afinada e oca,
é tijolo na vidraça,
um jogo de trapaças.
Memórias Póstumas de Quaresma,
Triste fim de Brás Cubas,
a Arte se funde em prol da Arte,
faz e desfaz,
movimenta mãos, bocas, pés, vidas e...
idéias.

A fé é Arte, o Amor é Arte,
o ódio é Arte, nós somos Arte.

A noite, a lua e a mulher.
O menino, o velho e o sino.
As bandeiras e o bardo Bandeira.
A alma, a arma, o sim e o não.
O talvez, o depois e o senão.
O plástico, a pedra e o carvão.

Um bar cheio de bêbados solitários.
O altar de uma igreja.
O leite derramado e espúrio.
O mal, a culpa e a inveja.

A Arte é alegremente triste,
existe onde nada existe,
não defende, não define,
apenas se entrega ao artista,
mesmo quando este não a quer.

Deus impulsionou a Arte
quando lançou um anjo rebelde na Terra.

(In: O Perfume do Tempo, 2005)


Este texto é administrado por: Vôgaluz Miranda
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