Dourava a irmãzinha insonte,
que brincava aos pés do monte.
Num lago de águas escuras,
aos cantos das saracuras.
E sequiosa a mãe que a amava,
a ela arquejante falava:
-Criancinha ... enleva não,
canta aquém, ao coração!
Puro bálsamo guardada,
no seio da mãe amada.
Pois do lago o nevoeiro,
era um manto traiçoeiro.
Que trouxe à terra alegria ...
De alma afeita em simpatia...
Com seu hálito de amor,
como a brisa de uma flor.
Toda feita bonequinha,
de hálito de princesinha.
Cabelinhos cacheados,
qual o sol, eram dourados.
Com olhos de anjos alados,
viam um céu, encantados! ...
No êxtase daquele enleio,
no sonho daquele seio.
Do jardim era uma flor,
que eu brincava com amor.
Na lama, ao pó, no carvão,
eu pegava a sua mão.
E o pirilampo que via,
era ao breu feio e temia.
Do estranho ser eu cuidava.
Oh, meu Deus! ... como eu a amava!
Pressentia a luz do céu,
a abarcá-la como um véu.
Tenros lábios que entreabria,
mas insonte, só sorria.
E como um raio em furor,
entre o colibri e a flor.
O anjo dos raios de Deus,
levou-a nos braços seus.
Eis, um dia a mãe chamou,
e do lago não voltou!
-O que terá acontecido,
para não ter respondido?
E pobre mãe, que chorando,
sobre as águas procurando.
Aconteceu! ... eis deitada.
Lábios sem vida, afogada!
Mãe de face desmaiada,
trementes lábios, mirrada.
Abraçou-a em seu torpor.
-Ai meu Deus! ... ai, quanta dor!
Alva face como a lua.
No céu, novo anjo flutua.
-Ai meu Deus! ... ai, quanta dor,
cortaram a minha flor!
Qual criança que dormia,
sob a abóbada jazia!
Dormiu neste chão imundo,
para acordar no outro mundo.
Vê-la alva sobre o caixão,
fria, explodia emoção!
-Ai ... que dor ... sobre o altar!
-Ai ... se pudesse voltar!
Tão pálida a mãe chorou.
Tenro ser à luz voou.
Tornou-se uma estrela amada,
no céu, fina luz dourada.
Seu corpinho ao chão dormia,
mas no céu com Deus sorria.
-Mãe, irmãos, não chorem ... não!
Deus segura a minha mão!
Findou no luzir dos círios,
a flor no afã dos delírios.
Partiu ... benzinho! Partiu!
Eu sei ... foi Deus, quem pediu!
Pranteou triste o cãozinho,
farejando o pó, sozinho.
Uivava da noite ao dia,
àquela ... foi ... quem sorria.
Deitou-se no último leito,
de água a inundar o seu peito.
A luz da nova aliança,
levou a linda criança.
Agora é um anjo de luz.
Uma estrela que reluz.
Cheia de céu e de lume,
exalando o seu perfume.
Irmã Nelci Teresinha.
No céu, é uma princesinha.
Banhada de paz e luz,
Aos pés de Deus e Jesus.
A partida II
No arrebol do sol se por,
uma criança morreu.
De tristeza o sol, e em dor,
numa nuvem se escondeu.
Triste a nuvem pranteou,
e a terra deixou molhada.
Plúmbea e insana se tornou.
Gemia à noite gelada.
Com cabelos tão lindinhos,
com uma rosa enfeitada.
Amparada dos anjinhos,
assim fora sepultada.
Tinha melena dourada,
cacheada qual anjinho.
Íris cerúlea encantada,
que luzia amor ... carinho!
De sorriso em harmonias,
tinha música de lira.
Consonantes alegrias,
a mais alva que se vira.
E suspirava ... e dormia,
linda na paz da mãezinha.
E despertava ... e sorria.
Era linda criancinha!
-Tu deixaras quanta dor,
que sem vida ao chão caíste.
Qual cai a cortada flor,
roubada a vida tu viste.
-Da mãezinha sobre o seio,
tu tomaste pouco leite.
Embalada, era o anseio,
o teu néctar com deleite.
-Tenra idade tu partiste,
como as flores das figueiras.
Murchas, vão à leiva triste,
deixam frutos nas rameiras.
-De frescor da viração,
quando foste para o céu.
Pó tornou-me o coração,
embalsamado num fel.
Onde fora sepultada,
junto à lápide no chão.
Fora uma rosa plantada,
à sua alma em intenção.
Leda a roseira cresceu.
Saiu a primeira flor.
Serena ela apareceu,
qual a melena, era a cor.
Porém não se imaginava,
a rosa não se esquecia.
Para o céu sempre fitava,
qual criança que jazia.
Aquém, Deus! ... é grande a dor.
Noites e dias passaram.
Não importa, meu amor ...
as lembranças me abarcaram!
-Deus te guarde meu anjinho,
dentro do Seu coração.
E lá, vejas meu carinho,
que voto com emoção.
-Tua imagem sempre vejo,
lá nas nuvens embalada.
E daqui te jogo um beijo,
na tua face encantada.
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