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Atos de um drama que não se finda
José Luiz da Luz



Atos de um drama que não se finda

I
Havia o Rei Per Se, de um trono solitário!   
Altivo outrora, qual a cruz do campanário.
No seu reino de espadas, flutuavam jóias.
Degustou à farta, dos veludos e glórias.
Mentiu! ... o trono eterna azáfama luzente.
Pensava ser rei à morte, ao corpo jacente.
Mas curvara ao ver a Rainha Ara, sem vida!       
Lívida, sem cetro, sem coroa, pungida!
Do filho ao ventre nu, o peito feneceu.   
Dos portais do coração, o sangue escorreu.
Como as luas sobre o oceano solitário.
Voou aos mistérios, deixando o seu sudário.   

II
Entre o Rei e àquela madona, havia amor!
Que suspirou na agonia do quarto à dor.
Lembrando-a nos nevoeiros da cerração.
Que fluía das cavernas do coração.
Pobre Rei! ... tão convulso, à espreita disfarçado.
No vácuo do reino, qual um sino curvado.
Fizera-se ebrioso nas torres sombrias.
Desvairado em gemidos nas noites bravias.
E o pajem da corte, afeito às noites douradas.
De forte apiedou-se, em prantos assolados.
Sufocou-se-lhes a voz na garganta: Adeus!
Porque ela aquentava os lábios do Rei dos seus.

III
Às vagas, junto das ondas o pajem viu.
Que ébrio o rei, desmaiado na água submergiu.
Nos braços o tomou, levando ao capelão.   
Gemendo acordou, confessou-lhe o coração.
-Vida, eis que é breve! ... morte, eis o que nos destina!
Seremos? Ser o não ser? Tudo ou nada a sina?
Eternidade, ou o ser findará de vez?
Cismava os mistérios da morte em languidez.
O Capelão Sextus, supunha ser irmão.
Da própria Rainha, e usou da posição.
Teceu cilada para tomar-lhe a coroa.   
E para o Príncipe herdeiro, deixa-lo à toa.


IV
O capelão instigou-o, à rainha alçar.   
Do cemitério, fria, o seu corpo tomar.   
E pô-lo no átrio, num caixão de ouro lustral.
Cingido por uma redoma de cristal.
Fidalgo astuto, à espreita ditou ao arqueiro.
Que havia voz na campa de estranho brejeiro.
O bravo despiu uma flecha reluzente.
E desferiu-lhe no peito carnudo e quente.     
No clarão do archote, com a aproximação.
Exauriu-se ao reconhecer seu Rei no chão.
Abraçado à rainha lívida sem vida.
Com a amarga flecha no coração dorida.

V
Seu hálito, as últimas ditas discorreu.
-Finda-se aqui nesta noite, o que Deus me deu.
Sombras da morte já fenecem meus sentidos.
Vidrando os olhos, emudecendo os gemidos.
Não temo mais a noite, vou em paz voar.
Bravo, guarda o meu filho das vagas do mar.
Arqueiro, em guarda! Fiel acertou meu peito.
Mescla a tua lágrima com meu sangue afeito.
Desfaleceu, dormiu!... à rainha abraçado.
Pela treva da culpa o bravo arqueiro alçado.
Com a boca convulsiva soltou um grito.
Ao uma flecha cravar-se, no peito aflito.

VI
E o capelão fez covas e os três enterrou.
Foi ao paço e, no suntuoso portal bramou.
De coroa real, no trono auto empossado.
E para provar ser um Monarca enviado.
À plebe falou ser apóstolom divino.
Pura linhagem de São Pedro peregrino.   
Com rotas letras, vetor de Roma eloqüente.
À alcunha de semi-deus, um puro demente.
E fez de Bobo da corte o Príncipe herdeiro.
Que na longura do suplício verdadeiro.
Jovem, fugiu a uma ermida. Ser eremita!
Meditar, buscando a sapiência bendita.    

VII
Um bastardo Rei, mas que o posto não pudesse.
Dizer-se adotivo, que não se reconhece.   
Feito Rei, leu nas letras confidenciais.    
Que aceito fora capelão aos serviçais.
Contudo, que tinha jus ao trono aventava.   
Como um enviado divino, assim reinava.   
Vivia e envelhecia, com a cruz e a espada.
No ócio da nobreza vendo a gleba suada.   
Teve seis filhos bastardos, todos morreram.      
Seis é um número impuro, uma filha esconderam.   
Pois o Rei e os seis cometeram desiguais.
Todos vis, os sete pecados capitais.

VIII
O rei: soberbo, ardia verbos de desdita.
De ecos nos filhos, como blasfema maldita.
O primeiro: glutão, morreu louco do ventre.
O segundo: vaidoso, morreu constringente.
O terceiro: irado, morreu de depressão.
O quarto: avarento, morreu de inanição.
O quinto: luxurioso, morreu na orgia.
O sexto: preguiçoso, morreu de atrofia.
Macilento sobre o trono, o Rei assombrava.
De rir-se, queimado de febre delirava.
Pois um a um, seus seis arcanos feneceram.
E a filha de mistério, nos véus esconderam.


IX
Um dia ao reino um estranho pede entrada.
E a frente vem a bravíssima guarda armada.
Era um monge no aspecto, com uma cruz no peito.
Se passivo, viço ao campo, seria aceito.
À leiva, juntou-se aos pobres trabalhadores.
De face alva revelou-se-lhes os pendores.
Que instruído nos provérbios de Salomão.
Nos mistérios, Davi, Sócrates e Platão.
Trazia todo o resumo da esfinge na alma.
De olhar penetrante, mas que exalava calma.
Sábio, carismático, a todos cativou.
Viram que era o Príncipe, que sábio voltou.


X
E o sábio Quum, vendo um abutre que subia,     
olhando a morte de um bicho que se torcia.
Mostrou lhes a lição, que sem ser águia astuta.
Com cautela e paciência se vence a luta!
E traçado estava sem sangue a derramar.
Às sendas do sagrado, o reino retomar.
Com água, azeite e incenso, emblemas do infinito.
Magia de luz poriam no rei aflito.   
Bastardo Rei Sextus, de olhares tão convulsos.
Que o sangue inimigo fartava seus impulsos.
Era a devassidão que os seios dominavam.
Ao mormaço do vinho, ilusões que voavam.

XI
Uma guerra oculta, numa noite ao luar.
À espreita a multidão, e o príncipe a guiar.
De água impregnaram: o pão, vinho e os celeiros;
De azeite: o castelo e as armas dos arqueiros;
No átrio: sete piras de incenso fumacento.
Azedou o vinho, mofou todo o alimento.
Do azeite, o rei fez-se um Bobo, andava e caia.
Deslizava a flecha, o arqueiro se perdia.
O olor do incenso espalhou qual a aluvião.
Enleava-lhes a alma, a mente e coração.
Macilentos um a um rogaram clemência.
E o Rei Sextus jogou-se da torre em amência.

XII
E o Príncipe foi Rei. Todo o reino encantou.
Do mofo dos celeiros, a gleba adubou.
Todo azeite, com cinzas de incenso extraiu.
No trono perfumado, sentou-se e luziu.
E a dos véus, surgiu e adoçou sua razão,
filha do Rei Sextus, atou seu coração.
E o que ela queria? Deixo-vos um mistério! ...
Se anjo ou demônio, ira ou paz, cômico ou sério?
São histórias que se perpetuam doridas.
Amor, ódio, poder, morte, traição, feridas.
Um Príncipe exilado, que em sábio se fez.
E um Rei bastardo, que da torre se desfez.
    
                                FIM.


Biografia:
joseluizdaluz@yahoo.com.br José Luiz da Luz. Nascido em 04/09/1964 na cidade de Ipiranga Paraná. Poeta e contista. Autor do livro de poesias Lira Romântica. Considerado um dos melhores poetas do Brasil pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores do Rio de Janeiro. Tem participação em mais de vinte prêmios literários pelo Brasil. O poema Páginas da Terra, é a obra mais polêmica, abordando de forma profunda a miséria humana.

Este texto é administrado por: Comendador José Luiz da Luz
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