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Resenha do romance Ponte do Galo
Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues

Resumo:
Dalcídio Jurandir nasceu em Ponta de Pedras, em 1909. Em 1910, a família já estava em Cachoeira do Arari , onde o futuro romancista viveria até 1922, quando partiu para Belém, com o intuito de dar continuidade aos estudos, que acabam por ficar incompletos. O escritor e jornalista, a partir daí, seria um autodidata. Viajou mais tarde para o Rio, precariamente, mas lá não pôde se fixar, retornando a Belém. Foi preso por convicções políticas, na década de trinta, pois era comunista convicto. Foi laureado com importantes prêmios de literatura, como o Vecchi-Dom Casmurro, o Paula Brito, O Luísa Cláudio de Sousa, o Machado de Assis (da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra), entre outros. Publicou onze romances, dez deles compondo o Ciclo do Extremo-Norte, que são Chove nos campos de Cachoeira (1941), Marajó (1948), Três casas e um rio (1958), Linha do parque (1959, este fora do Ciclo), Belém do Grão-Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira manhã 1967), Ponte do Galo (1971), Os habitantes, Chão dos Lobos (ambos de 1976) e Ribanceira (1978). Faleceu, deixando planos para continuar sua obra, a 16 de junho de 1979, no Rio de Janeiro. Em 2008, recebeu como homenagem, a criação do Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura, da Secretaria de Cultura do Pará.

JURANDIR, Dalcídio. Ponte do Galo. São Paulo: Martins [RJ] INL, 1971, 176 p.

Dalcídio Jurandir nasceu em Ponta de Pedras, em 1909. Em 1910, a família já estava em Cachoeira do Arari , onde o futuro romancista viveria até 1922, quando partiu para Belém, com o intuito de dar continuidade aos estudos, que acabam por ficar incompletos. O escritor e jornalista, a partir daí, seria um autodidata. Viajou mais tarde para o Rio, precariamente, mas lá não pôde se fixar, retornando a Belém. Foi preso por convicções políticas, na década de trinta, pois era comunista convicto. Foi laureado com importantes prêmios de literatura, como o Vecchi-Dom Casmurro, o Paula Brito, O Luísa Cláudio de Sousa, o Machado de Assis (da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra), entre outros. Publicou onze romances, dez deles compondo o Ciclo do Extremo-Norte, que são Chove nos campos de Cachoeira (1941), Marajó (1948), Três casas e um rio (1958), Linha do parque (1959, este fora do Ciclo), Belém do Grão-Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira manhã 1967), Ponte do Galo (1971), Os habitantes, Chão dos Lobos (ambos de 1976) e Ribanceira (1978). Faleceu, deixando planos para continuar sua obra, a 16 de junho de 1979, no Rio de Janeiro. Em 2008, recebeu como homenagem, a criação do Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura, da Secretaria de Cultura do Pará.

Resenhista: Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues

A história do romance Ponte do Galo se passa no início da década de 1920 e divide-se em duas partes, às quais o autor não deu título. Na primeira (que vai da página 03 à 120), o personagem central Alfredo regressou de seus estudos na capital, Belém. Ele tem nesse momento 17 anos, já é um ginasiano da segunda série   e retornou para Cachoeira com o intuito de passar as férias no chalé dos pais, o Major Alberto Coimbra, e dona Amélia, esta que se empenhou como pôde em realizar o sonho do filho de ir estudar na cidade grande.
     Na pequena Vila onde nascera, Alfredo passa o tempo revendo personagens familiares, como o tio Sebastião, irmão de dona Amélia, e outros da redondeza, como o Salu da venda, Dadá, Rodolfo e Didico (irmãos de Lucíola, a solteirona suicida que queria criar Alfredo como seu filho) e a prostituta Sabá Manjerona, entre outros conhecidos do personagem. Todavia, acima de tudo, o ginasiano permanecia mesmo era dentro de um recinto do chalé, a saleta, nicho que tomaria para si nesse período, com toda a nostalgia de ter sido espaço de predileção de seu irmão, Eutanázio, morto após quarenta dias de agonia. Era esse também o espaço preferido de seu pai, onde ficavam seus catálogos e livros, além da tipografia.
     Instigado por dona Amélia a sair de casa, a dar um passeio, Alfredo teve encontros marcantes com pessoas com quem manteve conversa, pontos altos dentro da narrativa. Foi à casa dos irmãos Saraivas e lá encontrou Dadá, que reclamou, dizendo-se farta da cidade, remoendo mágoa por uma Belém da época em que a vida era mais promissora para sua família. Falou também com o Salu da venda do trapiche que, entre outras coisas, contou a Alfredo que não podia mais ler, pois tinha a vista e a curiosidade cansadas. O cupim é quem lia então seus livros. Encontrou na lagoinha Didico, que lhe disse, mentindo, ter dado seu barco. Encontrou muitos outros personagens que povoavam a cidadezinha de Cachoeira. De todos eles, destaque se dê à Sabá Manjerona, uma prostituta, que lhe facilitou um ‘encontro’ com uma mocinha da idade dele, página entre lírica e erótica do flanar de Alfredo pelas noites cachoeirenses.
     Além do encontro e da conversa mantida com seu tio Sebastião, que lhe pediu segredo de sua estada por ali, destacam-se os momentos memorialísticos do filho do major Alberto. A mente se dispersa e ‘viaja’ para Belém, para suas ruas suburbanas, perdendo-se em digressões, em questionamentos sobre o paradeiro das personagens Luciana e Andreza, sobre Edmundo e sua lenda, a cavalgar no lombo do búfalo e levar embora consigo as moças de Cachoeira, sobre enfim seu desalento com o tipo de ensino obrigado a ‘assimilar’ no ginásio.
     Pela atitude pacata, sonhadora e passiva de seu pai diante da vida que levava em Cachoeira, o filho não recebia a atenção paterna desejada, como por exemplo a resposta que queria às cartas enviadas de Belém. Por isso, era com a mãe que Alfredo procurava dialogar. Sendo o pai branco e letrado, totalmente diferente da mãe ― negra e iletrada ―, era de se imaginar que ele é quem deveria responder aos questionamentos do filho. Contudo, esse alento somente encontrava na figura de sua mãe. Esta, em dado momento, relembrou e lhe contou o fim de uma história que ficou por terminar quando diante dele, Mariinha e Andreza, ainda em Três casas e um rio, perdeu o fio da meada e prometeu para mais tarde terminá-la. Trata-se da história oral “O velho e o lilás”.   
     A segunda parte do romance (da página 121 à 175) situa Alfredo já de volta aos estudos em Belém, cidade antes de encanto para o menino, que aos poucos se transformou, aos olhos do adolescente, em desencanto. Então sua ‘musa’ deixou de ser uma cidade de sonho (como lhe pintaram Belém em Chove nos campos de Cachoeira ), para se tornar uma cidade de periferia, noturna, feia, cidade pós-lemismo , decadente e labiríntica para um Teseu que não encontra sua Ariadne, muito menos o fio a lhe guiar na sua busca por Luciana (CHAVES, Ernani, 2006, p. 40). Dona Santa, sua filha dona Dudu, suas netas órfãs Ana, Nini e a sobrinha ausente sempre presente Luciana vivem e emanam vida na voz e na mente do narrador e de Alfredo, possibilitadores, os dois, de nosso passeio ― como leitores que somos ― por uma ponte interligadora entre o Alfredo menino e o Alfredo adolescente.
     Assim como em Cachoeira, pontos altos são os encontros e conversas marcantes com inúmeros personagens pelas noites do subúrbio belenense, no perambular sem fim do ginasiano pelas ruas principalmente do Telégrafo, ali pelas proximidades da Ponte do Galo. De dia, entre o ir e o vir de Alfredo do ginásio, estava sempre ao telefone a dona Brasiliana, sempre a falar alto, a alardear suas influências com os poderes públicos, a dar opinião sobre a “questã” de terras do Cel. Braulino Boaventura ― o Cel. Delabençoe―, sobre a enjeitada filha deste, Luciana, tentando saber de Alfredo alguma informação sobre esta.
     Ao perambular de dona Santa pela noite, sempre no seu trabalho mal remunerado de parteira, junta-se a busca zelosa por suas netas, Nini e Ana, principalmente esta, sempre à procura de um velório. Muitas vezes, Alfredo acompanhava a idosa. Outras, o filho de dona Amélia ia sozinho, no que encontrava Ana, sempre a escapulir deste. Nessas caminhadas, era possível ver Zuzu, embaixo da jaqueira, a se defender dos moleques que a perturbavam. É bem patente a chamada de atenção do narrador para as roupas rasgadas e sumárias de Zuzu, a denunciar sua extrema pobreza.
     Às conversas com dona Dudu, esta costurando sempre e sempre criticando a ingenuidade da mãe dona Santa em relação às netas desta, junta-se a conversa com Esméia, a que queria conhecer o palacete do Cel. Delabençoe, e acaba por convencer Alfredo, que a conduz pela casa às escuras no fim de Ponte do Galo, quando são por Ana flagrados, escapando de dentro da casa, pulando a janela da frente, quando temos o epílogo do romance, com estas palavras bem significativas e quase proféticas, proferidas por Ana:   “― Botaram vocês dois pela janela?”
É possível a errônea inferência de que o tratamento dado ao espaço de Cachoeira seja mais enfático que o dado ao de Belém, em face da disparidade de quantidade de páginas a mais dedicadas à primeira parte do livro, que é de 117 páginas, em oposição às 54 da segunda. Mas a intersecção dos espaços (termo que apanho emprestado de Michel Foulcault) anula essa impressão e o espaço belenense avulta em importância no romance.
     Embora constitua o sétimo livro do Extremo-Norte, Ponte do Galo, no nosso entender, pode ser lido isoladamente, por compor um todo íntegro em seu universo ficcional. No entanto, sendo assim parte de vasta obra cíclica, sua leitura pode e ― mais que isso ― deve ser feita no contexto do ciclo do qual o livro faz parte, com isso ganhando o leitor um redimensionamento de compreensão, um enriquecimento mesmo do processo de recepção da obra do romancista marajoara, o que pode levá-lo a considerar esse romance como um rio afluente cujo curso deságua em um rio maior, que é o conjunto das dez obras. Assim, as águas que passam por Ponte do Galo (tomando-as aqui como uma figuração da passagem do tempo) certamente já passaram por sob outras pontes e trapiches nos seis romances que o precedem e continuam passando pelos outros três que o sucedem.
     Desse modo, é imprescindível situar nosso livro- corpus no âmbito do ciclo criado por Dalcídio Jurandir, cuja elaboração permite uma divisão em três núcleos, a partir do percurso narrativo do personagem Alfredo, que é o que fez Marlí Tereza Furtado em sua tese Universo derruído e corrosão do herói em Dalcídio Jurandir (2002, p. 14-17). A autora nomeia o primeiro de núcleo marajoara, integrado pelos romances Chove nos campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947) e Três casas e um rio (1958), tríade inicial do Extremo-Norte, caracterizada espacialmente por sua ambientação no cenário do arquipélago de Marajó, com especial destaque a Cachoeira do Arari, onde se ergueu o chalé da família de Alfredo, cujo pai exerce para a Intendência Municipal o cargo de secretário-tesoureiro. É no romance-embrião Chove nos campos de Cachoeira, como assim se referiu a ele o próprio autor, que nascia no menino que brincava com o caroço de tucumã a idéia fixa de ir estudar em Belém, um lugar que lhe foi pintado coloridamente por outros personagens como uma utopia a se realizar em seu futuro.
     Já em Marajó, o sonho desse personagem fica em suspenso, visto que nessa narrativa Alfredo não figura como personagem. Aqui é Missunga, filho do Coronel Coutinho, descendentes ambos de antigos latifundários estabelecidos nas redondezas de Ponta de Pedras, que tem sua trajetória ficcional traçada, da juventude até a idade adulta, quando já passa a responder de fato pelo nome dos mandatários locais (seu nome é Manoel Coutinho), verdadeiros tuxauas políticos que são. O macroespaço dos cenários marajoaras domina a ambientação nesse que é o segundo romance do Extremo-Norte, e também o segundo do núcleo marajoara, ainda conforme Marlí Furtado.
     O primeiro núcleo do ciclo finda com Três casas e um rio, cujo enredo delineia-se como um complemento e uma intensificação da trama narrativa do primeiro romance, emergindo de novo como personagem central um Alfredo mais obsessivo ainda com a idéia-sonho de estudar na capital, lugar que começa a sair do plano do devaneio e passa a se concretizar como cenário real para o personagem no último capítulo desse romance, quando dona Amélia o leva de barco para a cidade. O plano narrativo deixa bem patente que o menino não só foge da escolarização precária, mas também da alta taxa de mortalidade no arquipélago de Marajó, que tanto ceifa a vida de adultos quanto a de crianças.
     Os romances Belém do Grão-Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira manhã (1968), Ponte do Galo (1971), Os habitantes e Chão dos Lobos (ambos de 1976), totalizando seis (do quarto ao nono do ciclo) compõem o núcleo belenense, nas palavras da estudiosa já mencionada. O primeiro deles é marcado pelo entusiasmo do primeiro contato do menino Alfredo com sua cidade sonhada, a tentativa de reconhecimento, agora no plano do concreto, de uma viagem há muito já feita, no plano do pensamento.
O cenário dominante é o espaço de Belém, como o será nos cinco romances subseqüentes desse núcleo, com algumas passagens de cenários do Marajó, como por exemplo, em Passagem dos Inocentes, o capítulo “Noite em Santana”, episódio em que, no calor de uma festa nesse sítio ― na embocadura do rio Arari ―, Dolorosa inicia Alfredo na vida sexual; outro exemplo diz respeito às férias de Alfredo no chalé dos pais em Cachoeira, na primeira parte de Ponte do Galo.
     Para a autora da tese Universo derruído e corrosão do herói em Dalcídio Jurandir (Marlí Tereza Furtado), os quatro últimos romances desse núcleo formam um todo, imbricados que estão entre si de maneira patente, tanto no início como no fim de cada um deles. Também o adolescer de Alfredo marca a trama de todos eles, até chegar-se ao Ribanceira, do qual se tratará linhas adiante.
     É importante frisar o diálogo mantido entre Ponte do Galo e outros romances tanto desse núcleo quanto do primeiro. Nesse caso, dialoga diretamente com Três casas e um rio, por causa da narrativa “O velho e o lilás”, contada nesse romance por dona Amélia a Mariinha, Andreza e Alfredo, mas que não é concluída, só o sendo em Ponte do Galo, já somente ouvida por Alfredo, pois Mariinha está morta e Andreza, desaparecida. Já em Primeira manhã e Os habitantes ocorre o seguinte: o fim do primeiro está alinhavado ao início de Ponte do Galo de modo explícito, já que sua linha final é esta: “Sigo sem rumo ou vou na Ponte do Galo?”
     Com Os habitantes, o alinhavo ocorre entre seu início e o desfecho de Ponte do Galo, tendo em vista que nas linhas finais deste romance Alfredo e Esméia pulam janela a fora para a calçada em frente da casa em que ele morava, assustados pelos rumores da chegada da família que entrava, sendo surpreendidos por Ana, que os flagra, cospe no chão e logo desaparece. Este episódio só vai ser concluído na leitura das primeiras páginas de Os habitantes.
     O diálogo indireto, por assim dizer, ocorre com Chove nos campos de Cachoeira, porque Alfredo começa então em Ponte do Galo a permanecer na saleta, local de predileção de Eutanázio, irmão que morre de uma doença sexualmente transmissível (DST) nesse primeiro romance do ciclo. E é nesse sétimo romance que o narrador põe finalmente o leitor a par do sofrimento desse irmão, que agonizara por quarenta noites. Esse tipo de diálogo indireto também passa pela busca por Luciana, que ecoa em todo o romance.   
     Esse personagem feminino é evocado com maior fôlego ainda e torna-se fortemente presente em Primeira manhã ― que precede Ponte do Galo―, quando se sabe que tipo de tragédia se abateu sobre ela e por quê. É quando se sabe a causa da sensação de angústia de Alfredo (que o corrói por todo o Ponte do Galo), de morar na casa de Luciana, de freqüentar o ginásio que a ela fora negado, como se estivesse a usurpar o espaço que era de direito dela, Luciana.
     Mas o estudante, ainda assim, continua a morar na casa da jovem desabençoada e desaparecida, o que só vai mudar no desfecho de Os habitantes, quando ele, tendo notícia da morte desta filha do Coronel Delabençoe, resolve, de modo decisivo, mudar-se para o cortiço da família Lobo, fato que vem a originar a história narrada em Chão dos Lobos.
     Consideramos, por tudo isso, que Primeira manhã, Ponte do Galo e Os habitantes compõem uma tríade dentro do espaço literário desse segundo núcleo, o belenense, ligados os três pela busca agônica de encontrar Luciana, a verdadeira (des)ocupante platônica do ginásio e da casa, no entender de Alfredo, que sentia dia após dia esse ginásio perder-se, incompatibilizando-se com seu tipo de ensino ministrado (desligado totalmente da realidade física e social de Belém e da Amazônia).
     Após esse núcleo, vem o último, constituído por um único romance, Ribanceira (1978), em cuja trama se vê um Alfredo de volta ao interior, para trabalhar, tal como seu pai, para uma Intendência Municipal, onde administraria um Porto e três cemitérios. No fim da narrativa, com a erosão e perda total do porto, Alfredo regressa a Belém, não sem antes tentar um emprego como professor e auxiliar de comércio em um barracão à beira de um rio.
     Parece que o interior (local de origem do jovem trabalhador Alfredo, que abandonara a escola) o está expulsando, não o quer mais, porque Alfredo, fugindo de Cachoeira, era como se praticasse uma traição. O irônico é que, para ele, a cidade não era mais capaz de fornecer nenhum alento. É um desterrado: expulso pelo interior que traíra, recusado pela cidade que a princípio lhe fora musa encantatória. Como disse Carlos Drummond de Andrade em seu livro Brejo das Almas: “No elevador, sinto saudade da roça./ Na roça, sinto saudade do elevador” .
Acerca de Ponte do Galo, é necessário salientar que raro material para pesquisa pude ser encontrado − sobre este que é o sétimo romance do ciclo. Na verdade, apenas uma minúscula resenha de jornal intitulada “Uma ponte simples” , sem grande relevância em suas parcas e errôneas informações, e uma conferência do professor Ernani Chaves , denominada de Ponte do Galo: a cidade como labirinto do desejo, II Ciclo de Conferências: Dalcídio Jurandir (Belém – UNAMA), 25 a 29 de junho de 2001. Vale dizer, também, que nada fácil foi encontrar a obra a ser estudada, uma vez que nunca foi reeditada, fato que ocorreu igualmente com os cinco últimos romances do ciclo: Primeira manhã (1967), Ponte do Galo (1971), Chão dos Lobos (1976), Os habitantes (1976) e Ribanceira (1978). Os cinco primeiros foram editados, no mínimo, duas vezes: Chove nos campos de Cachoeira (1941, 1976, 1991, 1996, 1988), Marajó (1947, 1978, 1992), Três casas e um rio (1979, 1994), Belém do Grão Pará (1960, ed. Portuguesa de 197_, 2004) e Passagem dos Inocentes (1963, 1984). Um enorme desequilíbrio, portanto, na publicação da obra de Dalcídio Jurandir. Ficamos a nos perguntar, então: “Por que esse desprestígio com os últimos romances do Ciclo do Extremo-Norte? Será por causa do fato de serem os menos estudados? Ou será porque são mais recentes, por isso menos conhecidos? O tempo os tirará do ostracismo dentro da obra do romancista?”
     Na verdade, o autor marajoara, ao receber da APL em 1972 o prêmio Machado de Assis, quase já havia concluído seu ciclo romanesco, pois consta que houvesse já finalizado todos os romances até 1971. Teria concluído Os habitantes em 1967, antes mesmo de publicar Primeira manhã, que é de 1968, ano de conclusão também de Chão dos Lobos. Em 1970, termina Ribanceira, um ano antes, portanto, da publicação de Ponte do Galo, de 1971 . Contudo, seu desejo era incluir no ciclo no mínimo mais um romance , do qual escrevera pelo menos um capítulo, conforme palavras do próprio autor:

Entreguei o Ribanceira ao editor, não é o romance que esperava fazer e não posso saber como e quando posso esboçar o último volume. A doença foi mais apressada do que eu. Vamos ver.
[...] pena que não possa escrever o último volume de Alfredo. Atrasei-me. As dificuldades são grandes. Talvez eu use um gravador e vá capengando, levantando a estrutura do livro. A mão não ajuda.
[...] Escrevi sete páginas do volume que viria encerrar a série dos romances e senti que o cérebro − memória, observação, senso da narrativa tudo vai bem. Não tenho dores de cabeça.
[...] Perdoa te escrever assim. Fora dos ataques vejo-me boiando satisfeito por mais um capítulo vencido (ASAS DA PALAVRA, 1996, p. 39) .

     Certamente, pesquisas futuras revelarão essas misteriosas páginas de um ciclo que não se fechou em Ribanceira, romance com desfecho em aberto, para ser complementado pela cabeça imaginosa dos leitores, assim como todo o Ciclo do Extremo-Norte de certa forma é redimensionado pelas releituras de monografias, dissertações e teses, que surgem inspiradas pelas vastidões dos rios da obra dalcidiana.
     Ponte do Galo é um belo romance, merece ser lido e reeditado, como todos os cinco últimos romances do Ciclo empreendido por Dalcídio. Como o ano de 2009 é o centenário desse ilustre marajoara, muitas comemorações estão programadas, contudo o que se espera mesmo é a presença de seus livros nas livrarias e sendo devorados por um público leitor já cansado de só poder lê-lo em fotocópias.

     


Biografia:
Desde que nasceu, vive em seu torrão natal, a ilha de Mosqueiro, lugar banhado por 23 praias de água doce com ondas, uma singularidade no mundo inteiro. Tem graduação em Letras-Língua Portuguesa (UFPA), Especialização em Língua Portuguesa e Análise Literária (UNAMA)e Mestrado em Letras-Estudos Literários (UFPA). Gosta de escrever Contos, crônicas de temática variada, principalmente ligadas à literatura. É artista plástico amador. Já publicou de modo artesanal os livros de poesia "Setembro em brasa" e Dimensons", além de ter participado da coletânea de poesia "Mosqueiro, pura poesia", organizada por Lairson Costa.
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