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Os Construtores de Templos
Os Mormons e a Maçonaria
Cesóstre Guimarães de Oliveira

Resumo:
O texto trata-se de uma sintese do livro de mesmo titulo, no qual trato da relação vivida pelos mormons com a maçonaria, analiso o contexto histórico e faço uma dissertação sobre os altos e baixos vividos pelas duas organizações.

Em 6 de abril de 1830, Joseph Smith Jr., Oliver Cowdery, Hyrum Smith, Peter Whitmer Jr., Samuel H. Smith e David Whitmer estabeleceram de forma oficial, conforme registrado em ata, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Os membros da jovem Igreja posteriormente vieram a ser reconhecidos simplesmente como mórmons, isto aconteceu em função do Livro de Mórmon, um livro que relata a existência de povos que habitaram nas Américas por voltar de 600 a.C.
Já antes mesmo da organização da Igreja como uma instituição, os mórmons eram vitimas do preconceito descabido, motivado pela intolerância em aceitar a individualidade e direito a religião tão preservada pela maçonaria.
As novas doutrinas ensinadas e defendidas pela A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mormonismo) eram completamente estranhas ao contexto religioso histórico da época. Ensinamentos como casamento plural (por alguns outros, denominado poligamia), crença em um Deus com forma humana tangível e (que evoluiu até atingir a perfeição), possibilidade de evolução até chegar à perfeição divina, entre outras, estas crenças eram vistas com certa reprovação por parte dos seguidores do protestantismo e catolicismo contemporâneo dos precursores do mormonismo.
No principio, estas reprovações não passavam de simples discordâncias, mais com o rápido crescimento da Igreja estas opiniões acentuaram-se e passaram a ser ponto de origens de conflitos físicos e armados, entre as partes divergentes. Esta intolerância acentuou-se com a iniciação maçônica de Joseph Smith Jr em 15 de março de 1842 na Loja de Nauvoo, Illinois (EUA). Antes de Joseph vários outros líderes da Igreja já haviam sido iniciados na maçonaria e outros, o eram até mesmo antes de ingressar na jovem Igreja, mas foi o ingresso de Joseph que desencadeou de forma mais acirrada a desconfiança, e conseqüentemente os ataques contra os mórmons.
Esta “associação” do mormonismo com a maçonaria proveu munição para os inimigos de ambos. Já que neste momento histórico a Maçonaria vivia (ainda) uma das maiores perseguições já acontecida nas Américas contra a fraternidade. Velhos inimigos da maçonaria viram nesta associação, mormonismo e maçonaria, uma oportunidade de livrarem-se dos seus maiores desafetos.
Os ânimos dos contrários à Maçonaria encontravam-se bastante inflamados em função do “misterioso” desaparecimento de William Morgan. Este, um sujeito inescrupuloso, que de forma maquiavélica se infiltrou entre os maçons da Batávia (NY), Após enganar alguns maçons, reivindicou certos direitos que não lhe pertenciam. Morgam era casado, tinha 52 anos, e era um artesão errante, já que o mesmo não tinha residência fixa. Em suas andanças embora não iniciado, ele conseguiu se infiltrar na maçonaria, inclusive adentrando aos segredos mais bem guardados pela ordem, este foi um golpe forte na fraternidade. Em função disto comunicados foram enviados as todas as Lojas americanas. Em um jornal de Canadaigua, cidade do estado de New York, foi publicado no dia 9 de agosto de 1826 o seguinte alerta: “Se um homem chamado William Morgan apresenta-se como Maçom na comunidade, é preciso cuidado, Morgan esteve entre nós em maio passado e sua conduta enquanto esteve aqui e em outros lugares exige muito cuidado (...) Morgan é considerado um vigarista e um homem muito perigoso. Existem muitas pessoas nesta cidade que ficariam felizes em ver esse que se auto intitula capitão Morgan”.
Antes de ser descoberto, Morgan foi o pivô de grandes disputas dentro da ordem, mas sendo descoberto foi expulso da Loja onde se infiltrara, sendo lhe recomendado que nada comentasse com ninguém sobre maçonaria. Ignorando estas recomendações, e em represália, Morgan decidiu publicar um livro onde exporia aquilo que ele chamava de “segredos” da Maçonaria, e assim o fez.
Fazendo contato com o coronel David C. Miller que era o editor do Jornal Advocate, na Batavia, Morgan convenceu Miller de que conseguiriam arrecada 2 milhões de dólares com a venda dos livros, este valor embora seja uma quantia expressiva nos dias atuais, para aquele momento da história era uma quantia imensurável, a ganância logo tomou conta de ambos.
Em análise ao momento histórico maçônico americano facilmente podemos concluir que este livreto não era motivo suficientemente forte para incomodar a maçonaria da Batavia; já que, livros semelhantes ao de Morgan há muito tempo eram produzidos na Europa e facilmente encontrados nos Estados Unidos. Mas, assim mesmo os membros da Loja da Batavia, que entre outros membros, contava com cinco juízes, o xerife da cidade, seis médicos e o prefeito, decidiram agir para coibir os abusos de William Morgan. Na tentativa de intimidá-lo, Morgan foi preso sob acusação de estelionato, e na noite do dia seguinte alguém pagou sua dívida e Morgan foi liberto, e nunca mais foi visto.
William Morgan é constantemente descrito como uma figura patética, que assumiu proporções heróicas após seu desaparecimento. Aproveitando-se deste acontecimento, seu pseudo sócio viu em seu desaparecimento a possibilidade de vir a ganhar mais dinheiro transformando o livro em febre generalizada. Este individuo imprimiu em sua gráfica 50 mil folhetos anunciando o desaparecimento e possível assassinato de William Morgan, onde também pedia informações de seu paradeiro na possibilidade de ainda estar com vida. No panfleto em nenhuma parte era feito acusação contra Maçonaria, mas era de conhecimento geral que Morgan havia tentado se passar por maçom, e isto irritara em muito aos membros da fraternidade. Já naquele tempo circulavam as histórias fantasiosas dos terríveis castigos impostos àqueles que divulgassem as práticas maçônicas.
Motivados por informações deturpadas e interesses obscuros, a opinião popular foi conduzida por inimigos declarados da maçonaria a desejar sua extinção do território americano. Em Pavillion a 19 quilômetros da cidade de Batávia um Pastor da Igreja Batista em um de seus sermões acusou a Maçonaria de: “obscura, infrutífera, desmoralizante, blasfema, homicida, anti-republicana e cristã – contrária à glória de Deus e ao bem da humanidade”. Vários boatos apareceram, explicando o sumiço do falso Maçom, alguns diziam que William Morgan teve sua garganta cortada, outros diziam que ele havia sido empurrado nas cataratas do Niágara, sua língua havia sido arrancada, outros ainda diziam que ele havia sido enterrado nas areias do lago Ontário ainda em vida. Existiam também outras versões mais fantasiosas, destaco ainda uma que dizia que os maçons haviam inclinado uma arvore até parte de suas raízes ficarem fora da terra, então Morgan foi colocado sob estas raízes e a arvore foi replantada sobre seu corpo. Os inimigos da Maçonaria que há muito estavam em silencio, ressurgiram de todas as partes, líderes religiosos e professores maçons eram intimados a se afastarem da fraternidade sob pena de perderem seus empregos. Maçons eram rejeitados como jurados, e constantemente eram insultados nas ruas.
Figuras políticas que a muito haviam abraçado a Maçonaria, agora julgavam prudente se afastar da ordem, entre estes destaco o senador Henry Clay do Kentucky. O ex-presidente dos Estados Unidos John Quincy Adams disse que: "a maçonaria deveria ser abolida para sempre. Ela é errada, essencialmente errada - uma semente de mal que nunca poderá produzir qualquer bem. A existência de uma ordem como essa é uma nodoa na moral de qualquer comunidade".
Foi neste contexto de intolerância e preconceitos que surgiram os mórmons, e já neste período era grande a quantidade de Mórmons iniciados na Maçonaria, nomes de extrema relevância para o mormonismo tais como: Joseph Smith Jr, Brigham Young, John Taylor, Willford Woodruff e Lorenzo Snow abraçaram a milenar fraternidade, todos nesta mesma seqüência sucessória lideraram a Igreja por aproximadamente 71 anos, e jamais negaram ou omitiram sua condição de iniciados. A crescente associação dos mórmons com a fraternidade maçônica levou a opinião publica declarar guerra ao mormonismo e maçonaria, pois na visão dos leigos as duas organizações eram como se fosse uma só, e por isso eram ambas satânicas. O resultado de tanta campanha negativa foi trágico para ambas. Em 27 de julho de 1844 Joseph Smith Jr e seu irmão Hyrum Smith (que era o Venerável Mestre da Loja de Nauvoo) foram chacinados. É bom esclarecer que as acusações das quais Joseph e Hyrum Smith foram vitimas, eram falsas, já que nunca foi provada nenhuma das culpas que lhes foram imputadas.
Neste momento de turbulência para as duas organizações, aqueles que combatiam a fraternidade maçônica criam um partido político anti-maçônico, que como o nome sugere, seu principal objetivo era o fim da maçonaria no território americano, nesta empreitada o partido lançou um candidato a presidente dos Estados Unidos da América, não obtendo sucesso o partido foi perdendo forças à medida que os ânimos esfriavam, e posteriormente veio a deixar de existir.
Em função da crescente e aparente incontrolável perseguição muitos maçons adormeceram, em seqüências a isto várias Lojas bateram suas colunas por todos os estados americanos, inclusive um capítulo do Arco Real que deveria ser estabelecido em Illinois, não se concretizou por falta de homens livres e de bons costumes. Mais também este momento difícil vivido pela Maçonaria mostrou alguns homens convictos e comprometidos com a ordem, homens como Daniel B. Taylor presidente da Loja de Stone Creek no estado de Michigan, este bravo maçom manteve literalmente acesa as chamas da Maçonaria em sua hora mais negra. "Nas noites de reunião, escreveu o cronista dos maçons do estado, James Fairbairn Smith, "assim que a diligência chegava trazendo o correio, ele ia apanhar seu jornal e dirigia-¬se para a loja. Lá chegando, acendia uma vela junto à janela e sentava-se para ler. Se não viesse mais ninguém, o irmão Taylor esperava até dar a hora habitual de 'fechar a loja', e então apagava a vela, trancava a porta e ia para casa.
Em meio a tudo isto Joseph e Hyrum Smith foram chacinados na Cadeia de Liberty no Missouri, a suspeita do envolvimento de alguns maçons em suas mortes e desavenças posteriores a estes acontecimentos levaram os mórmons a momentaneamente querer se afastar da Maçonaria americana, embora os iniciados nunca tenham feito qualquer acusação formal ou informal à ordem. Após migrarem para o Oeste sob liderança do então Presidente da Igreja (Brigham Young), os mórmons fundaram Salt Lat City e posteriormente fizeram três tentativas de estabelecer Lojas Mórmons na nova cidade. Cartas solicitando filiação a Grande Loja do México, do Canadá e da Inglaterra foram enviadas, mas não obtiveram autorização de nenhuma das potencias, que temiam agravar o conflito já existente entre maçons não mórmons e os maçons membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Todas as tentativas foram rechaçadas, e finalmente os mórmons abriram mãos de sua herança maçônica, afastando-se silenciosamente da sublime ordem, aparentemente os algozes da Maçonaria e da Igreja haviam conseguido enfraquecer as relações entre as duas maiores e mais fortes organizações humanitárias da América.
Um longo silencio onde os líderes da Igreja não mais se manifestavam de forma oficial sobre a maçonaria durou até 1984 quando Spencer W. Kimball, líder da Igreja na época, em uma reunião com o Mestre Principal da Grande Loja do Lago Salgado (Utah) em um hotel de propriedade da Igreja afirmou: “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nada tem contra qualquer organização que pratique atos louváveis”. Em contra partida o Mestre Principal disse: “A Maçonaria de Salt Lat City nada tem contra A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.
Este deveria ter sido o ponto final da discórdia entre as duas fraternidades, mais ao longo dos tempos, os mórmons cada vez mais foram forçados a se afastarem da Maçonaria. Uma reaproximação de forma oficial entre as duas grandes organizações, neste momento, ou até mesmo em momentos futuros, é algo que beira os passos do devaneio. Embora exista hoje uma quantidade expressiva de Mórmons Maçons (e eu sou um) espalhados pelo mundo, alguns tem se penitenciado ao ostracismo, escondendo dos irmãos de fé nossa condição de iniciados, talvez temam o mesmo preconceito do qual nós membros da Igreja temos sido vitimas por parte dos outros seguimentos do cristianismo.
Pacientemente espero pelo dia em que meus irmãos mórmons compreendam que o grande objetivo da maçonaria é a reconstrução do eu interior do ser humano, e que este objetivo se encaixa perfeitamente dentro daquilo que foi ensinado por nosso primeiro Profeta nesta nova dispensação, (Joseph Smith Jr). Pois recebemos através dele o ensinamento que diz: “... Se houver qualquer coisa virtuosa, amável ou louvável, nós a procuraremos.” (13º Regra de Fé).


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