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🔵 Circo Orlando Orfei
Rafael da Silva Claro


Tentando relembrar os tempos de criança do interior de São Paulo, aquilo só podia ser uma ideia do meu pai. Como éramos muito novos, ainda podíamos encarar um cirquinho. A inocência infantil me habilitava a achar graça em palhaços “raiz” como a dupla Torresmo e Pururuca. Sem esperar palhaços de nomes com menção gastronômica, fomos ao circo ‘Orlando Orfei’.

Antes da proibição de maus tratos animais, estávamos na expectativa de ver bichos amestrados: macaquinhos andando de bicicleta, elefantes jogando futebol e ursos fazendo ginástica. Mas chegamos muito cedo e testemunhamos o velho Orlando Orfei que tinha acabado de acordar.

Assistir ao dono do circo começando o dia não era um número circense que eu esperava, por isso, aquilo decepcionou quem achava que veria animais amestrados. É fácil deduzir, fazia muito tempo que meu pai não encarava um circo e chegar pela entrada, não por um buraco na lona, certamente contribuiu com o erro.

Eu não queria ver aquilo, estava ansioso para assistir aos animais sendo chicoteados, alguns truques do mágico, os gracejos do palhaço e comer algumas guloseimas de arquibancada. Assistir ao Seu Orlando espreguiçando não era exatamente a apresentação que eu estava esperando. O hábito de ir a um “circo raiz” nos tornava tão exóticos quanto a atração dos saltimbancos e sua trupe de acrobatas, palhaços e criaturas que foram excluídas da sociedade.

Eu ainda nem imaginava que o ser humano fosse capaz de realizar acrobacias como as do ‘Cirque du Soleil’ ou do ‘Circo Imperial da China’, portanto, qualquer truque tinha o poder de me impressionar. A Mulher Barbada falsa, um coelho sendo tirado da cartola ou uma pomba branca já me deixariam de olhos arregalados e boca aberta. No entanto, não era à toa que aqueles números sobreviviam há décadas. Menos o inédito número do dono da coisa toda inspecionando o picadeiro.

Aquilo tinha o potencial de acabar com qualquer ansiedade de ir a um circo, mas eu mal sabia que o pior estava por vir: eu ainda fugiria da Monga (a mulher-macaco feita com truque de espelhos) no Playcenter e iria ao programa do palhaço eletrônico Bozo, que era movido a álcool e drogas.



Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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