João Doria enviou uma carta a Lula: “Queria ter a chance de dizer que errei”. A mensagem é linda, mas um homem só diz isso quando fez algo muito grave, tipo se apaixonar pela melhor amiga da namorada. Mas não tem uma namorada nessa história, portanto, eu estou confuso.
— Porém, eu acho que deve funcionar pendurar, em frente a casa, uma faixa implorando perdão e jurando eterno amor. É bem espalhafatoso e embaraçoso, mas tem tudo para dar certo;
— compatível com a gravidade do delito, igualmente constrangedor, mas quase sempre eficiente é aquele carro que insiste em chamar a pessoa amada na frente de casa. Claro, o escândalo atrai toda a vizinhança para assistir ao espetáculo;
— outra modalidade de reconciliação é a mensagem musicada. Eu mesmo fui encurralado pela ligação infalível. Minha namorada lançou mão da estratégia que vinha com uma canção do Roupa Nova. A discrição do serviço me poupou da vergonha;
— existe um atendimento bastante conhecido, embora, com método duvidoso e resultado obscuro. A facilidade com que promete “Trago a pessoa amada em 3 dias” é ameaçadora e sugere certa compulsoriedade e violência;
— no antigo programa do Silvio Santos havia um recurso que parecia ser o último: o ‘Namoro na TV’. Divertido para quem assistia, o subterfúgio era cruel com a pretendida e pouco eficaz.
Deixando a brincadeira, João Doria deve estar interessado em se aproximar do poder. Mesmo tendo atacado Lula no passado, o gesto significa estar aberto aos benefícios da intimidade com os poderosos.
O ex-governador de São Paulo está acostumado com a manobra: já fez flexão de braços ao lado de Jair Bolsonaro quando precisou bajulá-lo. No entanto, “Bolsodoria”, o nome que havia adotado, caiu juntamente à sua reputação. Atualmente, como é bom para os negócios, é sabujo dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Como convém, mandou a cartinha reconciliadora para o presidente e deve estar disposto a fazer uma flexão de espinha e segurar o corrimão do sucesso.
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