Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
🔵 Saudosa maloca
Rafael da Silva Claro


Durante anos, inclusive durante a própria época, eu via que aquele território de brincadeiras era um microcosmo para análise de comportamentos humanos e organização social. Atualmente, numa análise mais aprofundada, eu vejo aquilo como uma “Faixa de Gaza” pacífica.

Como partidas entre Israel e Palestina, o nosso futebol de rua era literalmente de várzea; portanto, o córrego, que para a molecada significava apenas uma dificuldade para recuperar a bola, para a família pobre era a falta de saneamento básico passando no fundo do quintal.

Geralmente, eu jogava bola (futebol) na vielinha (pequena rua) entre uma mansão e um barraco. O garoto da mansão e o garoto do barraco jogavam bola juntos. Embora fosse evidente a diferença social, entre a molecada, não havia qualquer tipo de segregação, financeira ou étnica.

Contudo, provavelmente, havia resquícios da escravidão encerrada há apenas um século. Na mansão, o “quartinho da empregada” era o que poderia ser chamado de “a nova senzala”. Não obstante, aquele cubículo era o refúgio a tanta frieza enfrentada pelo meu amigo rico. Negligenciado por um pai que sempre estava fora, e uma mãe eternamente ocupada, meu amigo encontrava a humanidade acolhedora convivendo com as empregadas. Anos 80!

***

Iludidos pela falsa evolução de ganhar um campo de futebol, limpamos o terreno da favela, que tinha apenas o barraco do meu amigo. O trabalho arqueológico revelou que aquele barraco promoveu animadas discussões regadas a samba, cerveja e garrafadas.

Depois de algum tempo, a prospecção dos vestígios de desinteligência, bem como a exploração do trabalho infantil, desanimaram aquele ímpeto empreendedor — encorajado por um sábado ensolarado. Finalmente, os intermináveis cacos de vidro e algum sangue derramado encerraram a construção do nosso magnífico “estádio”.

***

Muito tempo passou, a mansão permanecia, como um castelo, na esquina; o barraco não existia mais. Isso pode ser ruim, mas pode ser bom: aquela família pode ter ido morar numa casinha melhor.



Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
Número de vezes que este texto foi lido: 146


Outros títulos do mesmo autor

Ensaios 🔴 Evidências Rafael da Silva Claro
Ensaios 🔴 Vamo falá de coisa boa Rafael da Silva Claro
Ensaios 🔴 Bye, Biden Rafael da Silva Claro
Ensaios 🔴 O Efeito Cobra Rafael da Silva Claro
Crônicas 🔵 Pelé ou Maradona? Rafael da Silva Claro
Ensaios 🔴 Lula e seus amigos Rafael da Silva Claro
Crônicas 🔵 Pretérito imperfeito Rafael da Silva Claro
Ensaios 🔴 Que o novo sempre vem Rafael da Silva Claro
Ensaios 🔴 O animal do Pânico Rafael da Silva Claro
Crônicas 🔵 Noite sem fim Rafael da Silva Claro

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 51 até 60 de um total de 487.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Os paulistas nos Brasileiros em 2023 - Vander Roberto 56469 Visitas
Descobrir a Arte - Douglas Tedesco 56450 Visitas
OS DIREITOS DO EMPREGADO DOMÉSTICO em versos - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 56447 Visitas
Como tratar a ansiedade - Caroline Loureiro Prado 56435 Visitas
DELÍRIOS SANFONADOS - Ivan de Oliveira Melo 56423 Visitas
O papel do Diretor de Escola na Mediação de Conflitos - FERNANDO JUNIOR PEREIRA 56423 Visitas
Oscar do Linux 2023 pelo autor - Vander Roberto 56417 Visitas
LABIRINTOS DA SOLIDÃO - Darwin Ferraretto 56385 Visitas
O Caminho da Meditação Ativa - Siddhartha 56356 Visitas
La lucha de Udonge contra la censura española 3 - udonge 56338 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última