Aquele lugar realmente parecia insalubre. Já não era muito confiável uma mesa de bilhar merecendo as atenções; porém, cercada de cigarro, bebida alcóolica e ovos cozidos coloridos ganhava uma fotografia dramática. No balcão, maços de cigarro, e lá no alto, vasilhames empoeirados de Velho Barreiro, Cynar e Fogo Paulista assistiam à partida.
A cada intervalo de tacadas mal-sucedidas, o gole na Coca-Cola e o punhado de salgadinho não deixavam dúvidas: éramos 3 pirralhos entregues aos vícios do jogo e guloseimas. O recinto claramente era tóxico e nada indicado para quem vinha da escola e esperava o preparo do almoço. Tínhamos que admitir, estávamos virando frequentadores daquele ambiente repugnante. O álcool e o tabaco pacientemente observavam suas potenciais futuras vítimas.
A fumaça de cigarro insistia em encher de nicotina os pulmões passivos. Aquele boteco degradante contrastava com a inocência escolar, que garantia um final de semana entre equações e mapas geográficos. No entanto, atravessando a rua, eu entrava no Bar do Buzina e, de repente, o Dr. Jekyll virava Mr. Hyde. Aquele local foi pensado para eu me sentir bem. A transição da infância para a vida adulta achou um atalho. Esse atalho era sedutor e nefasto.
“Matar” bolas naquela mesa torta não apontava para uma vida de trabalho honesto. Nem mesmo o meu histórico de labores infantis garantiam uma boa imagem. Mas eu me sentia à vontade, o salão degradante não me assustava e, com desenvoltura, eu virava o refrigerante e batia aquele copinho americano no balcão como quem matava uma dose de aguardente, enquanto encaçapava bolas como quem jogava videogame.
No futuro, o compromisso de pegar o ônibus pela manhã, assinar a folha de ponto e me enfiar no estoque de roupas da C&A me manteve longe do boteco do Buzina, portanto, afastado da jogatina e, como abutres mirando a carniça, da espera paciente do álcool e do tabaco.
Aos 16 anos, no Bar do Buzina, o velho amigo do pião e das bolinhas-de-gude estava debruçado numa mesa de sinuca. Ao meio-dia, aquilo não era um ambiente saudável nem a garantia de um futuro alvissareiro.
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