No limiar das esquinas, beirando quasímodos entranhados nas cidades, o nosso olhar se perde em busca de respostas que não virão. As estranhas cirandas de luscos-fuscos batem à porta dos incubos, dançam feito mariposas de asfalto molhado, onde refletem quintais de terra fosca. Aos poucos, os ossos rangem entre as luzes mortas dos olhares, batem o tambor inquieto de estrelas. Retiram as volúpias secas mergulhadas em formol, as certezas oblíquas de sempre, os arremedos de liberdade que margeiam as avenidas transfiguradas em ideais, quando as quimeras lembram-se da condição de monstros e invadem nossos quartos, transpassando as certezas dissolvidas.
No limiar dos encontros, o civilizado entranha-se no não-mundo e a metamorfose se faz por completo. Borboleta regressa, arrasta-se entre os pesadelos e as víboras caladas. Os mares se abrem e a indizível verdade se cala, eriçam os pelos de uma lagarta de obuses. O choro inquieto das manhãs esfoladas, os temores insanos dos mortos arrastam-se entre os não-vivos, a razão dos deuses enforcam rosas e sonhos com ares de superioridade, quando as sereias ainda cantam e se deitam entre os náufragos de toda esperança.
No limiar dos ventos os caminhos percorridos se desfazem, bebem da água salobra das secas de crianças. O entardecer dos colibris e maritacas a dançar feito ninfas esmaecidas e o nosso olhar, já cansado, permite que a noite invada os pesares e possamos dormir...
Darwin Ferraretto – 10/08/06
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