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🔵A mansão dos mortos
Rafael da Silva Claro


Não vi mau agouro ao entrar naquele lugar, ainda mais porque aquele endereço me igualava aos quatrocentões paulistanos. Onde mais o Conde Francesco Matarazzo ficaria a meus pés? Subindo a rua da Consolação, resolvi levá-la para ver as obras de arte que estavam expostas gratuitamente nos túmulos do Cemitério da Consolação.

Sabia que ela aceitaria, pois os mausoléus da antiga elite paulistana eram objetos de estudos de universitários e curiosos. Se não fosse durante o dia, a incursão seria facilmente confundida com um passeio gótico, pois a atmosfera fantasmagórica, o visual mórbido e o silêncio assustador inspiravam mais a reflexão depressiva que a contemplação das artes tumulares.

Pois bem, cercados por obras de artistas famosos e cadáveres, começamos a “ziguezaguear” túmulos, mausoléus e lápides. Como esperado, os mais famosos foram sepultados onde havia capelas ou anjos. Até na morte, havia aristocracia e ostentação.

Aquele evento, logicamente, apenas satisfazia uma curiosidade mórbida disfarçada de estética artística e sensorial. O objetivo era gerar algum horror. Mas os cemitérios, faz tempo, perderam o misticismo macabro de “cidade dos mortos”, bem como, algo apavorante não poderia acontecer. O mais surpreendente é o silêncio (a paz dos cemitérios) quase no centro de São Paulo.

À noite, um cemitério impressiona mais psicologicamente, sobretudo as oferendas prometendo riqueza e amor; entretanto, de dia, as estátuas e o visual geral têm uma dramaticidade claustrofóbica. Os filmes de terror foram os responsáveis pela expectativa de testemunhar algum fenômeno sobrenatural. Mas na verdade, as lendas, literalmente, urbanas sempre foram atribuídas a endereços famosos: Edifício Joelma (incêndio), Castelinho da Rua Apa (assassinato), Casa da Dona Yayá (loucura) etc.

Aquele lugar era bastante tétrico? Sim. No entanto, foi a opção mais econômica para iniciar o sábado com uma exposição de artes sem custo e fila. As obras sobre cadáveres e placas de bronze, contendo datas de nascimento e falecimento, eram detalhes que jamais, em hipótese alguma, podiam ser desprezadas.

Havia um paradoxo ao celebrar a vida num lindo sábado ensolarado cercado por defuntos e os muros do Cemitério da Consolação.


⚫️ “Temam menos a morte e mais a vida insuficiente”
(Bertolt Brecht)


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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