1- O que é a oratória e qual a sua importância em nossos dias
Oratória é a arte de bem se expressar que reúne técnicas de comunicação, eloquência, persuasão e argumentação na fala. Todo ato de falar guarda consigo algum objetivo, e quem domina e identifica com clareza os objetivos que pretende atingir por meio de um discurso ou da interlocução, pode ter maior facilidade em utilizar de forma adequada mecanismos de oratória, conforme aquilo que se procura, seja a fala com intenção de informar, persuadir, influenciar, demonstrar, propor, entreter ou engajar, entre outros.
A origem da arte da fala remonta à Antiguidade, há relatos de que o berço da retórica se deu no Antigo Egito e recebeu maior proeminência nos tempos áureos de Roma, com a figura do Senado, o que confere à oratória o posto de um instrumento inicialmente restrito às elites, visto que seu uso dizia respeito ao convencimento e à manipulação da opinião pública. Ao passo em que a oratória é uma arte, ela também é uma ciência com seus métodos e com sua teoria formalizada em regras que se materializam a partir da elocução falada. Os gregos também foram grandes estudiosos da organização da fala, assunto que tem em Aristóteles um de seus principais expoentes, ao reunir importantes conclusões em sua obra “A arte da Retórica”.
Em nosso cotidiano, a exigência de aplicar a oratória ocorre em situações bastante comuns, por vezes é inconsciente o uso de alguma técnica para convencer alguém de algo, em ocasiões de discussões, deliberações e escolhas que envolvam mais de um indivíduo pensante. Ser um bom orador não significa simplesmente ter a habilidade de falar em público sem hesitar e no domínio de todos os conceitos de fala. Ser um bom orador significa sobretudo, superar obstáculos cotidianos pela via do verbo, conforme as necessidades demandadas pela situação e com a eficiência que as palavras permitem. Cada oportunidade de treinar a oratória não deve ser desperdiçada.
É comum que associemos a imprescindibilidade de uma boa oratória a determinadas profissões, como é o caso dos advogados. A origem etimológica de advogado advém do latim “ad vocatus”, e que significa “aquele que foi chamado para socorrer outro perante a justiça”. Advogar é, portanto, falar pelo outro. Contudo, basta o convívio em sociedade ou até mesmo o envolvimento com outra pessoa para que se faça importante o papel do orador, visto que as técnicas são universais e não são de posse de determinado sujeito de poder ou de um dado ofício.
Aquele que sabe exatamente o que pretende comunicar e assim o faz empregando todos os elementos e conhecimentos para a finalidade que almeja, com plena ciência sobre a mensagem a ser transmitida, sobre o contexto em que fala e sobre os destinatários do conteúdo, torna-se invencível. Alia-se a isso os aspectos de sua personalidade, que podem ser utilizados positivamente para uma boa expressão, como o carisma e a espontaneidade ao invés da arrogância e do engessamento. É fundamental ter domínio da arte da fala, visto que ela é um meio muito mais rápido e fácil para se fazer entender, é por meio dela que entraremos em contato com o mundo na maior parte das vezes, e é através dela que poderemos conhecer pessoas e obter oportunidades inimagináveis.
Para falar bem, é importante antes de tudo pensar bem, e aquele que pensa com qualidade, frequentemente escreve com maestria. Assim sendo, pensamento, escrita e fala são indissociáveis e complementam-se. Queremos ser bem ouvidos, e para tanto, é importante inicialmente cativar pela fala, saber falar bem para ser bem falado. É fundamental usar o tom de voz adequado e a entonação correta de acordo com a situação, bem falar é saber ser flexível, ter a versatilidade de se fazer compreendido em todos os contextos.
Engana-se em todos os níveis aquele que se mune de uma linguagem prolixa para buscar em seu rebuscamento um jeito nobre de falar, uma vez que o sucesso de uma boa oratória reside na essência da comunicação e do fato de se fazer entender com a transparência de quem tem bem traçada a meta a ser atingida com a oralidade. Um excelente exercício a se fazer é transmitir a mesma mensagem em diferentes cenários, com pessoas dos mais diferentes níveis de escolarização, com diferenças étnicas, geográficas, ideológicas e de idades distintas. O norte de toda expressão talentosa passa antes de tudo por aquilo que se pretende com a comunicação, utilizando-a como um meio inteligente e completo em sua forma e essência, ao saber explorar as propriedades da fala e as técnicas argumentativas para conduzir determinado público-alvo.
2- A relação entre a escrita e a comunicação oral
A leitura é a chave para ser um bom orador, pois um bom leitor angaria vocabulário, expressões e conhecimento por meio de suas leituras, que tanto contribuem para a organização de seu pensamento escrito e para a persuasão comunicativa. Ler em voz alta é um ótimo exercício retórico, pois leva ao aprendizado de uma entonação adequada, cria uma melodia vocal e uma fluidez que confere maior dinamismo à fala. Além disso, contribui para a dicção, clareza, velocidade e para a atenção quanto à imposição de voz. O ato de escrever, por sua vez, é reordenar o pensamento, e é recomendável realizar o exercício de escrever aquilo que se planeja falar, porque ao escrever, mentalizamos o teor de nossa comunicação e construímos a ordem que julgamos a mais adequada para reproduzir em sons vocais.
Escrita e oralidade são variações linguísticas que se diferenciam essencialmente pelo coloquialismo da linguagem falada e pelo uso da linguagem culta na língua escrita. A oratória não concorda em completude com a escrita, visto que está sujeita à reação do público ou de terceiro, a improvisos e a trejeitos de fala que passam despercebidos ou inexistentes em um contexto escrito. Mas uma não pode existir sem a outra: de que adianta a técnica retórica sem um conteúdo orientado a ser expresso, e por outro lado, de que vale um belíssimo texto repleto de injunções sem uma oratória apropriada?
A sofística legou ao ocidente uma oratória voltada à política e à cidadania e se sedimentou como um movimento intelectual na antiguidade grega que buscou instruir os sujeitos na arte da persuasão, fortemente inclinada à forma em detrimento da verdade. A oratória é um recurso para se conquistar o que se busca, para alcançar o poder e para mantê-lo. O conhecimento em si é a arma mais potente para encontrar a vitória, mas o que dá vida ao conhecimento, o que o faz ecoar e manifestar-se no mundo é a sua exteriorização pela via do pensamento falado, em um raciocínio que se compatibilize com a expressão oral, garantindo-lhe autoridade e segurança no que sabe e no que se adquiriu mediante leituras, contemplações e repertórios socioculturais.
3- Técnicas de comunicação:
* Tenha autoconfiança, preze aquilo que você sabe. Não perca muito tempo se preocupando com o que poderia ter feito. É importante ter segurança.
* Esteja certo de si e daquilo que você sabe, conheça com precisão o limite dos seus conhecimentos e reconheça o seu potencial.
* É preferível empregar um tempo maior de qualidade para organizar um roteiro com o conteúdo que você pretende comunicar.
* Preste atenção na reação de seu público, perceba se você está conseguindo captar a sua atenção com êxito, e a partir dessa análise, verifique se será necessário improvisar ou utilizar outras ferramentas comunicativas.
*Treine muito e diversas vezes por vários dias se for possível, assim seu cérebro memorizará com maior naturalidade o que deve ser dito e você transmitirá maior segurança aos ouvintes.
*Um bom orador é alguém que sabe falar com classe e com propriedade, mas é antes de tudo alguém que sabe ouvir as outras pessoas com atenção.
* Repare no ritmo de sua fala e adeque o seu texto conforme o tempo que será disponibilizado para a sua atividade comunicativa. Lembre-se que o que será dito terá mais importância do que aquilo que está escrito, visto que a plateia entrará em contato com o texto somente por meio da expressão oral, portanto, nessas circunstâncias, foque sua dedicação na oratória.
* Gesticule com naturalidade e na proporção de sua comunicação, é fundamental que os gestos sejam espontâneos durante a fala, evitando a monotonia dos discursos.
*Encare o púlpito ou a tribuna como um apoio para o corpo, para a voz e para qualquer material escrito que você venha a portar durante a sua exposição.
* Vá preparado para apresentar o que você tem a dizer, faça uso de meios auxiliares se for preciso, mas eles não devem tirar o seu protagonismo, e a sua leitura jamais deverá substituir a fala autêntica.
* Regule a intensidade da sua voz para se fazer ouvir por todos que estiverem presentes, desde o ouvinte mais próximo de você até o mais distante no ambiente. Faça-se audível, mantendo sempre em mente que você é o emissor de uma mensagem e que ela deverá chegar a todos por uma informação compreensível, evitando falar para si mesmo ou para dentro, o objetivo é externalizar sempre
* Faça pausas, e caso leia um texto ou faça uma declaração, atente-se especialmente à pontuação para o controle de sua respiração e para o melhor andamento e entendimento da leitura.
* Não abra mão de seu ponto de vista durante a argumentação, o que não significa desrespeitar as opiniões alheias. Sua perspectiva é o seu maior guia, e é a partir dele que você construirá seu embasamento e irá trazer novos elementos a sua fala.
* Os vícios de linguagem distraem o público e interferem de forma perversa em sua comunicação, evite-os a todo custo.
* Conheça o seu público e adapte-se a ele, crie laços que demonstrem que o seu interesse por ele é recpiproco.
* Invista em storytelling para prender a atenção do público, valendo-se de uma sequência narrativa em detrimento de detalhes que desviem o rumo da finalidade comunicativa
* Seja objetivo e claro, inclusive na confecção do roteiro de fala
4- Lidando com a ansiedade e com o medo de falar em público
O receio de falar em público é bastante frequente e requer prática até que o remetente da mensagem se sinta apto, confortável e seguro de si para se comunicar. É comum também a retração do emissor por desconhecer as técnicas de oratória e de argumentação. Para tanto, é fundamental obter as habilidades e as ferramentas para uma boa comunicação, somando isso às características pessoais já existentes que podem contribuir com a fala.
Falar implica tornar-se o centro das atenções, o que costuma não ser bem recebido pelas pessoas mais tímidas, que sentem dificuldade em manterem a calma em situações que lhes exige sair da zona de conforto e encarar o desconhecido. Uma dica é não focar no julgamento que os ouvintes podem vir a fazer durante a fala, o que é completamente normal de qualquer ser humano que está ouvindo alguém pela primeira vez. Portanto, se você não conhece com profundidade o seu público, foque em fazer com que a sua mensagem cumpra o seu papel, sem desvirtuar sua atenção para situações hipotéticas que provavelmente não acontecerão.
Outrossim, evite se preocupar com o que a plateia pode estar pensando sobre a sua maneira de se comunicar, o mais importante é a mensagem a ser veiculada, então concentre-se nela aplicando o que for preciso para o seu acolhimento efetivo, que desta forma, o público estará concentrado naquilo que você tem a dizer, porque por mais leigo que a sua plateia seja em termos de oratória, eles reconhecerão o seu empenho em se fazer assimilado.
O nervosismo é natural quando somos colocados em uma situação em que estamos postos à prova, a ideia não é aniquiliá-lo, mas sim utilizar-se de táticas que possam controlá-lo para que ele não seja um óbice à comunicação ou que nela intervenha. Para isso, é válido apostar em exercícios de respiração, que ajudarão não somente os que têm maior dificuldade em conviver com a ansiedade de falar em público, mas também qualquer orador comprometido com o que fala e que tenha responsabilidade pelas consequências do que diz. Isso porque a respiração adequada favorece pausas, separa ideias e ainda impõe uma postura ajustada ao ato de falar, o que se refere a um importante fator estético e corporal que impacta na imagem que se tem daquele que está transmitindo algo.
O magnetismo de um bom orador é fruto de muito trabalho e renúncias, por meio dele se identifica a lapidação do pensamento transposto à fala. Trata-se de entender a voz como instrumento de brilhantismo, sedução e de grandiosos feitos que se iniciam com uma anunciação bem ponderada. O bom orador não é aquele que está a todo tempo falando e interagindo com os outros, sempre cercado pelas multidões. O bom orador é aquele que ouve com atenção enquanto os outros falam e aprende com a própria escuta. Porque orar é diferente de falar, e ouvir não é o mesmo que escutar. Para ser um bom orador, não basta dominar as técnicas mais sofisticadas da ciência da comunicação se não souber qual é o tom da paixão e o timbre do altruísmo na arte da fala.
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