Esperei a bomba estourar no último segundo. Chegou o fatídico momento que vazaria a péssima notícia. Meu pai foi comigo até a escola para conferir o resultado. Eu sabia que na lista estava meu nome acompanhado da palavra REPROVADO. Eu já sabia do inédito resultado, mas tive que fingir alguma surpresa e indignação. A minha interpretação deve ter sido tão convincente quanto Nicolas Cage interpretando Hamlet.
Repetir a sexta série não seria a catástrofe que imaginei, a notícia foi o pior. O maior temor era relaxar de vez com os estudos e viver num subemprego ou, pior, desempregado e sem grana. Tinha a opção “puxar carroça”, que era uma maneira menos agressiva de chamar alguém de “burro”. No fim, essa repetição da sexta série renovou as amizades, deu novo fôlego aos estudos e proporcionou uma experiência que talvez eu não tivesse na sétima série.
Ano de campeonato “interclasse” de futebol e de eleições para prefeito e vereadores. Olhando bem, aqueles alunos rejeitados pela elite supostamente inteligente e meritocrática pareciam um tipo de Exército de Brancaleone (maltrapilho), mas nossa classe juntou uma combinação rara de gente: “fominha”, que não aceitava a derrota e achava que Educação Física era a única matéria que merecia ser levada a sério. Conclusão, o ideal seria o candidato a vereador do bairro patrocinar o time. Perfeito, não teria como alguém sair no prejuízo.
Logo de manhã, uma pequena gangue de garotos, com 12 ou 13 anos estava no escritório do candidato para extorqui-lo. A negociação foi relativamente fácil. A extorsão surtiu efeito, não sei se por dó ou por julgar aquela cena inusitada - um bando de pirralhos num escritório de advocacia exigindo um patrocínio. Partimos do escritório, rumo à loja de artigos esportivos (comprar uma bola), com um jogo de camisetas de político.
Na quadra da escola, de cara eu me senti bem ridículo vestindo uma camiseta com o partido, número, nome e retrato do conhecidíssimo e eterno candidato à Câmara Municipal. A reação foi surpreendente. Nós éramos os únicos a vestir uniformes novos e patrocinados; o restante disputaria o certame inferiorizado já no visual, com fardamentos desbotados pelo uso e malhados por diversas gerações. O que eu achava um visual de quem iria pintar a casa, agora era bastante aceitável.
As meninas entoavam uns gritos de guerra manjadíssimos e isso só aumentava a pressão. Apesar da sensação de sermos a escumalha, a escória social fomos marcando gols e vencendo as partidas, usando uma camiseta com a propaganda do político. Nesse embalo, chegamos à final e vencemos o “Interclasse” daquele ano.
No fim, todos saíram ganhando: nós, o campeonato; o candidato, a eleição.
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