Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) compôs o ‘Samba do Crioulo Doido’ em 1966. Um dos motivos da composição do “Samba” foi satirizar a obrigatoriedade de exaltar fatos históricos. Os sambas-enredo são, atualmente, satirizados porque tacitamente seguem uma fórmula que tem que conter palavras como: brilho, fantasia, navegou, libertou, apogeu, e outras abstrações que não significam nada. Sendo assim, qualquer biquíni com umas penas grudadas, na cabeça de um carnavalesco, pode representar uma crítica ao poder repressor ou a exaltação ao deus justo que libertou o povo altivo quando o céu resplandeceu e raiou a liberdade que fez vislumbrar um futuro alvissareiro e com galhardia...
Pois bem, essa festa pode ser enxergada e noticiada pelos acontecimentos positivos ou negativos, de acordo com os interesses ou a realidade. E com a predominância de fatos altamente negativos, no Carnaval, onde teoricamente tudo é permitido, passa despercebido, sambando e andando: malandro e trabalhador e bandido com político. Enquanto isso, “coisas acontecem”.
Durante o Carnaval, o presidente viajou à terra natal do mosquito Aedes Aegypti; uma... cantora... que exaltou marginais pediu ajuda à polícia após ter um colar de R$ 100 mil furtado; um presídio de segurança máxima “teve uma saidinha de Carnaval” e “facilitou” a fuga de 2 presos, que agora serão chamados de soltos; a escola de samba Vai-Vai deu uma aula de “bandidolatria”, fantasiando uma ala com policiais/diabos; criminosos e políticos desfilaram juntos e misturados (se é que você me entende); Daniela Mercury xingou muito; e, no ponto alto desse Carnaval, Baby do Brasil “exorcizou” Ivete Sangalo.
Joãosinho Trinta eternizou a frase “Quem gosta de pobreza é intelectual, pobre gosta de luxo”. A frase é correta, mas faltam umas atribuições que a “elite”, preconceituosamente, tenta jogar para os pobres: a desonestidade, a criminalidade e a idolatria a bandidos (“bandidolatria”).
Favela, para quem está na Vila Madalena e Leblon, é “imersão cultural” com vista para o mar, para o favelado é moradia precária, risco de deslizamento e falta de saneamento e outros serviços públicos; bem como, para uns, usar uma roupa que tenha origem numa etnia diferente da sua é apropriação cultural, para outros, é usar o que tiver. Definitivamente, a arquibancada está muito distante da passarela e o trio elétrico, do chão.
Esse é o novo ‘Samba do Crioulo Doido’ ou, num tempo politicamente correto, “samba do afrodescendente com problema psiquiátrico”.
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