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Banana Boat
Rafael da Silva Claro



Famílias na praia, especificamente em Ubatuba. Aquela coisa: fila do pão, supermercado lotado, isopor por abastecer, a cara pintada com Hipoglós, o corpo besuntado de Sundown,, repelente, transporte de guarda-sóis e cadeiras, criança perdida e queimadura de sol.

Litoral tem que ter um esporte diferente. O que vi não era diferente: frescobol, frisbee, vôlei… Tudo o que vi — como um verão retrô — lembrava uma praia dos anos 80.

Um objeto estranho me chamou a atenção. Puxado por uma lancha, aquela boia gigante ziguezagueava e as pessoas pareciam se divertir. Identifiquei o “esporte” diferente: Banana Boat. Sim, o simulacro de fruta flutuante era tudo o que tínhamos para dar mais emoção às minhas férias. Confesso que não seria a experiência que me daria orgulho contar numa redação do que fiz nas minhas férias. Também não elencaria isso com voo de ultraleve, mergulho, rafting etc.

Eu fiquei observando aquilo, as pessoas pareciam se divertir muito. Os gritos e gargalhadas deram a impressão de que eu, com meu preconceito bobo, estava perdendo algo. Mas a amplitude etária me remetia a compará-los a um grupo de turistas visitando Foz do Iguaçu. Porém estavam se divertindo bastante. Concluí que era o esporte “radical” da família brasileira, um passeio livre de hematomas, inofensivo.

Paralelamente à minha inconfessável vontade de arriscar a única alternativa para dar mais emoção àquela viagem, estava havendo uma pequena discussão familiar, se o tal Banana Boat garantiria a sobrevivência.

A salvação daquele impasse surgiu. Meu priminho, paralelamente a mim, ficou hipnotizado pela geringonça aquática. Bingo! Se eu me dispusesse a acompanhar o garoto, teria a altruísta justificativa para embarcar no brinquedo e disfarçaria a minha real motivação.

Constatando o impasse, eu aproximei e me apresentei como o “adulto responsável” que acompanharia o menor. A farsa estava armada. Eu poderia experimentar a única aventura existente ali, fingindo, com uma expressão burocrática, me lançar ao mar meio a contragosto.

A experiência não me decepcionou, foi mais legal do que eu esperava. De repente, eu estava gritando e gargalhando, me divertindo. Entre cavalos-de-pau, mergulhos e “acelerões” eu achava que seria ridículo e inglório vir a óbito daquele jeito.

Finalmente, voltei a fingir estar cumprindo uma obrigação, entregando o garoto com vida. Por dentro, não conseguia esconder uma indisfarçável euforia por andar de Banana Boat,


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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