Spray de pimenta, perseguições ideológicas, prisões políticas, buscas e apreensões sem crime, decisões ao arrepio da lei (inconstitucionais). Isso acontece, atualmente. Não é 1964, é 2020. Quem promove isso não é o Executivo, é o Judiciário. Um Estado policial pode começar prendendo quem você não gosta.
Nessas manifestações a favor do presidente há faixas pedindo intervenção militar. Esse grito de socorro anacrônico sai dos chamados Intervencionistas; os que querem “ucranizar” o STF e o Congresso -jogar políticos, literalmente, no lixo, como aconteceu na Ucrânia; e aqueles que desconhecem a história.
A ideia que a caserna é um tipo de emergência para acionar sempre que a situação está muito ruim, 56 anos atrás deu muito errado, e poucos sabem como pensam os militares de hoje. Há políticos que precisam ser afastados até de um carrinho de cachorro-quente, mas serão retirados os bons também. O desconhecimento da história ou a falsa ideia de que trocar o técnico resolve tudo, gera clamores como esses. A história encontrará a tempestade perfeita para se repetir como tragédia.
Existe uma turma fazendo uma oposição burra e incondicional a tudo que pareça situação, apostando tudo no quanto pior, melhor. Seja pelo atropelo da Constituição, a inobservância dos Direitos Humanos ou um vírus. Essa turminha, que tem saudades de um tempo não vivido, nutre uma tara por um golpe militar. Gente com essa mentalidade, facilmente cooptável por um Talibã, vê, com romantismo, as imagens dos Anos de Chumbo.
Já prevejo: Jean Wyllys e Marcia Tiburi, no saguão de algum aeroporto, sendo carregados nos ombros do povo, lembrando (copiando) Fernando Gabeira na Anistia; e, provando que, como disse Millôr Fernandes, “não era ideologia, era investimento”: Sâmia Bomfim, Carina Vitral e Isa Penna recebendo a Bolsa Ditadura. Até hoje têm pessoas usando a Ditadura e o autoritarismo como muletas. Nesse caso, a história vai se repetir como farsa.
Nas manifestações, vemos clamores por ditadores, ou seja: alguém, com mão forte, que tenha plenos poderes. Direita: intervenção militar; esquerda: ditadura do proletariado. Essas reivindicações mostram que, ao contrário do que disse Tiririca, pior do que está pode ficar ou nada está tão ruim que não possa piorar.
Pensamentos
Primeiro levaram aqueles com quem eu não concordava
Mas não me importei com isso.
Melhor, eu discordava deles
Em seguida levaram aqueles que eu não gostava.
Mas não me importei com isso
Eu também não tava preocupado
Depois prenderam os “do outro lado”
Mas não me importei com isso
Porque eu tenho mais o que fazer
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
(Paráfrase de um pensamento de Bertold Brecht)
“Que Deus tenha misericórdia dessa nação”.
(Eduardo Cunha)
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