Os grandes momentos de João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão, eram quando ele aparecia doidão. Ele tinha músicas muito legais em meio a uma modinha meio “tatibitate” dos anos 80. Depois, lançou um ótimo acústico (muito bem tocado) por uma grande gravadora (uma enorme contradição). O Lobão músico era legal.
Ele reaparecia sempre com um visual diferente. Suas ideias também surgiam diferentes e confusas. Ele diz que leu bastante. Percebe-se que sim. Ele só não consegue absorver, organizar, transformar em ideia própria e exprimir o que aprendeu. É muito divertido ouvi-lo falar, mas é impossível encontrar clareza e coerência no conteúdo. O que sobra é muita, mas muita repetição.
Há anos, o músico carioca fala de política. Beleza, só que ele muda de ideia como quem muda de roupa. Era muito estranho o velho Lobão de direita, não combina com ele. Se jogar no YouTube o cantor berra o gingle “Lula lá”, em 1989, no Faustão. Além disso, encontramos ele num animado bate-papo eleitoral com o próprio Lula e Zé Dirceu.
Lobão abandonou sua versão mortadela e fantasiou-se de coxinha. Foi estranho presenciar aquele doidão tramando planos mirabolantes com Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho e recitando chavões conservadores como: civilização ocidental, tradição judaico-cristã ou família tradicional. João Luiz Woerdenbag voltou ao “anormal”. Parece que voltou ao lado errado, de onde nunca deveria ter saído.
No mais recente Roda Viva, Lobão, no espectro político que lhe convém, esteve em ambiente favorável. O convite foi prêt-à-porter, claro, porque do centro do Roda, bem como dos jornalistas, o discurso é monotemático. Nota-se pela fraquíssima seleção de perguntadores. Questionavam e, quando a resposta começava a desagradar, tentavam, atropelando a explanação, eles mesmos responderem, satisfazendo o que queriam ouvir.
Eu li a primeira biografia que o músico escreveu. O que percebi, tamanha profusão de contratempos e tragédias, é que, ao contrário da autoproclamada liberdade, Lobão está preso por uma série de eventos do passado. João só fala bem, com agradável conhecimento e coerência, quando o assunto é musica.
O roqueiro doidão não consegue mudar de ideia sem entrar em bolhas: esquerda, direita e, novamente, esquerda. Então, parafraseando o título do livro, ele entra na onda “a mil”. Logo, não me surpreenderei quando ele estiver “numas” “ninguém solta a mão de ninguém” com Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e, seu maior fantasma, Herbert Vianna. Diante de inédita metamorfose ambulante, faço minha a pergunta de Leda Nagle: Você tá lúcido?
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