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Orkut
Rafael Dias




        Outro dia estava pensando no que me levava a participar do Orkut, esse famigerado site de relacionamentos. Parece até leviano deter-se e desperdiçar o tempo com uma questão tão fútil. De certa forma, seria mais um motivo para reforçar a idéia de que professores de filosofia são indivíduos que vivem fora da realidade.
        Eu participava de várias comunidades. Normalmente meus domínios prediletos tinham nomes relacionados à inteligência, ao saber, à filosofia e outros afins. Entretanto, nem sempre o nome corresponde à coisa, e aparência acaba saindo vitoriosa frente à essência.
           Um belo dia me peguei discutindo filosofia com um indivíduo que a odiava. No estágio em que chegamos, odiar não é mais novidade. Não me surpreende. O mais curioso é que tal tamanha aversão parecia injustificada, tendo em conta que o sujeito parecia não ter a mínima idéia do que estava falando. Simplesmente odiava. Cheguei a conversar um certo tempo, até o momento em que pude fazer esta constatação. Deveria ser óbvia para mim à primeira vista, tendo em conta que estava em uma comunidade onde as pessoas se dedicava exclusivamente à esta atividade. Entrei somente por curiosidade, para saber o as razões de alguém detestar algo que me encanta. Mais tarde entrei em uma comunidade que defendia e valorizava a inteligência (quanta presunção minha e dos meus pares também!). Esta parecia um pouco melhor. Pelo menos dava para perceber que algumas pessoas tinham feito leituras que eu já fiz. Havia muitos assuntos com os quais eu também tinha simpatia. Cheguei até a conversar com algumas pessoas sobre Camus*. O problema é que as opiniões eram tão artificiais, tão repetitivas, tão fantasiosas (maiores até que as minhas que me julgava ignorante e esperava aprender com os meus colegas especialistas) que um dos assuntos que eu mais gostava de discutir tornou-se completamente enfadonho e repetitivo. Se eu não tivesse, anteriormente, a oportunidade de ter contato com a obra de uma mente tão sutil como a deste argelino, talvez acabasse sentindo ojeriza do autor. Lembro-me que, na faculdade, havia um professor que sempre falava: “É preciso beber água diretamente da fonte. Nem sempre sabemos o que fizeram com ela no meio do caminho”. Meu Deus! À noite foi pior ainda. Conversando com um outro sujeito (até que o papo estava bom!) sobre o desencanto que a filosofia provoca quando quebra as nossas ilusões, muitas vezes alimentadas por toda sorte de ideologias que permeiam o imaginário popular, acabei fomentando um situação inusitada. Alguém que observava a conversa teve a brilhante idéia de criar um tópico desastroso. Eu ainda tive a infelicidade de respondê-lo.
          Tal tópico propunha um estranho dilema para os participantes: “É melhor ser um filósofo depressivo ou um idiota feliz?”. Pois é, muitas pessoas se enquadraram nas duas categorias. Inclusive justificando as vantagens e desvantagens inerentes à uma ou outra condição. O tópico é aparentemente ingênuo. Entretanto, quando se escolhe um desses grupos para fazer parte acaba-se admitindo que o filósofo é um indivíduo depressivo ou que os idiotas são felizes em sua inépcia. O problema é que eu não me sentia incluído em nenhuma dessas categorias. Mais uma vez acabei como o peixe fora dagua.
           Esse é mais um sinal do esvaziamento, da falta de sentido proporcionada pela forma de viver que escolhemos. As ideologias, as religiões de massa, o apelo à felicidade através do consumo terminam isolando os indivíduos, que vão se tornando cada vez mais artificiais, tal qual o mundo que vivem. Eu também não estou livre. Vez ou outra também sou seduzido pelo impulso. Não resisto e “dou uma espiadinha”.


rapheldiaz_1@yahoo.com.br
           


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