Filosofia e depressão
Para ser filósofo não precisa ser depressivo. Vivemos em mundo fabricado onde o indivíduo é forçado, de certa forma, a inserir-se em algum projeto sugestionado pela sociedade. Você deve ter um time do coração, uma religião, uma profissão, participar de determinados grupos, etc.
A filosofia não traz depressão. O problema é que, quando se é iniciado, entra-se em um caminho sem volta rumo à quebra desses paradigmas. Você passa a entender, por exemplo, que os times de futebol tem como objetivo principal fazer com que algumas empresas lucrem com publicidade. A preocupação com o torcedor não é primordial. Se assim fosse, os times mais queridos não cobrariam pelo ingresso, apenas retribuiriam o carinho. O torcedor, nesse cenário, é apenas um mercado consumidor para determinado produto. Isso ocorre em vários outros âmbitos da vida. Pensamos que estamos fazendo uma coisa muito importante, mas na verdade o que fazemos é abdicar de um projeto próprio para condicionar-se a outros que já estão em andamento. Dessa forma, anulamos a nossa possibilidade de liberdade.
Quando se é iniciado em filosofia (pelo menos aquele que estuda com um pouquinho mais de seriedade) aprende-se a olhar o mundo de uma forma desconfiada. Através desse olhar, é que se percebe que muita coisa que considerávamos relevantes não passam de superficialidades, de forma sem conteúdo. É como se o encanto fosse quebrado, assim como as mágicas do Mister M. Quando se sabe o truque que está por trás da ilusão, aquilo que era encantador torna-se sem graça. O problema é que quando se descobre o segredo do truque, não há outra coisa para colocar no lugar. É como encarar a vida de cara limpa. É nesse sentido que as vezes a vida do filósofo torna-se menos "emocionante" do que a vida daqueles que estão encantados e embriagados por alguma ideologia.
Rafael Dias.
rapheldiaz_1@yahoo.com.br
|