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  Texto selecionado
O casamento do bebum
José Pedreira da Cruz


o que eu quero aqui dizer
não é imaginação
foi um caso ocorrido
no miolo do sertão
onde o povo gargalhava
e o vigário esbravejava
com a tremenda confusão

*
um sujeito cachaceiro
cismou de se amarrar
arranjou uma cabocla
prometendo se casar
marcou mês, dia e hora
para subir no altar

todo mundo do lugar
foi previamente convidado
e um festão de arromba
já estava programado
até o sino da igreja
não ficava sossegado

não havia outra coisa
para o povo comentar
senão do matrimônio
de Anita com Josaffá
um beberrão furioso
que vivia de bar em bar.

chegado o dia marcado
pra se ter o grande evento
todo mundo estava aflito
pra ver aquele momento
pois ninguém queria perder
de assistir o casamento

quando o padre apareceu
muito bem paramentado,
o noivo, que já estava bêbado,
lhe deu um abraço apertado
e bem alto gritou na igreja:
seu padre, agora não tem babado

o vigário ficou sisudo
com aquela situação
mandou Josaffá calar
para não dar confusão
pois Anita já se adentrava
arrastando uma procissão.

o padre saudou a todos
fazendo uma explanação
queria muito silêncio
durante a celebração
mas Josaffá se entretia
com uma garrafa na mão

dizia já estar cansado
de tanto, tanto esperar
que estava de saco cheio
pregado ali no altar
e que se alguém se engraçasse
ele não ia mais casar

o padre, então, deu início
pregando um belo sermão
onde falava do álcool,
do pecado e do perdão
o quê Josaffá não gostou
e quebrou a garrafa no chão

passado aquele momento
só risada ali se ouvia
Josaffá xingava o padre
só por pura arrelia
e com aquele bate-boca
todo mundo se divertia

foi um susto inesperado
para todos os presentes
foi vidro pra todo canto
foi caco em toda gente
e a noiva, rolando em pranto,
foi se esconder lá na frente

Josaffá se balançava
tentando se equilibrar
mas o padre se esquivava
para dele se afastar
e Anita voltou depressa
subindo os degraus do altar

a platéia em zombaria,
assistia admirada,
queria ver o final
da maior das palhaçadas
e todos catavam vidros
em meio às gargalhadas

o celebrante enfurecido
com a estupidez da cena
suspendeu o casamento
marcando pra outra quinzena
mas Josaffá se zangou
e um soco lhe acertou
sem ter dor e sem ter pena

foi o maior arranca-rabo
que por ali já se viu
Josaffá dizia pro padre
vai a puta-que-pariu
e enquanto o pau quebrava
a noiva escapuliu

muito tempo se passou
sem ninguém falar de Anita
não se sabe se ficou feia
ou se continuou bonita
o certo é que Josaffá
quebrou tudo do altar
depois que perdeu Anita

de certo ela enfiou
outra aliança na mão
pois Josaffá, certamente,
lhe seria contramão
era mesmo um cachaceiro
um veterano arruaceiro
um distinto beberrão

a partir daquele instante,
com o casamento acabado,
Josaffá dobrou o vício
pra viver mais embriagado
só depois de uma cirrose
faleceu sem ser chorado.

                      S. Paulo – dez/2006


Biografia:
Nasceu no dia 5 de janeiro de 1948 na cidade de Sátiro Dias-BA, onde estudou o curso primário. Prosseguir com os estudos em Alagoinhas-BA, onde foi comerciário e petroleiro. Depois migrou para Duque de Caxias -RJ e lá concluiu o Curso Técnico de Contabilidade no Colégio Técnico Comercial "Ana Maria Gomes". Em 1975, com esposa e filho, modou-se para São Paulo onde ingressou na indústria metalúrgica e nela adquiriu razoável conhecimento administrativo. Depois, concursado, empossou-se na Secretaria de Estado da Educação onde atua no serviço administrativo. Faz da boa música e da boa leitura o seu melhor passatempo e tem o hábito salutar de tocar violão, compor canções, ler e escrever Poesias, Contos e Crônicas. Possui dezenas de textos publicados em Jornais e revistas literárias (on-line)e tem participação especial no livro “Junco – crônica de sua existência” de Ronaldo Torres, além de inúmeras colaborações no jornal “Gazeta Voz Ativa” da cidade de Sátiro Dias-Ba. Vem neste espaço dedicar letra por letra de seus escritos a sua esposa Marly, a seus filhos e netos, amigos e admiradores.
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