O livro é composto de duas histórias. A primeira relata um episódio da vida de uma senhora analfabeta e alcoólatra que perambula pela cidade de São Paulo depois de sofrer com a morte violenta de seu filho. A descrição da alucinação que a personagem tem no cemitério é fantástica: “...Como guiada por uma força externa, entrou no círculo formado pelas oito imagens femininas. Notou que todas tinham lágrimas nos olhos. [...] Escolheu uma das estátuas, fixou o olhar e a tocou levemente. Uma sensação de calor emanou do corpo de pedra, aquecendo dona Joana até que ela não suportou mais o toque e afastou-se assustada, quase caindo para trás.”
A outra história narra os desencontros de um casal de artistas que não consegue o reconhecimento por seus trabalhos. Cansados de lutar contra um mundo que exclui os desvalidos, eles desistem de tentar. As passagens aludíveis à capital paulista são quase palpáveis: “...É melhor esquecer por uns tempos tudo aquilo que esta cidade representou para nós. Tirar da cabeça as lembranças das noites em claro, dos bares, dos cafés nas madrugadas, das manhãs frias quando passávamos pelas bancas de jornais, pontos de ônibus...”
As duas histórias tratam da perda da identidade e levam à reflexão sobre a capacidade do ser humano de resistir à dor. O autor, que também é fotógrafo, ilustra os textos com imagens tão dolorosas quanto seus contos, mas o resultado final é surpreendente!
Com prefácio de Fernando Bonassi, “Dores de Perdas” é o primeiro livro de Arlindo Gonçalves.
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