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CORPO SEM ALMA
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

Resumo:
A VIDA DIFICIL DE UM CEGO

CORPO SEM ALMA

Este sopro de vida, que me agita,
E tem feito girar, maquinalmente,
É qualquer abstracta, que não grita:
Desisti de pensar que já fui gente…

Nasci sem culpas; quis viver num mundo,
Que só me apedrejou, desde criança!
Lançou-me num abismo tão profundo,
Onde não entra a luz da confiança.

Atacaram-me vermes, com furor;
Ai, tantos! Nem sei qual o mais temível!
Acabou por ser vão o meu vigor.
E reagir, sem ele, é-me impossível…

Viver sem ilusões, é não ter nada
Que justifique a roupa e o alimento!
Carece de razoes esta jornada,
Que pesa tanto, como o meu tormento.

Tendo regularmente algum salário,
Fazem-me as aparências refilão.
Que me importa cumprir um eterno horário,
Se em troca do trabalho há menos pão!?

Qual manequim andante, sem vontade,
Acompanho os demais, no dia a dia.
Em nada tenho fé, nem ansiedade:
Envolve-me cruel anestesia…

Julgo que infelizmente esta doença,
Ai ponto que chegou, não tem mais cura!
Companheira fiel, desde a nascença,
Nem me abandonará, na sepultura…

Fui-me sentindo aos poucos mutilado:
O vírus do fracasso, o meu algoz!
Absurdo era lutar, amordaçado,
Pois ninguém ouviria a minha voz!

Num colete-de-forças me envolveram,
Destruindo o melhor que havia em mim.
Fôlego e coração me mantiveram,
Para o martírio ser maior, assim…

O cérebro não sabe reagir:
Impedem-no de tal as decepções.
Todas as noites, sem poder dormir,
Desespero, no leito, em convulsões…

Inconcebível, um jardim, sem flores;
Um corpo já sem alma, como o meu!
Rude apatia congelou-me as dores,
E apenas o desdém sobreviveu…

Efeitos dum lutar quotidiano,
Com toda a gama de dificuldades.
Sou hoje um corpo amorfo; o ser humano
Sucumbiu, sem talvez deixar saudades…

Encerrei-me em mim próprio, avaramente:
Quase desconheci vozes amigas…
Revoltado, fugi de toda a gente;
Adeus, pura amizade; não me sigas…

Deixa-me só; não vou ser egoísta:
Não te quero arrastar à perdição!
Não há boa vontade que resista
Ao peso de tamanha frustração!

Não há ingratidão; porém, nobreza,
No derrotismo deste vacilar!
Triste conformação, mais que incerteza:
Sendo estátua, não vou raciocinar…

Alegria ou furor, já nada existe:
Sou massa óssea, mas sem reacção!
O maquinismo humano, que persiste,
Manobra tudo; sentimentos, não!

Ouço pregar a paz, fazendo a guerra;
Falam mais da moral os opressores.
E quem mais desrespeita as leis, na terra,
São, por descuido, os bons legisladores…

A revolta dum ser inanimado
É fraca; não detém o cataclismo…
Oh, raça humana, não terás pensado
Que quem te via matar, é o teu cinismo?!...


Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
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