LIBERTAÇÃO
Finalmente chega a hora:
O político modelo
Parte, sem deixar saudades.
Dez anos, foi muito; d agora,
Livres de tal pesadelo,
Não calemos mais verdades!
Em Outubro começava
O fim do reino laranja,
Bem amarga, e já sem sumo.
Toda a gente se expressava:
-isto agora não é canja!
Procuremos novo rumo!
Diz, arrogante, o Cavaco:
-para ganhar eleições,
Só governo em maioria.
Mas encheu-nos tanto o saco,
Que no fim, tais ambições,
São pronúncio de agonia!
Ao ver o barco ir ao fundo,
Foge, antes que seja tarde,
Com uma ideia secreta.
Bradava o povo, iracundo:
-além de seres cobarde,
Ficas em breve pateta!
Tapa o buraco, Nogueira:
Amarga a batata quente,
Mas não refila, indefeso.
Bem luta, à sua maneira!
Mas, vencido, finalmente,
Diz. – Meus amigos, estou teso!...
Não perde tempo, o finório:
Monta logo o seu quartel;
Quer chegar a presidente.
Julgando o povo simplório,
Desempenha outro papel,
Mas todos sabem que mente…
Diz que agora as maiorias
Já são prejudiciais:
Podem virar ditadura!
Só destronado, varias!
Oh, homem!
Tarde demais!
Ninguém crê na tua jura!
Procuras dialogar;
E, com palavrinhas mansas!
Puxa! Ninguém te conhece!
Qualquer um, no teu lugar,
Não consegue tais mudanças!
Mas tal paleio enfraquece!
Habituado às vitórias,
Ao longo de anos sem fim,
Talvez te aguardem reveses!
Anota em tuas memórias:
Viraste Judas, Caim,
Para muitos portugueses!
Com um sorriso amarelo,
Dizer não crer nas sondagens,
Mas sabes que estás vencido!
Foi imprudência, o teu zelo:
Improvisas reportagens;
Em vão buscas o perdido!
Chega a hora da verdade:
Não podes fazer batota;
Que nefastas eleições!
O povo as ruas invade:
Amargar esta derrota?!
Ofendem, tais ovações!
São tempestades colhidas
Dos ventos que semeaste;
Eis teu natal, finalmente!
Duas derrotas seguidas
Provam que o povo cansaste,
E este não foi indulgente!
Adeus, e boa viagem!
Oxalá que quem vier
Não se mostre ditador!
Deturpada a nova imagem,
Só provará que o poder
É, dos homens, corruptor!
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