"Quem corre por gosto
Não se cansa"
Mas já andamos todos cansados
De alguma coisa ou de nada
Corremos por necessidade

Eis que o descanso mata
As mãos sem reacção
E a paragem é armadilhada
Os homens que não se movem
Desconhecem seu futuro

Lutas são obrigatórias
O galardão não é uma oferta
A recompensa é merecida
Para o coração que desperta
Das crostas das suas feridas

As dores no pescoço
A fome de todos os dias
O peso das responsabilidades
Que nos lembram a cruz
A agonia que nasce
A cada dia como o sol
Na noite não se diminui
Cresce enquanto a fé se reduz
Fazem ver com os olhos pesados
Que ambicionam o sono eterno
Cansados de abrir pro inferno
Esquecidos de Jesus

Quem corre por gosto
Sim, cansa-se, também
Mas continua a correr
Só que já não sabe o porquê

E se calhar não é o gosto
Pelo contrário a carência d´algo
Que o motiva a percorrer distâncias
Sem ter medo de morrer

A vida é uma corrida sem fundo
Uma maratona que se inicia
Mesmo quando mal nos sentamos
Quando sequer sabemos quem somos

Por isso é igual a zero
Almejar o remanso
Porque as tramas não se quietam
Mesmo depois da nossa ida.

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