Pátina do tempo é o movimento das palavras que dá significado à obra literária: estilo e detalhes, onde palavras soltas, despojadas, dão o toque pela mistura de ideias e cores, formando uma ação perfeita.
Pode a literatura “despoluir” ao abrir o seu espaço? Penso que sim, porque ler é o encontro consigo mesmo; é uma das maneiras de treinar o olhar sobre a realidade e seus desafios. Por exemplo, Dyonélio Machado, escritor gaúcho que tem sobre si a expressão da literatura; pela ação do tempo; também, lembro Machado de Assis e quanto a sua escrita é contemporânea, porque toca as questões éticas e filosóficas inerentes ao ser humano em todas as épocas.
Porém, precisamos ir em frente, sem as constrangedoras obras de maus livros, que refletem prisões de outrora. Hoje, nas livrarias, encontramos mais volumes de maus livros do que de obras verdadeiramente literárias. Como disse Schopenhauer, “Os maus livros são um veneno intelectual que destrói o espírito. Porque a maioria das pessoas, em vez de ler o melhor que se produziu nas diferentes épocas, limita-se a ler as últimas “novidades”, os escritores limitam-se ao círculo estreito das ideias correntes, e o público afunda cada vez mais profundamente em seu próprio barro”; e, Márcio Catunda afirma “Em livrarias que são cemitérios da cultura, / há editores assassinos da literatura //... Letras lidas com enfado, artes de enganar safado”. Ainda, encontro em Gilberto Cunha, “Um louco chamado Erasmo”, ensaio sobre o livro de Erasmo de Rotterdam, que ele diz ser um dos livros mais famosos e, possivelmente, menos lidos da história da literatura. Esse jogo da literatura versus maus livros é destacado pela incrível manipulação do tempo, levando-nos à finalização dos atos.
Saliento ser possível mudar quando se sabe aonde chegar; é ferramenta poderosa, mas, o que realmente importa é a qualidade da obra. Louis de Bonald ressalta que “A literatura é uma expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do ser humano”.
Na contramão, passo boa parte do tempo em companhia dos livros; fujo da mesmice, que a obra literária vem sempre acompanhada de vários tons, onde os escritores surpreendem pela profundidade das palavras e dos sentimento. Deixo a emoção tomar conta, enquanto o olhar assume a sua postura e a minha voz se ausenta, como em Pedro Du Bois, “Quando minha voz / se fizer ausência, entenda o silêncio / como prova da verdade. //Arrume as palavras deixadas / entre folhas, faça frases // e desordena parágrafos. // Minha voz ausente / estará diante / do esforço. Concentre sua hora / na descoberta dos traços”.
Na pátina do tempo o viés de cada escritor varia com a imagem de suas referências e do movimento dado às palavras; todo processo de trabalho provém do universo criativo; aqui, cito Max Martins cuja obra, “Para não Consolar”, representou a renovação da literatura brasileira.
Escolher o que ler aguça a minha sensibilidade e me coloca no ritmo das palavras que desenham o pensamento do autor, assim, percebo a pátina do tempo, isto é, acrescento conhecimentos, exprimo emoções e, aos poucos, construo ideias e valores que dão graça ao dizer e viver; como encontro na crônica “Para quem o autor escreve?”, de Carlos Pessoa Rosa e, também, no texto de T. S. Eliot, de que “Ao ano passado pertence a linguagem do ano passado. E as palavras do próximo ano esperam por uma nova voz”.
Ao deixar o tempo passar, tenho a oportunidade de verificar o que ele traz e, assim, sobreviver na expressão literária, como força libertadora. Esse é o poder da literatura, que permite ao leitor interpretar seus interesses, modificando seu vivenciar – com deleite – no que retira de cada página. Para Luiz Fernando Emediato, “Por onde anda o poeta, que poucos, senão uns iluminados conheciam?”.
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