Perco o prumo, saio do rumo, fico sem cor quando sonho com a vida. Gosto de ouvir o som do mar, dormir ao luar. Ao usar os sentidos percebo cada detalhe do mundo. Fico surpresa ao ler poesia e sentir mudanças, como novas maneiras de sonhar, como se reservasse um segredo. É o que encontro em Márcio Almeida, no poema Alívio. Ele transforma os padrões e me surpreende como dono do tempo – o presente no futuro – daí rompe os sentidos tão “sedentos” de sonhar. O meu rumo segue as palavras do escritor, como a leveza da brisa e a fúria do vento.
“Uma noite sem pernilongo... / uma chuvinha com raios e trovões em meio a madrugada, /um jornal de TV sem bala perdida, / um dia sem falta d’agua, / um consenso no Congresso a favor do povo, / um dia sem apagão //... um programa de TV sem apelação do sexo, / um político pronunciando a palavra” nós”,/ uma música que não seja só sertanoja ou funk, /... uma religiosidade sem as peias do fanatismo,/ uma manifestação pública sem os excessos do rancor...”
O prumo do poeta é a esperança como luta pelo ideal. Mostra obstáculos intransponíveis e não trai seus princípios: justiça, liberdade e humanidade. Vejo que as nuvens encobrem o sol quando sonho uma vida sem barreiras, mas, tenho certeza de que o sol não desaparece, nem as ideias deixam de serem ares de esperança.
Olho para o mar e vejo que Márcio não se encontra sozinho; seu poema representa a perseverança e a atitude, para não sofrermos sem necessidade na busca do sonho.
“... um único dia sem competividade humana, /um único dia sem cometer devassa na natureza, //... um instante para lembrar que a poesia (ainda) existe”.
O Poeta “grita” em favor da vida, ao retratar palavras que espelham momentos de ambição capitalista e, assim, revela seus direitos.
“... um atendimento no SUS sem omissão, /uma ida ao supermercado sem inflação, / um livro bom que não seja best-seller, /uma taxa que não tenha desempregos, / uma redação do Enem que não tenha nota zero...”
No ar pesado e o mar denso, estremeço ao pensar que os homens tornam a vida em lugares vazios, onde o “sonho acabou”, como canta Gilberto Gil.
Insisto em sonhar porque acredito na existência da justiça, do amor e de palavras como “honra”, para eu descobrir o prumo e o rumo ao crer no ideal e, juntos, lutarmos por ele.
“... uma bandeira branca contra as guerras pelo mundo,/... um espelho para a transparência... / um instante para lembrar que a poesia (ainda) existe”.
Flutuo na brisa, navego em ondas onde encontro a poeira que espalha o sonho. Retorno e passo o tempo buscando a igualdade, a honestidade e a lealdade e, ao mesmo tempo, procuro descobrir por que a vida testa o meu sonho.
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