CRUEL GOLPE
Há muito nascera o dia;
Reinava imensa alegria
Naquela casa modesta.
Gente saía ou entrava;
Quem chegasse, deparava
Com aquela enorme festa…
Trémula, muito nervosa,
Ela aguardava, ansiosa,
Que ele z viesse buscar.
É já verdade; não sonha:
Exulta, feliz, risonha,
Vendo a ventura a chegar…
Na casa, pobre e caiada,
De flores ornamentada,
Perfuma o ar a franqueza!
Quem aqui se demorar,
Vai certamente pensar:
-como é rica esta pobreza!
Venham todos, sem demora;
Ei-los, que partem, agora,
A caminho da igreja.
Tinham achado a razão
De ser, naquela união
Que qualquer deles deseja!
No altar, emocionados,
Por um padre são casados,
Na presença do Senhor.
Gratos, vão olhando os céus,
Pedindo as bênçãos de Deus,
Que satisfez tanto amor!
Regressam já ao seu lar,
Aonde irão festejar
Tão belo acontecimento.
Sendo, embora, indiscrição,
Aceitem a sugestão:
Sigamos o casamento.
O cortejo atravessou
A rua: alguém hesitou…
Travando, um carro rangia.
Da jovem recém-casada,
Mortalmente atropelada,
O sangue, quente, escorria!...
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