São tão distantes as palavras das emoções que descrevê-las é sempre um martírio. Mas cabe ao poeta, dotado de um dom indescritível para com as palavras, usá-las com maestria e jogar em nossas caras, de maneira indecente, sua genialidade em nos mostrar os sentimentos no papel.
Acredito eu que, com o passar dos anos, falar de sensações como o amor, a tristeza, a felicidade e a solidão se tornam simples, pois adquirimos a experiência delas na carne. Somos de carne e osso, sentidos e emoções. Somos dotados da capacidade de amar, de sorrir, de chorar, de sonhar.
Sinto, toda vez que sento para escrever, uma inquietação. Não por faltar idéias, mas por existirem mundo em minha mente que são quase intransponíveis ao papel. E que quando passados, perdem toda sua eloqüência de tão reles suas descrições. Talvez seja a mísera habilidade deste autor em descrever os sentimentos, tal como citado acima; ou apenas a dificuldade em ser apenas eu e o texto, eu e a história.
O incômodo e o perfeccionismo são as maiores companhias dos escritores. Nada está realmente concluído. Nada não pode sofrer um último ajuste, retoque, mudança, incremento.
O texto cria vida. Torna-se um filho. Cria um laço de paternidade entre autor e obra, Deus e a Criação. Talvez, e só talvez, sejamos um pouco megalomaníacos. Talvez, e só talvez, criamos alguns monstros dos quais o pé não se encaixa ao resto do corpo. Mas saiba, caro leitor, que em nossas cabeças há sentido!
Sonhos tomam forma de palavra, de parágrafo, de páginas e capítulos. Aquelas pequenas tempestades em nossos cérebros se materializam em nossos meios de escrita. Sim, são nossas idéias que são jogadas, às vezes sem o mínimo de sentido, e compõem a confusão de nossos textos.
As histórias, das mais variadas possíveis, são retalhos de nossas experiências. Costurados um a um formando uma grande colcha colorida. De vez em quando não combina com o resto da mobília, ou do jogo de cama, mas é em si, uma verdadeira obra de arte. Nessa obra temos o reflexo do autor, no grau mais inconsciente de seu ser. Esses retalhos são suas emoções, histórias de vivência, caminhos, escolhas, e tantas outras marcas de suas vidas que é quase impossível distinguir o que é criação e o que é criador. Como pai e filho, novamente, este receber genes e fenótipos desse, tendo muita semelhança entre ambos.
Há um carinho do autor por sua obra. Algo único. Afinal, cria-se uma ligação após horas de duro entalhe. Peça por peça posicionada cuidadosamente em um formato único, original. Muitas vezes, toma a forma da inspiração. Forma de homem, mulher, amigo, amiga, namorado, namorada, pai, mãe, irmão, irmã, tio, sobrinho, papagaio, cachorro...
No fim formamos um enorme castelo de cartas, que no primeiro sopro vem ao chão. Esse sopro é a incompreensão de alguns leitores ante a sensibilidade daquela justaposição de palavras organizadas de forma tão artística. Essa configuração se for bagunçada num mínimo detalhe tira toda a mágica, toda a emoção, todo o sentimento.
De que vale um texto descontextualizado?
Elio Moratori Teixeira
(24/12/2015)
|