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A VELHA SENHORA E O MAL DE ALZHEIMER
Samuel Lisboa


Diz-se que a corrupção remonta ao século XVI quando Pero Vaz de Caminha pedia ao Rei de Portugal terras para seu genro numa clara demonstração de nepotismo, passando por Visconde de Mauá e pelos políticos da república a partir de 1889. Estranhamente, até hoje a população indignada atribui todos os males do País a esta velha senhora como se ela fosse uma menina de doze anos, sem apoio dos pais, que já estivesse na prostituição, com seios fartos e presa fácil para os pedófilos. O pensamento e as emoções do cidadão brasileiro eleitor (não obstante o tempo de reflexão proporcionado pelo TSE antes do pleito), nos lembra uma criança que vai fazer a sua maior travessura do ano. Naquele momento sagrado, naqueles segundos que podemos mudar o País e este estado de coisas, algo muito profundo acontece na mente da maioria dos eleitores. No meu livro chamo isto de síndrome de prostituta. Trata-se de uma mistura de sentimentos que vão desde a descrença, passando pela amnésia e chegando finalmente no mais absoluto masoquismo.
Com relação ao discurso anticorrupção é estranho que quando o País crescia a uma taxa de 5% ao ano no governo Lula, este discurso era esquecido pela população e também pela mídia que não via vantagem alguma em noticiar desmandos e maus feitos do governo e dos políticos em geral, pois o IBOPE seria bastante fraco. Portanto, chegamos a conclusão que se a corrupção é uma velha senhora o discurso anticorrupção é seu par, um velhinho com graves problemas de Alzheimer. Os brados retumbantes de Carlos Lacerda no governo Getúlio Vargas e Jânio Quadros com sua inseparável vassourinha e mais recentemente o impeachment de Collor que caíram no esquecimento graças a uma falha patológica na nossa memória de longo prazo, faziam as oposições   se utilizar dos discursos anticorrupção como fio condutor das campanhas políticas, sempre com o objetivo da tomada do poder em nome da ética. Nas décadas de oitenta e noventa os políticos petistas também incorporaram este discurso com tanta propriedade e eloquência que a população por mais incrível que pareça acreditou, sem saber que as práticas políticas no Brasil não poderiam ser abandonadas como num passe de mágica, e que as boas intenções estavam embasadas nos complicados tratados sobre ética na política.
Infelizmente a corrupção está tão impregnada neste País que até para construir um barraco na favela ou instalar a barraquinha no camelódromo temos que molhar a mão de alguém. O que se diria então para conseguir um habite-se da prefeitura. Nos dias de hoje, a corrupção mais parece uma ferida aberta que teima em não cicatrizar e o discurso contra ela é na realidade um subterfúgio daqueles que não tem propostas concretas para o País. A mídia, movida pelos ventos da conveniência noticía com notável engajamento as operações da Lava-Jato entre outras, se esquecendo logicamente do enriquecimento de cartolas brasileiros as custas das benécies desta mesma mídia, para obter exclusividade em transmissões esportivas.
Os esforços de juízes e promotores dessa nova geração que mais parecem xerifes superdotados e que como em Mariana carecem de estrutura suficiente para conter o inexorável mar de lama, correm o risco de ver todo seu trabalho transformado em pó.
O congresso brasileiro que não aprovou o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, logicamente de olho no seu próprio rabo e nas suas cabeças brancas, fazem uso da jurisprudência de não produzir provas (ou malefícios) contra si próprios .
Assim, é bem provável que passaremos muitos anos ainda ouvindo este mesmo discurso e nos esqueceremos de quem fomos, de quem somos, e de nosso desejo de construir um futuro melhor.



Biografia:
Escritor,formado em teatro no teatro Célia Helena, estudou no colégio Equipe em 1982. Trabalha como repórter free lance
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