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SÍSIFOS NOS INFERNOS
Lasana Lukata

Já ouvi falar de fugas maravilhosas aqui na terra como a Fuga de Alcatraz e a Fuga de Edmond Dante, O Conde de Monte Cristo. Fugas cinematográficas com a presença de helicóptero e tudo aqui no Rio de Janeiro. Mas nenhuma delas se equipara a manhosa fuga de Sísifo dos infernos. Sísifo, fundador e rei de Corinto, foi castigado por Júpiter que lhe enviou a Morte por ter contado a Asopo o nome do raptor de Egina, sua filha. Júpiter a raptou.
Ocorre que Sísifo venceu e aprisionou a Morte e durante um tempo ninguém morreu, porém, Sísifo libertou-a por ordem de Júpiter e a Morte foi solta e Sísifo teve que segui-la aos infernos. Antes, pediu à esposa que não o enterrasse.
Ao chegar no reino dos mortos, solicitou permissão para voltar à terra e castigar a esposa desobediente. Plutão consentiu, mas Sísifo não voltou mais, conforme prometera. Fez como muitos presos de hoje que pedem para passar as festas de fim de ano em casa e desaparecem do mapa.
Conta a história grega que Sísifo morreu velhinho e, ao entrar nos infernos, para não fugir mais, foi condenado a tarefa de rolar uma enorme rocha por uma ladeira e cada vez que chegava ao topo, a rocha caía, forçando Sísifo a recomeçar o trabalho.
Lembro que no meu tempo de adolescente tudo parecia macumba. Eu mesmo pensava que o mundo era um grande tambor. De duas em duas casas havia uma macumba. Antigamente, Centro cultural de morro era macumba. Uma verdadeira Macumbocracia. Mas venceu o Espírito capitalista e muitas mães e pais de Santo tornaram-se pastoras e pastores protestantes, alguns pretextantes, e aí a cada duas casas passaram a existir igrejas. Era a Eclesiocracia. Hoje é Piraquara, mas o bairro onde moro já foi o com mais igrejas. Umas setecentas. Hoje tem umas mil, segundo o IBGE dos meus olhos.
Agora estamos passando por outra revolução e em breve a cada duas casas haverá um banco. É a Bancocracia. Vejam que acordei pela manhã e dei de cara com um nome diferente na minha pequenina cidade: Santander. Não sei o significado do nome literalmente, mas sendo banco todos eles têm um significado comum: lucro. Tanta bondade para no fim lhe tomar o suor do teu rosto. Não inaugurou com bolas e bolo. Para falar a verdade já fui convidado para enterro de anão, mas nunca fui convidado para a inauguração de um banco. Chegam secretamente como alienígenas. Quando vemos já estão lá, de portas abertas, dizendo que querem nos ajudar.
Há cidades cujas praças principais são coloridas por flores e pássaros, no entanto, o colorido da minha cidade vem dos bancos: o verde do Banco Real, o amarelo e azul do Banco do Brasil, o laranja do Itaú, o vermelho do Bradesco, HSBC e Santander que por certo vai ser mais um banco a capturar o meu amigo Jessé que, coitado, fez empréstimo no Banco Real para pagar outro empréstimo que havia feito no Banco Rural. Agora, seduzido por menores taxas de juros, vai fazer outro empréstimo na Caixa Econômica para pagar os empréstimos do Banco Real e Banco Rural porque pobre sempre cai no refinanciamento. Pobre se distrai com qualquer Espírito de carnaval, Espírito de futebol medíocre e suspeito. Mas o mais perverso de todos os Espíritos Imundos é o Espírito de Natal que toma dos pobres todo o seu décimo terceiro e quarto se tivessem.
Quem sabe num futuro próximo Jessé não vai cair nos braços do Santander para pagar os empréstimos do Rural, Real e Caixa? E depois vai chegar outro banco com taxas menores e Jessé iludido feito um Bovarista, achando que vai conseguir pagar esses empréstimos patológicos, fará mais um empréstimo para pagar o Rural, Real, Caixa e Santander? Parece trabalho de Sísifo, inútil, que acaba e recomeça: rolar pedra ladeira acima. Eternamente. Mas Sísifo sofre menos porque a sua enorme rocha é sempre do mesmo tamanho; Sísifo sofre menos porque a sua ladeira é estática, não cresce; percorre sempre a mesma distância na sua ladeira, entretanto, Jessé, o nosso Sísifo de São João de Meriti, percorre a cada dia uma distância maior porque a sua ladeira de juros cresce. Muitos como Jessé, condenados a rolar uma enorme rocha de juros por uma ladeira que não pára de crescer encorcundando a vida. Infernos piores que os dos gregos. Os bancos falam de ajuda, mas no fundo apostam é nos bovaristas. O que seriam deles se não fosse o Bovarismo?!
O BID, por exemplo, foi criado, visando o crescimento dos países latino-americanos. E esses países, com responsabilidade, crescem 3% ao ano, com irresponsabilidade, como a Argentina, segundo os nossos maiorais da economia, dá para crescer 9%. Que crescimentos! Golias liliputianos! Um país como o Brasil apto a dar bananas-da-terra, mas Yes, nós temos bananas nanicas! Olhando para o interior da agência Santander deu para ver a modernidade. Cada vez mais as agências bancárias se modernizam. Há vários tipos de banco: Centrais, comerciais, Industriais e internacionais como FMI, BIRD e BID, famosos entre os países pobres. E só uma fuga milagrosa de um Conde de Monte Cristo para se livrar desses infernos.


Biografia:
Lasana Lukata é poeta, escritor por usucapião, São João do Meriti, RJ.
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