Agitam-se as ondas na superfície, que em cores alegre refletem o azul do céu ou o verde das algas. Outras, porém, mescladas de areia, são turvas. Mas quem poderá sondar os lugares ocultos do oceano? Perigos das profundezas espreitam as densas trevas com olhos sorrateiros e bocas vorazes, e assim é com minha alma que transborda luz, embora nela habite o desconhecido.
A vida, tal como as ondas, sobre-existe através do movimento. O tempo passa veloz e a realidade emerge palpável em som, cores e formas. Mera ilusão! Como o oceano e o vazio que afloram e se transformam diante da inconsistência do existir ou, como as nuvens que formam, deformam, depois vão embora, assim é o nosso viver.
Pior que a dura realidade abaixo da superfície, é o nada, pois como o abismo ao qual não se pode medir ou as trevas que sugam tudo para si, ele é o reverso da criação. “Então disse Deus: haja luz” e por sua ordem, por meio da palavra, despertou o silêncio, desfez o que era sem forma e aniquilou o vazio, trazendo-o ao mundo do existente, pelo conceito. E assim, estabeleceu-se a eternidade, uma vez que antes e depois dela só houve e haverá aquilo que não é mais.
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