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O homem sem sombra
Copyright© 2015 by Otaviano Maciel de Alencar Filho
otaviano maciel de alencar filho

Foi uma surpresa desagradável e ao mesmo tempo aterrorizante, quando Leomar se deu conta der que não tinha sombra. Isso mesmo, seu corpo não produzia sombra quando ficava entre uma fonte de luz e um anteparo onde sua sombra pudesse projetar-se.
Era um dia de sol escaldante, e enquanto caminhava resolveu amarrar as tiras das sandálias que estavam frouxas. Foi quando percebeu a ausência da sombra que o seu corpo deveria projetar no solo torrificado sob a ação da luz proveniente do astro rei.
Assustado e ao mesmo tempo sem saber o que fazer, voltou imediatamente para casa e passou alguns dias sem sair do recinto.
Notando a ausência de Leomar, moradores da vizinhança, que só o conheciam de vista, resolveram ir até sua casa e saber o que estava acontecendo. Chegando, encontraram a casa fechada. Foram chamando por ele:
- Alguém, está ai dentro?
Nenhuma resposta foi ouvida. Após alguns minutos resolveram “botar a porta adentro”.
A surpresa foi geral, quando encontraram, em um canto escuro da cozinha, Leomar que, acuado e acabrunhado relutava em deixar o lugar em que se encontrava e sair para conversar na varanda da casa.
- Vamos senhor, saia deste lugar sombrio. – Falou um dos vizinhos.
Com voz trêmula e reticente, o homem redargui:
- Não posso, estou doente, não posso tomar sol.
- Que conversa tola é esta, o sol é fonte da vida. – Disse um senhor de meia idade.
Enquanto a conversa se desenrolava, alguém teve a ideia de acender um candeeiro que se encontrava sobre a mesa. Léo advertiu que mesmo a luz do candeeiro, era-lhe prejudicial. Entretanto o mesmo foi aceso e puderam ver o homem, que estava tremendo de medo. Ninguém notou nada de anormal e não entendiam o motivo de tanto assombro, até que Léo, ficando entre a fonte de luz, não projetando sombra na parede chamou a atenção de um uma senhora que, espavorida, gritou:
- Meu Deus! Virgem Maria, o homem não tem sombra!
Quando todos constataram o acontecimento saíram do local, apavorados. Logo a notícia se espalhou pelo arraial.
Com o passar do tempo, Leomar acostumou-se com o fato de não ter sombra e passou a ter uma vida quase normal, evitando sair de dia sob a luz direta do sol e para isso utilizava-se se um grande sombreiro. Foi esta a forma que encontrou para esquivar-se da lembrança da ausência de sua sombra.
O “Homem sem sombra“, como ficou conhecido na cidadezinha onde morava, despertava a curiosidade de todos os moradores e até mesmo de visitantes de outros locais que vinham para vê-lo e constatar a veracidade do fenômeno. Todos queriam saber se era possível acontecer algo inusitado, como o de não se ter sombra.
Muitos acreditavam que tudo não passava de charlatanice e consideravam-no um exímio prestidigitador.
Durante muito tempo foi alvo de pesquisas que, inconcludentes, não chegaram a afirmar a veracidade do fenômeno que, no entanto, passou para o rol dos acontecimentos miraculosos.
O intenso assédio das pessoas, com seus faróis de luzes ofuscantes, na esperança de captarem nem que fosse uma penumbra de seu magérrimo corpo, tirava-lhe o minguado sossego.
Certo dia, quando caminhava pelo povoado, observou um transeunte que se encontrava diante a vidraça de pequena loja. Aproximou-se e começou uma pequena conversação, enquanto ambos admiravam os produtos expostos através da vidraça.
Subitamente, Leomar foi tomado de um imenso susto quando não viu seu reflexo na janela de vidro. O medo foi maior ainda quando notou que o homem ao seu lado também não refletia sua imagem, o que o levou cair no chão de tão apavorado que ficou. O desespero aumentou ainda mais quando, já no solo, viu que o homem também não projetava sombra no chão.
- Que foi, sou tão feio assim que assusto as pessoas? – Falou o estranho.
Leomar não ousava abrir a boca e, petrificado,ouvia os reclames do homem.
- Levanta rapaz, parece que está vendo defunto!
Trêmulo e fatigante, Leomar balbuciou:
- Se estou diante de um morto não sei... Mas desconfio que eu... Não esteja mais vivo.



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