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O bêbado e o motorista
Copyright© 2013 by Otaviano Maciel de Alencar Filho
Otaviano Maciel de Alencar Filho

Quando o coletivo deixou o ponto final, no centro da cidade, para iniciar nova viagem, logo no início da manhã, rumo ao subúrbio, levando em seu interior aproximadamente quinze passageiros, ninguém poderia imaginar o que sucederia a partir daquele instante.
Alheios aos acontecimentos do porvir, os passageiros, cada qual em seu mundo interior, exceto um senhor de meia idade que se encontrava sentado em uma poltrona, no canto esquerdo da traseira do veículo, que, aliás, apresentava visíveis sinais de embriaguez, ignoravam a beleza da exuberante vegetação, composta de árvores centenárias, dentre as quais se podiam identificar magníficos Ipês Amarelos e Roxos.
O cobrador do coletivo, de sua poltrona, observando atento o homem sentado no final do ônibus, e percebendo que o mesmo se encontrava ébrio tratou de ficar quieto em seu lugar e esperar até ele resolver passar pela roleta e seguir seu destino, afinal ele não estava incomodando.
Subitamente, o homem arregala os olhos e depara-se com o cobrador olhando para ele e pergunta com voz estridente:
- Tá olhando o quê, nunca viu um homem embriagado?
                        - Nada, apenas estou vendo se está tudo bem com o senhor! - Respondeu.
- Claro que está tudo bem, o que poderia estar errado comigo? Só porque tomei uns goles a mais preciso de cuidados especiais? Falou com uma voz arrastada.
                        - O senhor não entende o que digo. Quero dizer que na situação em que se encontra, pode sofrer um acidente, caso o motorista precise brecar repentinamente o veículo. - Falou em tom amistoso para não irritá-lo.
                        - Você tá de brincadeira comigo. Esse carro parece uma tartaruga andando, já faz um tempão que eu deveria ter chegado a minha casa e nada. - Falou debochando.
Os passageiros saíram da inércia sensorial em que se encontravam e assistiam ao diálogo sem se envolverem no caso. O motorista, pelo retrovisor interno, passou a acompanhar a movimentação nos fundos do veículo e pôde escutar toda a conversação. Sentindo-se ferido no orgulho, tratou de mostrar perícia no volante e “sentou” o pé no acelerador.
O ônibus desceu ladeira abaixo velozmente. Os passageiros, apavorados, gritavam e pediam ao motorista para ir mais devagar. O condutor, porém, estava ensandecido e sequer ouvia os clamores dos passageiros.
- Até que enfim o chofer resolveu tirar o pé do freio. - disse o homem, bradando, e dirigindo a palavra aos passageiros.
- Não sei qual o mais louco dos dois, o senhor ou o motorista. - Falou uma senhora, que trajando um jaleco branco, se agarrava ao ferro da poltrona a sua frente, para não ser arremessada no soalho do ônibus.
- Então, não quer chegar cedo a sua residência? A senhora passou a noite trabalhando no pronto socorro, não foi? Está com sono, pensa que não a observei tirando um cochilo na cadeira? – Concluiu, adiantando-se até a roleta.
- Desse jeito, meu senhor, vou chegar cedo é no céu!- Respondeu a mulher, apavorada.
O motorista, observando que o homem havia levantado do banco, sem se importar com a segurança dos passageiros brecou bruscamente o veículo. O homem, atravessando a roleta, foi arremessado no piso do carro e saiu rolando até a dianteira do coletivo detendo-se próximo ao motorista, que esbraveja:
- Então, engraçadinho, tá querendo briga?
- Não, senhor, o que quero agora é ir para um hospital. Estava só me divertindo um pouco, coisa de bêbado. Não pensei que fosse levar a sério esta brincadeira - Falou o homem, agonizante, que apresentava um corte no supercílio esquerdo, que sangrava bastante, um hematoma à altura da nuca, além de várias escoriações pelo corpo. Alguns passageiros também sofreram escoriações, porem, leves.
A passageira, auxiliar de enfermagem, aproximando-se, tratou de acalmá-lo, comprimindo a área afetada pelo corte. Levantando o olhar para o condutor do ônibus, falou:
- Veja só o que uma pessoa com raiva é capaz de fazer. Se não tivesse dado ouvidos aos seus reclames, isto não teria acontecido. O senhor também esquece que pôs em risco a vida de todos dentro do coletivo, inclusive a sua?
- Ora, bolas, não tenho “sangue de barata”. Ele precisava de uma lição.
- Por acaso o senhor acredita que um erro conserta o outro? Eu respondo que não. Observe agora a situação: Um homem ferido, precisando de cuidados médicos com urgência; e ademais, você poderá responder processo por lesão corporal dolosa.
Nesse momento, o motorista refletiu sobre sua atitude, e um tanto embaraçado não conseguia esconder o sentimento de vergonha que se apossava de seu ser, enquanto os passageiros dirigiam-lhe palavras de desaprovação a sua conduta.
- Vamos leva-lo imediatamente ao hospital- Disse o mesmo. É o mínimo que posso fazer, por enquanto!
Os passageiros desceram do coletivo, aguardando outro para prosseguirem a viagem.
O condutor, tomando a direção do ônibus, acelerou abruptamente o coletivo que saiu, “cantando pneu”, rumo à emergência hospitalar mais próxima, levando consigo a profissional de enfermagem e o homem ferido!




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