CRISTIANE GRANDO
FLUXUS
“Miro la palabra que se vuelve agua en el desierto
y la palabra ya no es agua sino luz.”
Carlos Alberto Trujillo
“…obedeciendo las ordenes del espíritu de las aguas, en forma de una
serpiente monstruosa que se conoce por el nombre de Cai Cai Vilu,
las aguas del mar iniciaron un movimiento veloz inundando
las tierras y sepultando sus habitantes. Entonces se presentó el espíritu
protector de la tierra en forma de serpiente llamada Ten Ten Vilu…”
Mito chilote - Isla de Chiloé - Chile
“…todo estuvo bien
hasta que un día,
al sacar la luna del mar
con el anzuelo,
al ver el agua
escurriéndose en nuestras piernas...”
Mario García
pensas
que sou feita
de carne, ossos, sangue?
não
sou vento, chuva, fogo, nada
às vezes
é bom sentir fome
para só depois morrer
de saudade
meu último poema:
insuportável a perfeição do gozo
sangue
vejo somente sangue
e chuva
para que a introspecção?
para que ver o obscuro?
me ama mas não me olha
com a profundidade
dos olhos que não vêem
sinto a falta de suas mãos
é como se no mundo
já não existissem
nem um pai
nem um deus
escrever pode ser um ato de amor
mas também o suicídio
das palavras
alguém canta ao longe
alguém canta em meus ouvidos surdos
náuseas
eu que estou quase morta
da vida e do silêncio
escrevo para ser
porque estou
e ainda corre
o vermelho da vida
escrevo num fluxo dinâmico de estrelas
num quase-escuro do quarto
para não ver as letras
para ver somente para ver
a perfeição
infernal o calor do corpo suando sob as roupas
sei da angústia de Virginia Woolf
e dos hormônios da mulher
que explodem como vulcões
tenho medo dos terremotos;
sou filha destes movimentos que moram desde sempre
em minha paisagem
jamais escrevi tanto a um só tempo
talvez esteja pronta para a mensagem cifrada;
amanhã compreenderei as frustrações do hoje
como tu, Carlos,
compreendes
somente no agora
tuas palavras e filhos do passado
que graça, leveza e peso
carregam as palavras e os filhos
que hão de chegar
um dia
poeta-escultor-de-silêncios-e-pedras
que doçura e amargor
suportam os fonemas e os versos
a morte e seu duplo vêm
seduções e mistérios
marmortemar
a morte vem
a morte que habita em mim
a morte e seus ecos
queria tanto ser homem
e talvez assim
pudesse ser menos
morte
abandono é o meu nome
meu ser gestado pelo tempo
cicatrizes no rosto
muito mais que as rugas
cicatrizes na cara
em que o mundo bate
e bate e bate
como o vento nas janelas
de uma casa abandonada
escrevo
como se fosse um só grito
na noite
escrevo, escrevo e escrevo
energia escura do multiverso
pluriversa-se a noite
e anoitece ainda mais
Fluxus: poema escrito por Cristiane Grando em 24 de setembro de 2004 na cidade de Castro, Ilha de Chiloé, Chile; revisado pela autora, traduzido ao espanhol e ilustrado pelo poeta Leo Lobos em outubro do mesmo ano no Jardim das Artes, Cerquilho-SP-Brasil. Traduzido ao inglês por Levana Saxon e ao francês por Espérance Aniesa e Cristiane Grando.
agradecimentos
Ademilton Silva dos Santos, Adderly Bigelow, Carlos Alberto Trujillo, Cristiano Diniz, Eric Sabinson, Eric Zorob, Espérance Aniesa, Geruza Zelnys de Almeida, Jordi Augusti-Panareda, Jorge Coli, Leo Lobos, Levana Saxon, Luciana A. da Silva, Lúcio Paiva, Mario García, Philippe Willemart
dedico estes fluxus
a Sérgio Grando e Jorge Bercht
Poema leído en 2005 por la autora en el Encuentro de Escritores Confluencia Literaria en la Patagonia, Neuquén, Argentina, en el XIII Congresso Brasileiro de Poesia, Bento Gonçalves, Brasil, en la II Semana das Artes, Cerquilho, Brasil y en el espacio cultural Casa do Lago, Universidad Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil. Presentado en el VIII Encontro Internacional da APML (Associação dos Pesquisadores do Manuscrito Literário- Asociación de Investigadores de Manuscritos Literarios): Lecturas de Procesos creativos. Casa da Cultura Japonesa, Universidad de São Paulo, USP, Brasil.
Registro de Propiedad intelectual 149.040, ISBN 956-299-779-0.
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