Não podes me acusar de não ter tentado,
imortalizar em versos tua compleição atlética,
que abala até o credo da pessoa ascética,
atiçando a volúpia de quem a tem avistado.
Teu corpo tem o fascínio da firmeza rupestre
que afronta, majestosa, a erosão do tempo,
qual bronze que é do escultor o inspirado alento,
se moldado na paciência artesanal de um mestre.
Esses músculos incitam o coração aventureiro
a reviver a saga que d Perseu fez herói,
nesse corpo que é labirinto do Minotauro feroz
que na batalha da paixão do abatido é carcereiro.
Perigoso mais se torna no manhoso andar
de felino insaciável na busca d'outra presa
que ao hercúleo amante se entrega sem defesa,
em troca da dor que o tempo não vai abrandar.
Mas, meu caro, não basta o homem ser belo
nem fervoroso amante na conquista do amor;
é louvável àquele que conhece o valor,
da entrega profunda que é do respeito o elo.
Não podes me acusar de não ter tentado...
Encobrir teu narcisismo com poético lirismo,
mas a verdade irrompe do frágil cinismo
destronando quem a avilta no egoísmo atado.
Perdoe-me, caro, mas da poesia sou escrava.
Se minh'alma é gameta potente da fecundação
dos versos que maduram no útero do coração,
como posso o filho abortar que à verdade adestrara?
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