Quantas tintas joguei no mar!
Nem pude usá-las para pintar
O sonho lindo que nascia em nós...
Por quê?! Criaste tudo, tão feliz,
E tu mesma agora esbanjando sangue em minha cerviz
Assassina essa vida... Deixa-a sem voz!
Nem sei o que faço agora!
Deixa-me sem rumo e leva a hora
Perdida pelo tempo repentinamente desfeito.
Horas tristes e inertes agora eu vivo;
Tenho que ver o meu carinho cativo
Na clausura que deixas em meu peito...
E pensar que me ensinaste a te amar...
- Quantas tintas comprei para pintar o mar
Só para vê-lo abraçando a nós...
E, no entanto, com as lágrimas a suster,
Tenho que erguer a cabeça... te esquecer...
Desfilando as contas deste amor a sós!...
Sim! É verdade... Nem te disse né!...
Mas é que eu acreditava, tinha fé
Que nossos dias seriam felizes... felizes... sim...
Estrela pequenina – com a Mão de Deus virou sol,
Mas no fim de tarde, com o arrebol,
Virou somente manchas vermelhas... do dia é o fim...
Ah! Que triste... cortarei as cordas azuis
Com que eu puxava a lua, e os astros de luz
Para entregar aos teus pés... como prova de amor...
É hora!... Já sei... tornarei-me um moribundo.
Perdi-te... agora sei que não sou tudo –
Só minha poesia restará do teu calor...
E nem pude no frio da desilusão
Pôr em ti a coberta do meu coração
Ser para ti o motivo de um sorriso...
E quando a vida te fosse um duro inferno,
Juntando as flores mortas, tirando as cores do inverno,
Fosse, os meus versos, a face do Paraíso...
Nem pude... Antes isso! Melhor, muito melhor,
Do que ver a fogueira imensa virar pó
Antes que já irreversível fosse o engano...
- Sonho! Ergue as tuas asas de opala!
Meu coração está morto, levo-o na mala,
Mas ele ainda sussurra: “Te amo... te amo!”
Hora de partir! Mas saiba: meus passos
São uma boca sedenta pelos teus abraços...
Ah esquece! Desculpa, nisso não mais falarei!...
Sei que não sou... queres alguém que te mereça...
És linda... acharás!... Mas nunca, nunca te esqueça
O que já fomos... que te amo... que te amei!
|