Por João Calvino
“abstende-vos de toda forma de mal.” (I Tessalonicenses 5.22)
“De toda a aparência do mal”. Alguns pensam que esta é uma afirmação universal, como se Paulo tivesse comandado abster-se de todas as coisas que se defrontam conosco e que possuem uma aparência de mal. Nesse caso, o significado seria, que não é suficiente ter um testemunho interno de consciência, a menos que se tenha ao mesmo tempo, consideração pelos irmãos, de modo a prevenir ocasiões de ofensa, evitando qualquer coisa que possa ter a aparência de mal.
Aqueles que explicam a palavra “forma” à maneira dos dialéticos como significando a subdivisão de um termo geral, caem num erro extremamente grave. Porque Paulo empregou o termo “forma” no sentido do original grego que significa comumente “aparência”. Isto também pode ser interpretado má aparência, ou a aparência de mal. O significado, no entanto, é o mesmo.
A frase aparência de mal, ou a má aparência, eu entendo como significando - quando a falsidade da doutrina ainda não tem sido descoberta de uma tal maneira, que ela possa ser rejeitada com boas razões; mas, ao mesmo tempo, uma suspeita infeliz é deixada sobre a mente, e os temores são entretidos, para que não haja algum veneno à espreita. Ele, portanto, nos ordena abster-nos daquele tipo de doutrina, que tem uma aparência de ser má, embora não seja realmente assim - não que ele permita que ela deva ser totalmente rejeitada, mas que não deve ser recebida, ou obtenha a nossa crença. Por que motivo ele tinha previamente ordenado que o que é bom deve ser abraçado rapidamente, enquanto ele agora deseja que eles devem abster-se, não somente do mal, mas de toda a aparência do mal? É por esta razão, que, somente quando a verdade for trazida à luz por um exame cuidadoso, é que ela pode receber crédito seguramente. Quando, por outro lado, há qualquer receio de falsa doutrina, ou quando a mente está envolvida em dúvida, é adequado, nesse caso, retirar ou suspender o nosso passo, como se costuma dizer, para que não recebamos qualquer coisa com uma consciência duvidosa e perplexa. Em suma, ele nos mostra de que maneira a profecia será útil para nós, sem qualquer perigo - no caso de estarmos atentos para provar todas as coisas, estando o nosso ser livre de morosidade e pressa.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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