Eu ainda observo seus olhos em cada foto dessas que você odeia que eu guarde. Nos últimos dias eles, que me arrancaram sorrisos bobos até pouco tempo, me deixam triste. Eu vejo tristeza no teu olhar, vejo uma dor fina e insuportável que eu sinto quando penso nesse lendário “nós”. Já não sei se seus olhos são tristes e eu nunca notei ou se eu aprendi a olha-los de forma triste, como olho essa nossa história onde apenas eu participo, as fotos que nunca tiramos, os ingressos do cinema que não fomos.
Eu te olho com nostalgia, com saudade de algo que me foi bom e hoje já não existe, te olho com todo o amor do mundo, todo o amor que esmago, rasgo, quebro, sufoco, tento destruir sem sucesso e, ao mesmo tempo te olho com uma ternura que nem um cachorrinho me desperta.
Hoje eu só queria saber como você está, mas não consigo te encarar, te ligar, enviar uma mensagem, também não tenho coragem de perguntar a teus amigos, por medo da resposta que posso receber, mas no fundo eu sei que com ou sem mim e minha mania de implicar com tudo o que faz, você continua radiante, sempre em frente.
Penso em te pagar um sorvete, ir ao cinema ou ao teu bar favorito, rir por horas conversando sobre aqueles clipes musicais que não entendemos o roteiro, te ver dançando e sorrindo em meio a todas aquelas pessoas as quais tu ofusca. Eu quero sentir alívio, tirar o peso das costas, ver que essa saudade que me desmonta, é na verdade uma hipérbole que uso quando você vai ao mercado. Eu sinto falta da tua risada e de ter pra quem sorrir, pelo que sorrir.
Lembro de todas as vezes que te ouvi cantar minhas músicas favoritas e de quando cantava as que eu detesto só pra me irritar, lembro que você me falava “eu te amo” e essas três palavras pareciam feitas para que você me falasse, eram nossas palavras e agora são só minhas. Lembranças… Lembranças de tudo que eu não tenho. Tua voz eu transformei em um disco velho e tento guarda-lo onde eu não mais encontre. Espalho pedaços de você por todas as partes, na tentativa de perde-los de vez, esquece-los, substitui-los por qualquer migalha de qualquer pessoa que aceite ocupar teu lugar sem saber que o vazio continuará lá, esperando teus olhos grandes.
Eu te olho com tristeza, mas não é você quem está triste, sou eu. Eu te amo com tristeza, com os olhos marejados e o pensamento inquieto, com a cerveja quente no balcão e um bloco de notas chamado memória, onde te escrevo e te escondo do mundo. Eu me olho com teus olhos.
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