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Deveria existir uma lei que lhe proibisse de sair assim, de bater a porta sem olhar pra mim. Deveria existir qualquer coisa que lhe fizesse existir mais aqui e menos lá fora.Você vai assim com os sapatos fazendo barulho no chão, leva um punhado de dinheiro e deixa tudo que eu posso te dar, me deixa na cama, no sofá, no carpete, em qualquer lugar. Você pode ficar de vez, você pode ter alguém que lhe quer bem, mas, você vai assim, sem beijo na testa, despedidas. Você vai assim e não volta pra mim se eu não lhe buscar.
A tua risada tardia rasga o silêncio é sara essa alma surrada que eu carrego, teus gemidos e suspiros fazem eu me sentir jovem, homem e não um velho viúvo de 56 anos. Os quadros da sala lembram quem já viveu comigo, sempre fui bom pai, bom marido, poderia ser bom em ser seu. Eu poderia amar você.
Você sempre sai por não poder ficar, eu sempre fico por não ter pra onde ir. Penso tudo isso quando te vejo vestir-se, levantar-se, não olhar pra trás e bater a porta devagar pra eu não acordar, você não sabe, mas eu não durmo. Eu nunca dormi com você aqui, não posso deixar-te ir sem que eu a veja. Mas, a noite eu te encontro por aí, em alguma esquina da Ribeira até aqui, te trago em silêncio e finjo não ser nada demais, finjo ser inconstante igual você, Maria.
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