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CAMPINAS, GIBRAN E GALEANO
Orlando Batista dos Santos

Bem-humorado, andando pelas ruas da bela Campinas, reflito sobre a doçura das palavras de Gibran (Khalil Gibran), quando em “O Profeta” diz:
“Quando trabalhardes, sois uma flauta através da qual o murmuro das horas se transforma em melodia.
E apegando-se ao trabalho, estareis na verdade amando a vida.
Disseram-vos que a vida é escuridão; e no vosso cansaço, repetis o que os cansados vos disseram.
E eu vos digo que a vida é realmente escuridão, exceto quando há impulso.
E todo impulso é cego, exceto quando há saber.
E todo saber é vão, exceto quando há trabalho.
E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor.
E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios, e uns aos outros, e a Deus.
O trabalho é o amor feito visível”.
Bloqueando essas reflexões, um grito ecoa na multidão:
- Óia o rapa!!!
Começa uma debandada geral. Gente correndo aflita em todas as direções. E seguem-se mais gritos, tiros, palavrões. Jacas, goiabas, laranjas, maçãs e jabuticabas rolam pelas calçadas. É preciso correr, porque “os zome” chegaram: Fiscais, policiais, jornalistas, guardas municipais, representantes do prefeito e do comércio formal. Junto aos carrioleiros, correm os paredeiros, os plaqueiros, os churrasqueiros, os doceiros, os sorveteiros, os trombadões, os rolistas, os papeiros, os artesãos...gente sem emprego que mora nas ruas, debaixo de pontes, em favelas, em ex-bairros operários, presas fáceis da contravenção, da indústria da falsificação e de todos aqueles que têm ódio ao fisco.
Sinto raiva.
Gibran acaba de abandonar-me, para a entrada de Galeano (Eduardo) e sua crônica ácida falando-me sobre os ninguéns:
“Os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, tem folclore.
Que não tem cara, tem braços.
Que não tem nome, tem número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos que as balas que os matam”.


Biografia:
Estudioso do Folclore e da Cultura Popular de raízes caipiras. Autor do livro Heróis Caipiras. http://www.clubedeautores.com.br/book/119026--HEROIS_CAIPIRAS Presidente da Associação de Produtores da Agricultura Urbana de Campinas e Região. Blog: http://aproagriup.blogspot.com.br
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