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Obediência e Sofrimento
Calvino

Por João Calvino

“Ele aprendeu a obediência” (Hb 5.8-11). O primeiro propósito dos sofrimentos de Cristo consistia em que, dessa forma, ele estaria acostumando-se à obediência. Não que ele fosse compelido a isso pela força, ou que tivesse alguma necessidade de tais práticas, da maneira como a ferocidade dos bois e cavalos é domada. Ele era plenamente disposto a prestar aquela voluntária obediência que ao Pai é devida. Ele fez isso em nosso benefício, para apresentar-nos o exemplo e o padrão de sua própria submissão mesmo em face da própria morte. Ao mesmo tempo pode-se dizer realmente que Cristo, por sua morte, aprendeu perfeitamente o que significava obedecer a Deus, já que esse era o ponto no qual ele atingiu sua maior auto-renúncia. Ele renunciou à sua própria vontade e entregou-se de tal modo ao Pai, que espontânea e voluntariamente enfrentou a morte, à qual temia tanto. Portanto, o sentido consiste em que, pela experiência de seus sofrimentos, Cristo nos ensinou até onde devemos submeter-nos e obedecer a Deus. É justo, pois, que mediante seu exemplo sejamos ensinados e preparados por todo gênero de sofrimentos e, finalmente, pela própria morte, a prestar obediência a Deus. Aliás, nossa necessidade é ainda muito maior, porque temos uma disposição rebelde e indomável, até que Deus nos convença a levar seu jugo através de aflições como essas.

Esse benefício que provém da cruz deve adocicar em nossos corações a amargura proveniente dela. O que mais se pode desejar além de nosso retorno a Deus em plena obediência? Tal coisa não pode suceder a não ser por meio da cruz. Pois em tempos de prosperidade corremos exuberantemente a rédeas soltas e, na maioria dos casos, quando nos tiram o jugo, se prorrompe em nós o desenfreamento da concupiscência de nossa carne. Mas quando nossa vontade é mantida sob repressão, de modo que procuramos agradar a Deus, então nossa obediência realmente se manifesta. A clara prova de nossa perfeita submissão, digo eu, é quando preferimos a morte, à qual Deus nos chama, ainda quando diante dela nos estremecemos, em vez da vida que naturalmente desejamos.

“E tendo sido aperfeiçoado”. O propósito último, ou mais remoto, como é assim chamado, ou seja: por que Cristo tinha que sofrer?, foi para que dessa forma fosse iniciado em seu sacerdócio. É como se o apóstolo estivesse dizendo que suportar a cruz e morrer eram para Cristo uma solene forma de consagração, indicando assim que todos os seus sofrimentos tinham a ver com nossa salvação. Daqui se deduz que eles de forma alguma denigrem sua dignidade, pelo contrário são para sua glória. Se nossa salvação nos é preciosa, com muito maior honra devemos considerar seu Autor! Esta passagem não só fala do exemplo de Cristo, mas vai além, e afirma que, por meio de sua obediência, Cristo apagou nossas transgressões. Ele tornou-se o Autor de nossa salvação, visto que se fez justo aos olhos de Deus, quando remediou a desobediência de Adão através de um ato contrário de obediência.

“Santificado” se adequa melhor ao contexto do que “aperfeiçoado”. Contudo, visto que a passagem é acerca do sacerdócio, o escritor, de forma apropriada e conveniente, menciona santificação. Cristo mesmo fala assim em outro lugar (Jo 17.19): "Em favor deles eu me santifico a mim mesmo." Daqui se faz evidente que a referência é justamente à sua natureza humana, na qual ele exerceu o ofício de Sacerdote e na qual ele sofreu.

Para quantos lhe obedecem. Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imitá-la. O apóstolo subentende que os frutos dela não vêm a qualquer um, senão somente àqueles que são obedientes. Ao dizer isso, ele nos recomenda a fé, pois nem ele nem seus benefícios se tornam nossos, a não ser à medida que os recebemos, a ele e a seus benefícios, por meio da fé. Ao mesmo tempo, o autor inseriu um termo universal – “para quantos” - para mostrar que ninguém que prove ser atento e obediente ao evangelho de Cristo é excluído desta salvação.

“Nomeado por Deus”. Como se fazia necessário que o autor desse seguimento à comparação entre Cristo e Melquisedeque, por haver dissertado sobre ela só de passagem, e para incitar a mente dos judeus a prestar mais atenção, ele agora passa a uma digressão e ao mesmo tempo retém o argumento principal.

Portanto, adiciona um prefácio para expressar que tinha muito que dizer, mas deveriam estar preparados para que não lhes dirigisse a palavra em vão. Ele os adverte, dizendo que o que tinha a lhes dizer seria duro de se ouvir, não para afugentá-los, mas para aguçar sua atenção. Como sucede que aquilo que se nos afigura fácil, geralmente nos torna lerdos, assim somos aptos a ouvir mais atentamente ao nos defrontarmos com algo que se nos afigura obscuro. Ele aponta para eles como a causa da dificuldade, não o tema. Aliás, Deus trata conosco de uma forma tão clara e isenta de ambiguidade que sua Palavra é com razão denominada de luz. Seu brilho, contudo, é ofuscado por nossas trevas. Isso sucede em parte por causa de nosso embotamento e em parte por causa de nossa leviandade. Apesar de sermos mais do que obtusos em nosso entendimento da doutrina de Deus, há ainda que adicionar a esse vício a depravação de nossas afeições. Aplicamos nossa mente mais à vaidade do que à verdade de Deus. Somos continuamente impedidos, ou por nossa rebelião, ou pelos cuidados deste mundo, ou pela luxúria de nossa carne.


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Este texto é administrado por: Silvio Dutra
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