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Procuram-se amoladores XXX
Pandora Agabo

Sentada em sua escrivaninha, lamentando-se por não conseguir manter o mesmo nível de concentração do começo do seu dever de casa, Bárbara acelerou o lápis que deslizava pelo seu caderno, respondendo qualquer coisa apenas para finalizar e poder relaxar pelo resto do seu final de semana.

Depois de guardar o caderno na mochila, Bárbara se levantou, espreguiçou-se e, preguiçosamente, foi até a sua janela para dar uma olhada na movimentação da rua.

Havia uma aglomeração de rapazes, todos seus conhecidos de infância. Crianças que se transformaram em adolescentes e que nunca perderam o hábito de passarem boa parte do tempo na rua. Se não fosse seu conflito com Butão, Bárbara provavelmente também teria preservado esse hábito... A propósito, Butão estava junto a eles, conversando numa rodinha, onde alguns estavam sentados no meio-fio, outros em pé, outros sentados em suas bicicletas e enfim.

Tomando o devido cuidado para não deixar muito evidente que havia uma pessoa os observando por trás das persianas, Bárbara escondia boa parte do seu corpo, espiando. Seus olhos passaram pelos garotos: Yuri, Lucas, Bernardo, Carlos, Quelson, Rubens, Mateus, Lorenzo. Todos estavam muito diferentes daqueles molecotes que um dia não tinham os dentes da frente; depois tiveram dentes brancos e de tamanho desproporcional as suas bocas, sendo esquisitinhos e fazendo com que Bárbara não se lembrasse de suas próprias esquisitices - como o seu cabelo constantemente bagunçado e cheios de nós.

Seus vizinhos agora eram rapazes fortes e bonitos. Alguns mais, outros menos. De qualquer maneira, um deles se destacava. Alexandre. Bárbara concordava que Butão era um apelido estúpido demais para um garoto bonito como ele, mas ela jamais se desapegaria desse chamamento. Ora, ela o chama assim há oito anos! E fazia tanto sentido quando ela tinha 6 e ele 7, ah sim! Bárbara era ligeiramente maior que Butão nessa época, o que a fazia se sentir a rainha do mundo.

— Eu sou menina e sou maior que você!

— Não é não!

— Sou sim!

— Não é não, olha só! - e ele parou ao lado dela, erguendo o queixo e querendo medir o quanto sua cabeça ultrapassava a dela.

— Para! Você ta roubando! - ela tirava suas mãos e media ela mesmo do jeito que aprendera - Viu? Eu sou maior.

— Nada a ver!

Mas essa situação não durou por muito tempo. Pode-se dizer que em questão de meses, Butão estava do tamanho de Bárbara, passado mais um ano, ele a ultrapassou um pouquinho mais e desde então a coisa só foi piorando, até que foi definitivo: Butão tornou-se um garoto alto. Não que Bárbara seja baixa, na realidade ela é uma garota mais alta que a média, mas não tinha para onde fugir, ela havia perdido essa batalha.

Butão não ficara apenas alto. Ele era um adolescente atraente, com aqueles olhos castanhos quase verdes, pele bonita para um adolescente em plena puberdade, boca rosada e sorriso infantil. Não havia quem resistisse a sua beleza... Somente Bárbara resistia. Houve um período que ela nem mesmo se tocava que ele era bonito. Quer dizer, até ele determinar que os dois não seriam mais amigos e a coisa mudou de campo. Esse distanciamento mudou a leitura de Bárbara sobre Butão e agora ela estava na sua janela, observando-o, reparando-o e imaginando em como deveria ser beijar a boca desse tal de Alexandre, que ela nem mesmo conhecia...

— Eu to brincando, cara! Eu to brincando! - Bernardo começou a gritar, afastando-se com os braços esticados, para tomar maior distanciamento.

Bárbara acordou do seu transe e passou a prestar atenção no que acontecia: Butão estava avançando em Bernardo, com aqueles olhos de maluco e com os punhos cerrados. Todos os garotos tentaram segurar Butão, mas sua força era de um touro quando estava irritado e balançando, conseguiu se soltar de todos eles.

— Velho, calma aí! - Bernardo continuava gritando, com os outros rapazes o apoiando, gritando o mesmo.

Butão errou o primeiro soco e já para garantir o próximo golpe, deu um chute na perna de Bernardo, fazendo-o cair no chão.

Houve uma nova tentativa de pará-lo antes que fosse tarde demais e três dos rapazes seguraram Butão, que ainda olhava para Bernardo, que estava caído no chão, com a mão pressionada no local chutado e se queixando de dor.

— Não Butão, na boa, sai daqui! - Yuri o expulsou.

— Não preciso de vocês não, porra! - Butão gritou, caminhando em direção a sua casa com toda a sua marra de quem um dia foi o rei da rua.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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