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Piriguete Capítulo 7
Pandora Agabo

Se tem uma coisa que me deixa de mau humor, essa coisa é acordar sem ser pela falta de sono. Então nem preciso dizer como que eu acordei quando minha consciência foi desperta só pela sensação de que eu estava sendo observada. Quando abri os olhos, lá estava ele, o Tales-corta-tesão me assistindo dormir. 

— Desculpa. - ele disse ao se levantar do chão – Eu tava te esperando acordar pra eu ir, eu…

Ignorei sua ladainha e me levantei, sentindo uma dor nas costas infernal e uma leve tonteira. 

— Eu não me lembro de muita coisa de ontem, então peço desculpas caso…
— Sh. Sh. Sh. Sh. - fiz bem rápido, passando por ele e indo até a cozinha. 

Ele me seguiu, ainda querendo me dar explicações. 

— Levei um susto quando acordei no seu quarto. Eu não me lembrava que eu tinha vindo pra sua casa e…
— Dá pra parar de falar um pouco? – disse ao me apoiar na pia. 
— Você ta bem? 
— To, eu só… - e tampei minha boca, correndo para o banheiro. 

Dada a descarga e lavado o rosto, voltei pra cozinha e ele estava sentado à mesa, me esperando, imagino. 

— Você dizia? – falei desinteressada. 
— Que eu não me lembrava que tinha vindo pra cá. 
— Tudo isso pra fingir que não se lembra que você dormiu enquanto eu procurava a camisinha pra gente transar? – sentei logo em sua frente, encostando os cotovelos na mesa e massageando minhas têmporas com os olhos fechados. 

Não sei qual foi a cara que ele fez, mas pelo silêncio, acho que o deixei constrangido.

— Porra! Desde quando eu tenho ressaca de chopp? – troquei de assunto para o alívio dele. 
— Talvez não seja de chopp. Pode ser das doses de tequila que você tomou. 
— Eu bebi tequila? – essa me pegou de surpresa. 
— Pelo visto eu não sou o único a ter me esquecido de algumas coisas da noite anterior. 

Foda-se. Eu só quero beber água e dormir na minha cama. Que horas ele vai embora?

— Você quer comer alguma coisa? – perguntei pra já ir adiantando o protocolo. 
— Não, meu estômago ta embrulhado. 
— Quer tomar um banho? Não sei…
— Não, eu… Só…

Fechei os olhos novamente e comecei a espremer a minha cabeça. Que dor de cabeça maldita! 

—… de verdade. 
— Que? – abri os olhos com muito esforço. 
— Você ta bem? 
— Não, o que você disse? Repete. 
— Ah! – ele olhou para as próprias mãos e falou sem jeito – Eu queria agradecer pelo que você, a Mari e a Gabi fizeram por mim ontem. Foi muito legal da parte de vocês terem me convidado pra ficar com vocês na mesa, eu me diverti bastante. De verdade. 
— Hum… - ergui as sobrancelhas e fechei os olhos – Fui eu que te convidei. 
— É, mas as meninas também me…
— Tudo bem, eu entendi. - e me levantei pra pegar um copo d'água – Bom, se é só isso… - detonei a água daquele copo e o joguei na pia – Espero que você não se incomode se eu voltar a dormir. 
— Não, não. Me desculpa por ficar te atrapalhando.  
— Não se sinta mal, cara. Eu to numa ressaca da porra, não é com você a parada. - tentei me redimir – Quer que eu te acompanhe até lá embaixo ou que eu chame um táxi?
— Não, eu posso ir de ônibus, ta tranquilo. Eu só… 

Ele fez uma pausa dramática. Eu juro que teria sido bem mais paciente se ela fosse feita em outro momento. 

— Vai, diz. 
— Sei lá, se eu podia pegar o seu telefone, pra gente marcar alguma coisa… - não sei se a cara que eu fiz o intimidou, mas ele já tratou de demonstrar que suas intenções eram das melhores – Da Mari e da Gabi também. Elas são bem legais. 
— Sim, sim. Claro. Anota aí. 

Depois de passado o meu telefone, ele não se demorou e se despediu, agradecendo mais uma vez e deixando com que eu dormisse pelo resto do dia. 

               ***

Eu bem que teria conseguido dormir pelo resto do dia se não fosse a minha barriga roncando que nem um caminhão de lixo. O pior é que eu ainda não havia feito as compras do mês e na maior preguiça do mundo, tive de levantar da cama e ir até o meu armário, tirar aquela camisola e vestir alguma coisa a qual eu pudesse me apresentar na rua pra comprar qualquer besteirinha na padaria. Abrindo à porta, caiu uma muda de roupas, tirei o primeiro short e a primeira blusa que vi, calcei minhas sandálias, catei minha bolsinha de dinheiro e fui. 

Eu fico um tanto abismada com o nível de infantilidade de alguns homens. Eles têm um acesso tão fácil à pornografia (nós também, antes que digam que estou nos excluindo), será que eles nunca vão se acostumar com o corpo feminino? Eu queria entender de verdade qual é o problema que eles têm com perna. Por que eles agem como que se nunca tivessem visto? Porque foi tudo que mostrei naquele momento e foi o que quase fez um grupo de carinhas me tirarem da minha rota, só porque eu estava mostrando as pernas. Entendo que pernas possam ser bonitas e eu também gosto das minhas pernas, mas porra? Eu também acho pernas masculinas um tesãozinho, nem por isso fico fazendo escândalo se um cara com as pernas malhadas passa correndo de shortinho, porque eu simplesmente não to no direito de ficar incomodando o cara só porque ele tem algo que me atrai. Não é como que se o nosso corpo fosse de domínio público e as pessoas pudessem ter licença pra nos incomodarem sempre que passamos só porque elas estão parcialmente expostos. É um absurdo isso.

Há quem diga que a solução é que nos tampemos. Agora me digam se não seria muito mais correto ensinar esses animaizinhos a se comportarem em civilização? Não, mas é claro, a culpa é sempre de quem sofre o abuso, não do abusador. Morra todo mundo também! Só quero alguma coisa doce e voltar a dormir!


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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