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Segredos Entrecortados
Tânia Du Bois

Faz sentido os homens se perderem na poeira? Pedro Du Bois responde, “... o sentido perde / a razão e o irracional / supera / o consentimento.”
     Poeira é a expressão do momento que destaca o ódio que, ao nele se perder, o homem declara que limpar a poeira é fazer faxina na palavra, na qual se reinventa e a comanda entrecortando segredos. Segundo Jorge Luis Borges, “...Transformarei em pó a história, em pó o pó. / Estou mirando o último poente. / Ouço o último pássaro. Deixo o nada a ninguém.”
     O homem ao se perder na poeira interfere nos sentidos e entrecorta o segredo, o que pode significar medo de avaliar suas fraquezas e de sentir ódio. Como em Gregório Matos, “... E querendo eu mal a quantos / me têm ódio veemente / o meu ódio é mais valente, / pois sou só, e eles são tantos.”
     Se perder na poeira é deixar o vento transformar em odioso o que está em sua volta; como passar a vida sem notar que ela desperta bons sentimentos. O ódio deixa a marca na poeira e, nos pensamentos, reprime a razão, sendo o ressentimento trazendo lembranças indesejáveis.
     O homem ao se sentir perdido na poeira fica imerso no próprio pensamento, apenas prestando atenção nos segredos entrecortados, como em Carlos Pessoa Rosa, “... Pedras sobre a ação do sol / não derretem, não formam larvas quentes a escorrer até o mar... O ódio, sim, é vulcânico, tem calor e queima.”
     Nos segredos entrecortados, o homem tem a maneira peculiar de se expressar, porque é fonte de raciocínio, mas, também apresenta dificuldades proporcionadas pelos problemas do dia a dia, em diferentes situações. Nas palavras de Vera Casanova, “... Deixa meu rastro de dor / Misturado à paisagem / Desenhando o finito no infinito...” e Álvaro de Campos, “... a emoção intensa não cabe nas palavras: tem que baixar ao grito ou subir ao canto.”
     Quando o homem está perdido na poeira, não compreende ou detecta o quanto é incapaz de amar, porque carrega o ódio como enigma a ser desvendado. O mistério entre a razão e a emoção determina o desejo e o objetivo do homem de corresponder às suas expectativas. O que pode parecer como a incógnita que vem a confirmar o enigma: o ódio entrecortando o segredo. Nas palavras de Maria de Lourdes C. Mallmann, “Não se guarda a tristeza / numa foto, num cartão. / Ela fica registrada / no fundo do coração”.
     O homem pode se transfigurar ao sentir ódio e perder a compostura ao se envolver emocionalmente. Pois, esse sentimento deixa a pessoa amarga e, às vezes, agressiva, fazendo com que dê preferência às respostas doloridas e ofensivas, como a poeira que em ventos fortes parece cortar a pele.
     Quando as palavras amargas são jogadas ao vento, entrecortam-se os segredos e identificam-se os valores que reforçam a sensação de se perder na poeira. Fenômeno incompreensível, já que o homem passa horas sem perceber que está tomado pelo ódio. Resta apenas esperar que o tempo como construção do pensamento, mostre que sua liberdade e individualidade é a forma necessária para se desligar das pressões do cotidiano, para ganhar o sentido do tempo, enquanto entrecorta os segredos. Como expressa Pedro Du Bois, “Nada valerá o amor /... nossos atos / desmentirão as palavras //... ódios estarão em nossos olhos / lutaremos uns contra os outros / os mais fortes sobreviverão // ...aumentarão o ódio expressado / e chamarão a tudo de evolução.”


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
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