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CÁFTENS LITERÁRIOS
Rubemar Costa Alves

Nova profissão.
          Minha AMIGA carioca (uma das 100) trocava cartas desde garota com um garoto que... cresceu, evidentemente. Doutor em São Paulo, mas acabou se fixando há trinta anos em Lisboa. Outro País. Carteiro chegava, ELA no trabalho, vizinhança guardava cartas que entregavam à noite. Fotos mostravam as mudanças físicas, comuns a todos os seres humanos. Não se é um eterno adolescente (“teen”, a partir de 13 anos, como dizem na terra de Tio Sam). Nunca ninguém se envolveu nem ousou pedir para ler nada, eles que só recebiam conta de luz e cobrança de crediários. “Carta é coisa de rico ou professora!”
          Existiu a Era do Rádio: novelas. Existe a Era da Televisão: outras novelas.
          Um dia ELA conheceu em outro Estado, Sudeste mesmo, um escritor de variedades – contos, crônicas, poemas, artigos – e reconheceram pensamentos e filosofias de vida totalmente afins. ELE a incentivou a escrever, mas sem a menor má fé. Do nada, surgem as melhores ideias. ELA criou um memorialista que lembrava longo período de afetuosos e-mails trocados com uma jovem, montou texto inicial e o AMIGO estimulou segundo capítulo, terceiro... até o final, décimo segundo. Temas e assuntos leves, sem aprofundamentos psicológicos. Como estilo literário, a teoria da faculdade de letras ensina, se não é conto nem romance... é novela. Bom, querer no nome dela, não queria, razões íntimas, explicou ao AMIGO e espontaneamente pediu opção – não publicar ou colocar nome textual do escritor... ELE protestou muito, foi inútil na recusa, intimado a aceitar. Tudo bem. Pouco a pouco, aconteceu uma sociedade perfeita de troca-troca de modo que, para o leitor comum, é impossível identificar as frases, os trechos de um e de outro. Espetaculares CONTOS. Um escreve, outro emenda; outro cria, um altera. Brigam o tempo todo – pazes feitas em segundos.
(Deve ser comum entre casais, ambos escritores, marido-mulher......... Ponto de vista masculino versus ponto de vista feminino. Nos romances baianos, onde JORGE, onde ZÉLIA? Qual dos dois colocou GABRIELA no alto de um telhado, imagem sensual eternizada?)
          Ah, mas ELA faz questão do nome dele e pronto!!!
          Cáftens literários? Surgiram... e muitos. Através da janela do quarto, aberta, pessoas íntimas a viam digitando horas seguidas e, curiosíssimas, perguntavam do que se tratava. Disse que eram CONTOS, teve que explicar do que se tratava, explicação rejeitada como se fosse redação escolar: odiaram. Mas sem querer (não ‘sem-querer-querendo’...) disse que o início de tudo fora uma NOVELA. Aí, os ignorantes de plantão entenderam como “novela para a televisão”. Vender os textos imediatamente!!! O que escreveu primeiro e tudo o que fez depois. E foram surgindo pedidos encapetados... Embora nem mesmo sabendo o significado de “co-autoria”, que colocasse os nomes dos (nada) amigos junto ao dela, mas avisando de antemão que não sabiam escrever coisa alguma: um pretendia comprar uma casa, outro um carro, fazer cirurgia plástica, outro viajar para......... /nenhuma noção de Paris, Roma, Atenas.../ (posso inventar locais, sem ofender ninguém?) ......... Quixeramobim-das-Águas-Paradas, chegar de carro zero ou avião: “Mostrar que saí da miséria e venci na vida.” (Terra natal? Que vida?) Por aí vai... Foi adulada de todo jeito, mas recusou elogios falsos, agradinhos, bolinhos, bombonzinhos, florzinhas, frutinhas... “Nada disso!”
        Sentiu-se quase caftenizada, se vacilasse um pouco. ELA na batalha criativa, 15%, lucro na mão dos exploradores, 85%. (Pesquisou sobre um local de sexo, descobriu essa incrível desproporção.)
          Deu fora em muita gente. “Vá vender as calcinhas da sua (censurado) m.........” Assunto esfriou, parecendo encerrado.
          Houve um último. Elogiou-a: “...muito inteligente” – ELA desconfiou de imediato... Sugeriu vender os textos e, ante a recusa, gargalhou e afirmou várias vezes: “Esse fulano é seu namorado virtual!” Foi a gota que faltava. Sentiu-se agredida, debochada, arrepio literal da cabeça aos pés. Deu respostas desagradáveis, nenhum palavrãozinho (o cara merecia muitos!), a custo o cretino calou-se.
          ELA não executou, mas mentalizou água fervente de caldeirão de bruxa caindo sobre a cabeça dele e um urubu-comedor-de-carniça completando com “batismo” bem pior...
          Dizem que praga de bruxa raivosa pega.........


                  F I M




Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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