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IDADE MÉDIA (de novo?)
O TERROR IMPLANTADO...
Rubemar Costa Alves

DEUS X DIABO é assunto velho, origem na sementinha antiga da humanidade. Desde a Bíblia, metáfora concretizada no trio Adão-Eva-Serpente, o terceiro elemento como demônio-tentação, ainda oficioso... Mais tarde, já com Jesus Cristo na área, causando-lhe agonia no Monte das Oliveiras.

          Bem mais tarde, na IDADE MÉDIA fatídica, criaram oficialmente o diabo e a filosofia monoteísta falava em satanismo, bruxarias, possessões demoníacas... de arrepiar! Quantitativamente, aconteceu muito mais no norte da Europa, na maioria países não latinos, que nas terras mediterrâneas, embora tenha ‘a posteriori’ surgido a Inquisição do Santo Ofício na Península Ibérica. Antíteses, Deus e o Diabo no mínimo funcionaram como máquinas na administração do domínio através do medo.

          O RENASCIMENTO, mundo regido pela razão, foi mercantil e falava universalmente do homem científico, a descrença exagerada no sagrado, surgiram ritos de bruxaria X decadência da Igreja, abundante e clandestina literatura anticlerical.

          E assim o diabo viajou para o Brasil junto com Cabral e o forte apetite sexual da marujada. Era a cruz da fé se opondo à nudez das nossas índias encantadoras...

          Com o passar do tempo, o Diabo conseguiu carreira como personagem central de lendas e crendices nas estórias populares. Em particular no Nordeste, a “energia” nunca vista se materializou no nível e na forma não humanos – boi, cachorro, porco, bode, pato, gato e outros com o nome genérico de “besta”, às vezes até no nível humano, pessoas encarnadas ou possuídas, em especial mulheres, em seguida crianças. Contexto típico de fazendas e criação de gado. As populações rurais, sob maior religiosidade, são sempre mais suscetíveis a acreditar... Sofrem angústias – distância, transporte, desinteresse político das esferas superiores, pouco progresso, rara diversão, pracinha ou farmácia – esta, quando existe – é até hoje o ponto de encontro das pessoas. O poeta popular (na linha secular do ‘aedo’ grego, contador de estórias) também nasceu “ali”, nos lugarejos onde a fábula do ‘folheto de feira’ pode implantar ou superar crenças, na oposição dicotômica Deus X Diabo, respectivamente o Bem X o Mal, servindo de base para obra mais erudita, como “Auto da Compadecida” (livro, filme, peça teatral, seriado televisivo), de ARIANO SUASSUNA. “Roberto do Diabo”, personagem popular desde a Normandia, século XII, se arrepende dos pecados e passa a se intitular “Roberto de Deus”... – misticismo cristão graças a intervenções sobrenaturais: sonho-aviso, objeto mágico (ramo), anjos, Virgem Maria, o próprio Jesus Cristo no ‘julgamento da alma’, teminha que ressurge em Suassuna. Na visão religiosa apocalíptica, o Diabo é o anti-cristo, senhor da situação, onde o “pecado” é usual – nestes folhetos nordestinos, crítica social sobre modernas permissividades, referente a danças, trajes minúsculos de quase nudez ou novos costumes (novos?) sexuais... Até doenças neurológicas são tidas nas crendices populares como possessões demoníacas na visão popular, Coronel Lula, epilético, assim como o seleiro mestre Zé Amaro, sintomas diversos, visão mítica do ‘lobisomem’, no romance “Fogo Morto”, de JOSÉ LINS DO REGO. O pacto fáustico é relembrado em ambiguidade fantástica por HERMILO BORBA FILHO em “Encarnação do diabo no homem”, contando a estória do “estrangeiro” (?) Gringo. Por aí, vai.

          Contemporaneamente, o diabo é fonte de lucrativa publicidade para as seitas espalhafatosas (segunda Idade Média?) que conquistam fiéis ingênuos, atribuindo os males modernos, em especial o desemprego, a separação de casais ou doenças incuráveis ao tentador-sedutor-hipnotizador Diabo - tadinho, quietinho em casa, do traje vermelho decadente passou a uma calça jeans (prefiro desconhecer o tom do azul), “velha e desbotada”, Diabo hippie ‘pós-1968’, chinelo de borracha, sofá confortável, ao lado uma gelada cervejota ou vitaminoso suco de açaí, permitindo suas divertidíssimas biografias, mesmo que fantasiosas, acompanhando o cordel proja(c)quiano moderno nas novelas televisivas.........   

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NOTA DO AUTOR:

No teórico TZVETAN TODOROV, as 3 definições na ambigüidade do fantástico: mistério, inexplicável, inadmissível.

FONTE:

“Encarnações do diabo em folhetos e obras eruditas nordestinas” – Jornal CORREIO DAS ARTES, João Pessoa, 2/8/81.

                    F I M


Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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